quinta-feira, 31 de maio de 2012

Imprensa antiga em Cajazeiras (2)

por Francisco Frassales Cartaxo
No começo deste mês escrevi acerca de jornais cajazeirenses da primeira metade do século 20. Volto ao tema, como prometi, para falar d’O Observador, que deve ter circulado pela primeira vez em maio de 1955, pois o número 3, que tenho agora em mãos, é de julho daquele ano. Se atualmente ainda existe muita dificuldade para imprimir e sustentar um jornal no interior, imagine naquele tempo! O próprio fundador e diretor, professor José Pereira de Souza, explica em nota editorial, em abril de 1956, véspera do primeiro aniversário do seu jornal:
Ora saindo em edição regular (mensal), ora em edição precária (bimensal), o fato é que O Observador teve cabal circulação em toda esta primeira etapa. Pouco importa a luta ingente sustentada contra os mais variados tropeços de que são susceptíveis as lides de imprensa interiorana, face à iminência de constantes revezes qual o problema de inevitáveis situações deficitárias.” 
Em linguagem elegante, José Pereira expõe as agruras de manter o jornal. Lamenta, em seguida, não reunir condições para oferecer alentado exemplar comemorativo do primeiro ano de existência d’O Observador. Registra agradecimentos especiais, realçando a colaboração  de duas pessoas: “Horácio Alves Cavalcanti, editor-tipógrafo a quem deve Cajazeiras a circulação, em dia, de dois periódicos locais, sem citar Lábaro, recém fundado órgão oficial da Escola Técnica de Comércio”; e Deusdedit Leitão,  que manteve a coluna “Famílias Cajazeirenses.” O outro periódico referido é o Correio do Sertão, da diocese.
Aos trancos e barrancos, O Observador circulou até o final de 1956. Foram talvez 12 números, dos quais consegui resgatar oito, um precioso testemunho do idealismo de um visionário, hoje quase esquecido, mas que deixa sua marca na história da imprensa paraibana. Literário e noticioso, o jornal exibia poucos textos assinados, amplo noticiário da Paraíba e, em particular, da região de Cajazeiras nos campos políticos, administrativo e cultural. O Observador é fonte de informação histórica até pelos anúncios de casas comerciais, a exemplo dos Armazéns São Paulo, de Francisco Rolim & Irmãos e de J. Epaminondas Braga.
José Pereira de Souza, discursando provavelmente na
inauguração do prédio da Prefeitura Municipal


Afinal, quem foi José Pereira de Souza? Segundo testemunho de Pereira Filho, seu pai nasceu em Monte Horebe, onde cuidou da roça e aprendeu a ler com enorme esforço autodidata. Casou com Maria Pereira de Souza (dona Bia) e, vindo para Cajazeiras, começou a ensinar as primeiras letras numa escolhinha que ele abriu. Mais tarde, foi também professor do Tiro de Guerra. Participou de campanha política, ao lado de Otacílio Jurema, que o indicou para o cargo de agente fiscal em Cajazeiras. Em 1958, foi transferido para a Secretaria de Finanças, em João Pessoa. Mais tarde, aposentado, foi para Brasília, onde já moravam seus filhos ao lado da mãe, exceto Erisvaldo que preferiu ficar em Cajazeiras. José Pereira morreu em Brasília em 1990, deixando dez filhos: sete homens (Erisvaldo, Sales, José Filho, Antônio, Evaldo, Eduardo e Ivaldo) e três mulheres (Dossinete, Nevinha e Márcia). Eduardo Pereira é presidente da AC 2-Brasília. Com este registro, retifico erro de fato que cometi em texto publicado no Gazeta do Alto Piranhas, nº 385, de 28/04 a 04/05/2006.


Entrevista com Chico Rolim: Ivan Bichara foi o melhor governador até hoje para Cajazeiras. O pior foi João Agripino



Sem rodeios e à vontade, Chico Rolim inicia asseverando que o ex-governador Ivan Bichara: “Foi o melhor governador até hoje para Cajazeiras, houve depois outro grande benfeitor da nossa cidade, o ex-governador Wilson Braga. O pior foi João Agripino”. Mais vamos à entrevista.
Blog: Mas quais foram as obras que justificam este seu reconhecimento ao Ivan Bichara como o melhor governador para Caja- zeiras?
Chico Rolim: Ah, dizer todas as obras de Ivan Bichara não é fácil, pois foram tantas que a gente tem que parar para pensar e você parece que está com pressa de terminar esta entrevista! Mas de pronto falo do Canal do Sangradouro do Açude Grande que resolveu o problema de inundação de muitas residências, além do seu valor urbanístico, foi muito importante esta obra. Outra obra importantíssima foi o serviço de esgoto da cidade que fez com que, quando, assumi a prefeitura encontrei a cidade parecendo um vulcão de tantos buracos que a Cagepa deixou, mas Ivan Bichara não mediu esforços para me ajudar a resolver o problema. Ah, é muita coisa!
Sim, aonde hoje é o A- tacadão do Deca, eu construí com a ajuda do Ivan Bichara quatro galpões, cada um com quatro mil m2 de área coberta com uns duzentos boxes para os feirantes. Seria o maior CEASA da Paraíba, pelo menos, à época, mas, infelizmente, apesar de praticamente concluído, o prefeito seguinte cometeu o crime de não levar o projeto adiante com o bobo ar- gumento que aquilo era muito para Cajazeiras e com a autorização da câmara de vereadores vendeu e segundo as más línguas o dinheiro arrecadado tomou rumo ignorado.
Fugindo um pouco ao as- sunto, vou te contar uma história que mostra bem o amor de Ivan Bichara pela sua cidade natal. Certa vez, num final de semana fui para o Sítio da Serra da Arara do meu sogro e fiquei sozinho e fiz uma relação de ben- feitorias que Cajazeiras pre- cisava. Fiquei tanto tempo sem dar atenção a ninguém que até a Teresa (sua esposa) reclamou da minha falta de atenção a todo mundo, é, que, como falo muito, eles estranharam o meu comportamento de quem estava fora do mundo.
Bom, em João Pessoa a- presentei a Ivan Bichara a enorme relação das ne- cessidades de Cajazeiras e ele em tom de brincadeira me disse que se ele fizesse tudo aquilo que eu estava pedindo, ia terminar na cadeia. Mas foi um excelente governador para Cajazeiras.
Sim, você falou que o Frassales falou de mim numa crônica nesta semana no Gazeta do Alto Piranhas. Verdade que Ivan Bichara fez muito, mas Cajazeiras deve muito ao seu secretário de planejamento que era o Frassales. Olha, eu corria para João Pessoa e lá encontrava um grande aliado que era o Frassales, não media esforços para me ajudar na ânsia que tinha de fazer muitas coisas em Cajazeiras. Não tinha tempo ruim e nem dificuldades para Frassales, ele adiantava as minhas solicitações com muita presteza. Cajazeiras também deve muito a ele.
Já falei muito, mas esqueci uma coisa muito importante. Se não fosse o governador Ivan Bichara eu não tinha sido eleito pela segunda vez prefeito de Cajazeiras, e Cajazeiras não teria as obras do meu último mandato de prefeito. Explico. Quando em 1969 ao fim do meu mandato de prefeito, eu, pes- soalmente, estava numa situação financeira de penúria. Meus negócios iam mal e para sair do buraco, vendi o prédio do Armazém Paulista na Rua Epifânio Sobreira e a minha casa da Rua Victor Jurema para Luís Paulo, comerciante, que vou até lembrar uma coisa. Os mais novos não sabem como naquele tempo as coisas eram diferentes. Luís Paulo não me deu um centavo em espécie, dei uma relação com os meus débitos junto a terceiros. Fui embora pro Maranhão pra recomeçar a vida comercial já que eu tinha lojas por lá. Meses depois voltei, chequei a relação de pagamentos que ele fez e só então foi providenciada a escritura de venda da casa. Não dei um recibo sequer, foi tudo na confiança.
Quase oito anos depois, o prefeito Antonio Quirino e Nias Gadelha me aparecem em São Luís insistindo para eu ser candidato a prefeito. Não quis nem conversa apesar das ponderações dos dois amigos. Mas a pressão para eu voltar era grande. Dias depois foi o próprio governador em pessoa, Ivan Bichara, que me liga me pedindo para eu ir falar com ele em João Pessoa. Foi quando aceitei ser candidato, principalmente quando ele disse: “Rolim, nós seremos dois governadores de Cajazeiras!
Blog: Bom, pra terminar porque João Agripino foi o pior governador para Cajazeiras?
Chico Rolim: Olha vou ter aproveitar e falar de outra coisa boa que Ivan Bichara trouxe pra a gente que foi a agência do Banco do Estado, já João Agripino agiu exatamente o contrário. Quando ele assumiu o governo já estava criada a instalação de uma agência do banco para Cajazeiras, isso logo no início do governo, e ele mudou para Catolé do Rocha que era a sua cidade natal.
João Agripino deve a sua eleição de governador totalmente a Cajazeiras, onde ele teve uma maioria de 3083 votos enquanto no estado foi de 2926 votos, ou seja, sem a votação de Cajazeiras o governador teria sido Rui Carneiro. Isso rendeu muito, fui acusado de ter desviado dinheiro da prefeitura pra campanha de João, mas como é uma história comprida, deixo pra outro dia.
Aí veio aquela história de “Cajazeiras minha noiva” que noiva coisa nenhuma! Ele não fez quase nada por Cajazeiras. Assim ligei-ramente só me lembro do canal que ele fez dentro da área do Colégio das Freiras, e a maternidade do hospital, mas é tão pouca coisa para cinco anos de governo.
Como governador, João Agripino era comigo, e claro para Cajazeiras, igual a uma cobra, tudo que eu pedia ele balançava a cabeça para as laterais, dizendo “não”; uma vez, brincando com ele, eu o disse que ele deveria ser como lagartixa, que balança a cabeça pra cima e pra baixo dizendo “sim” (risos).
Bom eu me cansei de ir ao Palácio, o homem era uma cobra só dizendo não, me cansei e não fui mais.
Vou aproveitar agora até para fazer uma ressalva a um assunto que o Zé Antonio escreveu no seu jornal (a crônica “Em Cajazeiras, qual seria a grande obra de Ricardo Coutinho?” de 29/07/2011), vou falar  no assunto até porque o Zé An- tonio é o historiador de Cajazeiras e sabe muito e escreve muito e que é muito importante para nós. Mas ele cometeu um erro quando escreveu uma história que aconteceu lá em casa quando João Agripino me fez uma visita.
Como eu falava não fui mais ao Palácio e certo dia vem Wilson Braga que era deputado federal e João Agripino a Cajazeiras. Como eu não vinha satisfeito com o governador “cobra” não fui ao aeroporto recepcioná-los. Ao chegarem foram direto para o Colégio Estadual, de lá Wilson me ligou avisando que o governador estava em Cajazeiras e que ele estava me esperando. Falei que não iria se ele quisesse conversar comigo que viesse até a minha casa onde eu estava convalescendo de uma hepatite que tinha me acometido. Na verdade tinha chegado neste dia do Sítio Serra da Arara onde tinha me recolhido há mais de mês, cuidando da doença, foi nesse tempo que sem fazer nada, engordei e fiquei com os 75 quilos que tenho até hoje.
De lá foram à Maternidade do Hospital Regional e Wilson torna a me ligar e eu repeti a mesma história. Wilson me disse “Chico venha aqui o homem é o governador do estado!”. E eu respondi se ele era o governador do estado, eu era o governador da cidade, portanto, que eles me viessem até a minha casa.
Bom, não teve jeito, vieram até a minha casa na Rua Victor Jurema, no meu quarto onde eu estava cuidando da doença.
- Chico, você nunca mais foi ao Palácio!, disse o Wilson provocando.
Respondi que não fui mais por tinha me cansado de ir e não ser atendido. E Wilson provocando e João Agripino calado. Ele era objetivo e, portanto, de pouca conversa, calado, esticando as pregas do queixo, quando se meteu na conversa:
- Essa conversa de vocês não me interessa muito. Chico, você vai ou não a- poiar Epitácio para prefeito?
E começou este diálogo:
- Eu nunca falei que não iria apoiar Epitácio, meu primo e amigo. Agora não vou fazer campanha, pois estou sem dinheiro para gastar com ele, não posso fazer o que fiz na sua campanha que gastei o meu dinheiro e agora não tenho.
- Isso não é problema. Dr. Ginete arruma cinco milhões, Romualdo Rolim e Otacílio Campos arrumam mais dez milhões...
- Governador, basta os cinco milhões do Dr. Ginete, se precisar mais eu lhe procuro.
- Bom, posso mandar Wilson anunciar um comício hoje à noite com as nossas presenças e a do Epitácio?
- Perfeitamente, com dinheiro tudo bem!
O comício foi na Praça Camilo de Holanda, mas era tanta gente, olha. tinha gente de lá até no posto que era de Antonio da Bomba, hoje de Zé Cavalcante. Um mar de gente!
Eu até vou parar um pouco a história pra contar outra da Teresa (esposa). Tua mãe estava no meio do povo quando ouviu três moças conversando, uma delas comentou: “Vixe, como ele voltou bonito!” e rindo Teresa me disse que não tinha tacado a mão no pé do ouvido da moça porque estava na política, mas o sangue subiu pra a cabeça dela.
Voltando à história, quando terminou, seguimos a pé em passeata, aí pude ver melhor a quantidade de gente, nós já íamos em frente à igreja dos crentes da Rua Padre José Tomás e ainda vinha gente dobrando o canto do sinal da Camilo de Holanda, não era muita gente? Foi quando João Agripino se virou para mim e disse:
- Chico, você tem prestígio, mesmo!
Respondi, brincando que não! E expliquei que aquele povo todo veio pro comício para ver a cara do “papa-figo”.
É que a minha hepatite tinha causado um rebuliço da- nado. Os adversários espalharam que eu, devido a doença, tinha virado um papa-figo e para que eu ficasse curado, tinha que be- ber sangue de crianças, o pâ- nico foi tão grande que chegou o ponto que as mães assustadas, principalmente na zona rural, não deixassem os seus filhos sozinhos com medo de serem pegos pelos caçadores de meninos. Esta história eu contei há muitos anos no meu livro autobiográfico “Do Miolo do Sertão”. (páginas 207 a 211, nota do blog).
Também João Agripino deixou Cajazeiras perder a linha de avião da Varig que vinha de Recife até São Luís, via Cajazeiras, por não asfaltar a pista. Outra con- versa fiada foi que ele construiu o Colégio Estadual, até na placa da inauguração não botaram nem meu nome e nem do Governador Pedro Gondim, os verdadeiros cons- trutores do colégio, tá lá todo mundo por ir lá ver. Foi outra obra que deixei quase pronta com a ajuda do Governador Pedro Gondim, mas só foi inaugurada no governo do João Agripino
Finalizando de vez por todas, posso dizer que para o estado João Agripino foi bom, dei- xou obras importantes que fez a Paraíba adiantar alguns anos de progresso, mas a Ca- jazeiras ainda hoje ele deve o que prometeu e não cum- priu. 
Estes são os fatos. Um abraço a todos os paraibanos e em especial aos cajazeirenses que tiveram a paciência de me acompanhar até o final desta entrevista.
Obs. as fotos são meramente ilustrativas, aproveitadas de uma outra entrevista dada ao programa Trem das Onze da Rádio Alto Piranhas.

domingo, 27 de maio de 2012