sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Chico Rolim e seus 90 anos

 Por Francisco Frassales Cartaxo
No próximo dia 6 Francisco Matias Rolim será alvo de homenagens ao completar 90 anos de idade. Muito justo. Quase um século de calmaria? Que nada. Uma vida cheia de altos e baixos, de idas e vindas, no plano comercial, político, emocional e familiar. Quem o conhece de perto ou acompanha sua trajetória me dará razão. Os que não o conhecem, mas passaram a vista no “Miolo do Sertão: A história de Chico Rolim contada a Sebastião Moreira Duarte” têm uma ideia da sinuosidade dos caminhos percorridos por esse matuto do Olho d’Água do Melão. Embora nesta última hipótese, a biografia assuma forma narrativa impregnada do viés literário do autor. Pouco importa. O matuto foi um vencedor.
É bem verdade que Chico se arrependeu de ter contribuído para algumas lutas vitoriosas. Empolgado com sua estreia na “sociedade” cajazeirense, Chico Rolim engrossou a corrente formada nos meados do século 20 para construir a sede do Cajazeiras Tênis Clube, justo no local da casa onde se originou a cidade. E não era uma casa qualquer. Nela estavam as marcas da mãe do padre Rolim. Para destruí-la inventaram um falso dilema: tradição versus progresso. Quem era contra a derrubada da casa pioneira representava o atraso. Os defensores de sua destruição fizeram-se paladinos do progresso. Afinal, tratava-se de uma casa velha... e pobre. O clube da elite seria novo e moderno e rico.
Puro veneno. A falsa opção serviu para encobrir idiossincrasias e, de certa maneira, fustigar a Igreja. Casa e igreja sendo parte da mesma vertente histórica. Hildebrando Assis, então jovem advogado, deputado estadual foi o mentor do crime. Aliás, de dois crimes contra a história. Primeiro, mudar o nome do Clube Oito de Maio para Cajazeiras Tênis Clube. O 8 de maio lembra o fim da Segunda Guerra Mundial, a vitória da democracia contra o nazismo, portanto, é história da humanidade. E ainda escolheram o nome de um esporte totalmente alheio aos costumes sertanejos. Que alienação! O outro crime, mais modesto, foi a “destruição de uma relíquia”, como a qualificou Chico Rolim, ao anunciar o arrependimento, 40 anos depois de praticá-lo, na condição de cúmplice de Hildebrando Assis.
Por um triz, não ocorreu um crime derivado, a morte por enfarto de Cristiano Cartaxo, que sequer teve a solidariedade de Deusdedit Leitão na tentativa de evitar a “loucura iminente”. Mais tarde, em momento infeliz, Deusdedit justificaria sua posição usando o argumento, sussurrado baixinho, de ser a casa muito modesta para a grandeza de Mãe Aninha... Coube a Chico a dignidade de proclamar bem alto seu próprio erro.
Chico Rolim teve na política uma ascensão meteórica. Vereador pelo Partido Social Democrático (PSD), em 1959, e prefeito quatro anos depois, pela legenda da União Democrática Nacional (UDN), quando venceu três concorrentes: Acácio Braga Rolim, Raimundo Ferreira, e o major Zé Leite, das Areias. Na época, estudante de direito na Bahia, em férias, no dia da chegada a Cajazeiras subi no palanque de Raimundo e lancei um slogan que provocou o maior rebu na família. Mas isso é outra história. Hoje o homenageado é Chico Rolim em seus 90 anos de atribulada vida. Homenagem justa, merecida.
P S – Li e reli esta crônica para um amigo. Ele deu uma gargalhada: bem feito, foi castigo, com menos de 50 anos o Tênis Clube envelheceu... E só resiste graças à tenacidade de Rubismar Galvão, aliás, preocupado em manter a tradição... 




quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Centenário de João Jurema

por Francisco Frassales Cartaxo
O cajazeirense João Guimarães Jurema teria completado cem anos no dia 25 de outubro passado. Filho do juiz JoaquimVictor Jurema e de Cecília Ferreira Guimarães, João Jurema estudou em Cajazeiras, Fortaleza e Recife onde concluiu o curso de direito em 1935, justo num tempo de muita efervescência política em Cajazeiras. Em 1935 houve a primeira eleição direta e secreta para prefeito, sob o controle da recém-criada Justiça Eleitoral, fruto do movimento revolucionário de 1930. Naquele pleito saiu vencedor o coronel Joaquim Matos, derrotando o médico Vital Cartaxo Rolim, filho do coronel Sabino Rolim, até então o mais poderoso e prestigiado chefe político de Cajazeiras no século 20.

A mãe de João Jurema, dona Cecília, era filha do português José Ferreira da Silva Guimarães, conhecido como Cazuza Guimarães que, sob o mando da oligarquia de Álvaro Machado, foi vereador e vice-prefeito ao lado do coronel Justino Bezerra. A Rua Coronel Guimarães lhe presta homenagem, da mesma forma que a Rua Victor Jurema. O avô materno de João Jurema era coronel político, o pai foi juiz. Pois bem, com tal ascendência e portando diploma de curso superior, numa época em que formar-se era tremendo desafio, a entrada do jovem advogado na vida pública foi inevitável. E mais, João Jurema casou em 1945 com uma neta do coronel Matos, Ilina Matos, filha de Adalgisa Matos e Aprígio Gomes de Sá.

Antes de eleger-se deputado estadual em 1947, porém, João Jurema, exerceu a profissão de advogado, presidiu o Excelsior Club por mais de um mandato e dirigiu o jornal Estado Novo, desde sua criação, em junho de 1939, até transferir a direção a Cristiano Cartaxo, em 1942 ou 1943. João Jurema concorreu à Assembleia Estadual Constituinte, em 19 de janeiro de 1947, na legenda da UDN, sendo eleito com 2.551 votos. Oitavo lugar na Paraíba e o primeiro em Cajazeiras, onde obteve mais de 1.600 votos, distante dos 904 sufrágios dados a Hildebrando Assis e dos 72 votos de Ivan Bichara Sobreira, cuja base eleitoral era Guarabira, terra de sua esposa. Aquele trio cajazeirense foi eleito na mesma eleição, fato raríssimo em nossa história política!

João Jurema teve destacada atuação como parlamentar. Vice-presidente da Assembleia, marcou presença na Comissão Constitucional como um dos relatores responsáveis pela elaboração da Constituição do Estado. Foi, todavia, seu único mandato eletivo. Com a vitória de José Américo de Almeida para governador, em 1950, ele assumiu a Secretaria das Finanças e, em 1954, foi nomeado Procurador da República, cargo que exerceu até sua aposentadoria em 1982. Nesse período foi também Procurador Eleitoral, prestando relevantes serviços no Tribunal Eleitoral da Paraíba durante 28 anos. João Jurema abraçou também o magistério, ensinando na Universidade disciplinas no campo das ciências jurídicas.

Faleceu em 11 de maio de 1995, em João Pessoa, deixando viúva Ilina Matos e os filhos Walber, Vânia, Walberto e Maria Vilma, além de vários netos. No ano de seu centenário de nascimento, familiares e amigos lhe prestam justa homenagem, como sucedeu em João Pessoa. A ela me associo com esta singela crônica, tendo na memória a lembrança guardada da infância: um cidadão, alto, sério, compenetrado, de andar macio e gestos sóbrios.



segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Cajazeiras perde forças

No inicio dos anos setenta escrevi para o jornal Tribuna da Paraíba, editado em Cajazeiras, que teve vida efêmera, uma série de artigos com o titulo “Cajazeiras, cidade do já teve”, que não agradaram o prefeito da época, o meu prezado amigo Francisco Matias Rolim, que na minha humilde opinião, foi o maior prefeito de todos os tempos de Cajazeiras e que a História Política e Administrativa, quando um dia for escrita, vai comprovar o que eu estou dizendo. Basta citar um único fato: a modernidade chega a nossa cidade através da garra e da visão deste cidadão, que ama esta cidade acima de tudo.
Naquela época nós perdíamos dois importantes equipamentos: as linhas aéreas e o trem e no setor de educação as Irmãs Dorotéias e os Padres Salesianos, que entregavam as direções dos Colégios Nossa Senhora de Lourdes e Padre Rolim fatos que considero como uma perda irreparável para o ensino de Cajazeiras. No setor comercial foi fechada a concessionária Chevrolet. Na agricultura a “praga do bicudo” acabou com a produção de algodão, nossa principal força econômica e provocou uma ruptura ainda hoje não sanada na economia do município.
Isto é passado, mas infelizmente não tem sido fácil, nem vislumbro, num futuro próximo, a construção de um debate sobre as potencialidades de nosso município. Algumas iniciativas foram tomadas, a exemplo do MAC - Movimento dos Amigos de Cajazeiras, mas os espaços de viabilidades em favor de nossas pretensões, embora exista muita boa vontade, têm sido pequenos.
As nossas autoridades não têm demonstrado decisão política, comprometimento e criatividade para reverter o fosso econômico, no sentido de diminuir as desigualdades sociais históricas e a falta de uma discussão contemporânea as aprofundam ainda mais.
Cajazeiras tem sido forte no setor de serviços, principalmente na área de educação, mas necessário se faz de entrarmos em novos nichos, mas nos tem faltado incentivos, união política, geração de envolvimento e talvez a falta de talentos e de agentes políticos com visão futurista.
Não temos feito mais do que o trivial feijão com arroz: calçar ruas, reformar praças. Não temos visto um programa arrojado de combate ao analfabetismo, principalmente entre os jovens na idade de ingressar no mercado de trabalho, porque só nesta faixa temos 10.700 analfabetos (na cidade que ensinou a Paraíba a ler?), além de uma política pública arrojada de habitação popular e de criação e geração de emprego e renda.
Esta cidade já deu um exemplo nunca visto em cidade nenhuma da Paraíba, quando todos se uniram em defesa do Curso de Medicina. Lembram que até o Presidente Lula e o Vice José Alencar receberam em seus gabinetes filhos de Cajazeiras defendendo a idéia? Lembram que numa mesma mesa, em Brasília, se sentaram deputados, senadores e o governador do estado, todos de diferentes partidos para dizer ao Ministro da Educação que queríamos o curso de medicina?
Estariam faltando: União? Envolvimento? Movimento? Contestação? Motivação? Compromisso com o povo? Homens públicos comprometidos com a cidade para que haja engajamento para novas lutas em defesa desta terra que tanto queremos bem?
Estamos perdendo forças? Basta passar os olhos sobre a nossa posição, que antes era a 5ª, e vê em que colocação está hoje em recolhimento de ICMS no estado.
Ah minha querida Cajazeiras como eu gostaria de te vê em patamares bem mais elevados
Professor José Antônio de Albuquerque

domingo, 11 de novembro de 2012

Primeira Comunhão de D. Moisés Coelho

O nosso primeiro bispo, o cajazeirense D. Móises Coelho, recebeu a primeira comunhão das mãos do Padre Inácio de Sousa Rolim, fundador da cidade de Cajazeiras.
Foi o Padre Rolim o responsável pela inclinação de D. Moisés para o mi- nistério sacerdotal, talvez uma premoni- ção da criação da futura dioceses de Cajazeiras, a seguni- da da Paraíba e uma das primeiras do interior do Nordes- te, já que em 1914, no dia 6 de fe- vereiro, São Pio X cria a nossa diocese e neste mesmo ano, no dia 6 de novembro, o Papa Bento XV, nomeia o 1º bispo de Cajazeiras, Dom Moisés Coelho, que toma posse no dia 29 de junho de 1915, na Matriz Catedral, a antiga capela de Mãe Aninha, que já havia passado por uma grande reforma no ano de 1888 e outra em 1915, quando foi instalada a diocese. Premonição ou não, não há um cristão que duvide de que a honrosa escolha se deveu ao prestígio do Padre Rolim.
Da obra “Perfil Biográfico de Dom Moisés Coelho” do Prof. Cônego Major PM Eurivaldo Caldas Tavares - 1977


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O Sábio do Norte

Pedro Nunes Filho*       

Para mim, educação é ofício quase sagrado. O ato de ensinar edifica, promove e liberta. Reveste-se de tamanha grandeza que, ensinando, o professor aprende com os próprios alunos. Sem “troca de saberes” não há aprendizagem. Infelizmente, a democratização do ensino teve como resultado acentuada queda nos índices de aprendizagem. Não estou criticando o acesso das classes populares à educação. Claro que se trata de avanço, e não, de recuo, como querem alguns, equivocadamente.
Entretanto foi a partir da democratização do ensino que o professor começou a perder status. Isso aconteceu por descuido do poder público, que aumentou o número de alunos nas escolas e não investiu o suficiente na qualificação dos docentes, nem lhes ofereceu salários dignos. Carentes de motivação, a maioria dos professores foi deixando de estudar e, hoje, padece de grande acomodação. Com o passar dos tempos, findaram sujeitando-se a salários incompatíveis com a importância da docência que exercem. Ruim para eles, pior para o Brasil.
Por outro lado, com raríssimas exceções, os governantes dos três níveis de poder continuam sem enxergar a importância de quantos dedicam suas vidas à educação. Digo isso porque, além de conhecer a baixa remuneração oferecida pelo ensino público, com frequência, leio notícias de pessoas que recebem prêmios, honrarias e medalhas, algumas delas outorgadas muito imerecidamente. Entretanto, não me recordo de ter visto algum professor ser agraciado publicamente! Querem os professores que o melhor reconhecimento seja  remuneração compatível com a atividade. Concordo, mas há outros tipos de valorização que também precisam existir para destacar o professor perante a sociedade.
Revendo a história, diferente era a atitude de D. Pedro II, em relação aos professores do Brasil. Consta que se curvava diante de qualquer mestre, fosse de crianças, de jovens ou de adultos. Mudaram os professores ou os governantes?
 No interior da Paraíba, havia um professor por quem o monarca brasileiro tinha tanta admiração, a ponto de chamá-lo O Sábio do Norte. O educador alvo desse tratamento distinto e honroso dispensado por Dom Pedro II era Inácio de Souza Rolim, ou o Padre-Mestre, como era carinhosamente chamado pelo povo nas ruas.
O Sábio do Norte nasceu em 23 de agosto de 1800, no sítio Serrote, zona rural de Cajazeiras, município localizado no alto sertão paraibano. As primeiras letras quem lhe ensinou ninguém sabe ao certo. Consta que, aos 16 anos de idade foi para o Crato estudar Latim. Seu pai chamava-se Vital Rolim. Sua mãe, Ana Francisca de Albuquerque. Para os mais íntimos, Mãe Aninha. Mulher forte, austera, caridosa, mãe da ternura, dedicada aos afazeres do lar e aos filhos, a quem transmitia fervor e idealismo.
Mãe Aninha era amiga de Bárbara de Alencar. Por isso, o adolescente Inácio teve o privilégio de ser hóspede da heroína cearense durante cinco anos, de 1816 a 1821, na Vila Real do Crato, onde estudou gramática latina. Foi nesse período que Bárbara e seus filhos, Tristão de Alencar e José Martiniano de Alencar, pai do escritor José de Alencar, envolveram-se na Insurreição Pernambucana de 1817. Por seus ideais libertários, foram presos e torturados. Livres da prisão, o entusiasmo não arrefeceu. Participaram ativamente da Confederação do Equador, em 1824.
Em 1822, Inácio Rolim ingressa no Seminário de Olinda. Ordenado, volta para sua terra natal e inicia suas atividades de educador. Humanista, civilizador, linguista e visionário, funda a Escolinha da Serraria, internato por onde passaram alunos, que brilharam como escritores, advogados, políticos e líderes religiosos destacados, a exemplo de Cícero Romão Batista, Padre Cícero, e Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, mais conhecido como Cardeal Arcoverde. Natural de Cimbres, Pernambuco, o menino Joaquim Arcoverde ilustrou-se bastante no colégio do padre Rolim. Aos 13 anos, ingressou no seminário, aos 16, seguiu para Roma, onde cursou Ciências e Letras, Filosofia e Teologia no Pontifício Colégio Pio Latino Americano.
Em 1856, a cólera morbus atacou a Paraíba, matando parcela significativa de sua população. Para evitar que o mal atingisse seus alunos, o Padre-Mestre transferiu sua escola para os sertões dos Inhamuns. Foi nessa época que, vitimado pela cólera, faleceu o pai de Irineu Joffili, um de seus alunos, que mais tarde iria notabilizar-se como advogado, historiador e geógrafo paraibano. O colégio do Padre Rolim congregava alunos dos sertões de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Piauí.
Em 1855, o governador Sigismundo Gonçalves convidou o Padre-Mestre para exercer a docência de Grego no Ginásio Pernambucano. Na época, teve sua gramática de Grego publicada por uma editora de Paris. A obra foi financiada pelo Governo de Pernambuco. Padre Rolim escrevia em diversas revistas europeias. Brilhou também como professor e reitor do Seminário de Olinda.
Como os valores da educação têm perenidade imorredoura, o Sábio do Norte nunca será esquecido. Empenhados em elevar os baixos níveis de escolarização de Pernambuco e da Paraíba, bem que os governadores Eduardo Campos e Ricardo Coutinho poderiam instituir a Medalha Paulo Freire e a Medalha Padre Rolim para, anualmente, em sessão magna, homenagearem educadores da rede pública de ensino que se destacassem por trabalho meritório nas escolas onde ensinam.

Além de salários dignos, esse gesto seria uma forma de mostrar à sociedade o quanto vale um educador.

*Advogado. Escreve aos domingos na Folha de Pernambuco.
pnunesfilho @yahoo.com.br.

domingo, 4 de novembro de 2012

Saudoso Padre Américo (biografia)

Américo Sérgio Maia, Padre, Deputado Estadual na Paraíba por várias legislaturas, nasceu em 1916, em Catolé do Rocha, filho do Capitão Sérgio Hermenegildo e Otília Idalina Maia de Vasconcelos. Faleceu em 16.04.1999.
Pesquisador da história e genealogia da Família Maia, legou às gerações futuras inestimável trabalho, composto de anotações, fotografias, documentos, etc., material que vem sendo cuidadosamente selecionado por membros da Família, para eventual publicação, o seu último desejo.
Concluiu o curso de Teologia em 1940 no Seminário Central de São Paulo/SP e Licenciatura em Filosofia na Universidade Católica de Pernambuco, em 1970. Foi Vigário da Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, em Catolé do Rocha/PB, de 1942 a 1945, e da Paróquia de Nossa Senhora da Piedade, em Cajazeiras/PB, de 1946 a 1956. Professor de Teologia, Português, Latim, História do Brasil, Psicologia, entre outros, em diversos seminários, escolas, faculdades, etc.. Chanceler da Cúria Metropolitana de Goiania/GO, de 1961 a 1962, e da Cúria Diocesana de Santo André/SP, de 1963 a 1964.
Ingressou na política em 1971, como Deputado Estadual, cargo que exerceu continuamente até 1986.
Integrou e presidiu, de 1969 a 1973, o Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica.


A festa da vitória irritou o bispo

por Francisco Frassales Cartaxo

A festa da vitória deu uma confusão tre- menda em Caja- zeiras. Calma, gente, não foi este ano, faz muito tempo. Na euforia da co- memoração da eleição de José Américo de Al- meida para governador, em 1950, as putas se juntaram às moças da sociedade. O vigário,  padre Américo Sérgio Maia, não gostou nada do que soube, assumiu as dores e lavrou veemente protesto público.
Conto como foi. José Américo, fundador da UDN em 1945, pouco tempo depois reor- ganizou na Paraíba o Partido Libertador (PL), encarregando o amigo Veloso Borges de arregimentar correr- ligionários para seu novo partido Juntou gente na Paraíba inteira. De Cajazeiras, entre muitos, ingressaram na nova sigla Ivan Bichara So- breira, os irmãos Otacílio e João Jurema, o prefeito Arsênio Araruna, Juca Bonifácio e outros admiradores cajazeirenses. Então Zé Américo se uniu ao PSD de Rui Carneiro, formando a Coligação Democrática Paraibana para enfrentar o que restou da UDN. E não era pouco: Argemiro de Figueiredo, João Agripino, os Ribeiro Coutinho, os Sátyro e outros, que se coligaram com o PR de Pereira Lira, o homem do cachimbo, amigo do presidente Gaspar Dutra.
Em Cajazeiras, a turma do PSD (Manuel Lacerda, Tota Assis, os irmãos Holanda, Acácio Braga, Eudes Cartaxo e muito mais gente) criou alma nova, e saiu a empunhar a bandeira da Coligação Democrática. Não deu outra. José Américo, pai dos pobres, salvador do Nordeste, orador ferino, venceu o pleito abraçado a Rui Carneiro. O povo de Argemiro quedou-se mais amarelo do que sua bandeira de campanha...
E a festa da vitória? Aqui passo a palavra ao Correio do Sertão (ano 2, nº 16, novembro/1950), mensário da diocese de Cajazeiras, que nessa época tinha como redator-chefe padre Américo Sérgio Maia, primo e aliado de João Agripino, que assim se expressou, sob o título “Repulsa”:
Ponto negro constituiu o baile popular da grande Festa da Vitória, em Cajazeiras, dia 5 deste mês. Em nome da democracia, dele fizeram parte as infelizes mundanas da ponta da rua!... A coisa foi tão revoltante que, apesar da vertigem do triunfo, as senhoras de bem e as moças da sociedade imediatamente se colocaram à margem da dança. Isso, porém, não basta. Deixando a salvo as considerações político-partidárias, aqui está o Correio do Sertão, devidamente autorizado pelo Sr. Bispo diocesano, para gritar bem alto um protesto, uma maldição contra essa democracia que perdeu a noção da profilaxia social, que renegou a nobreza de nossa vocação cristã para chafurdar na lama da imoralidade. Se democracia é rebaixamento moral, de bom grado renunciaremos a ela. Se democracia é cabaretização das famílias e da sociedade, que desapareça do Brasil cristão. Será que os responsáveis por esse ultrajante acontecimento pensam que o governador José Américo se julgará honrado com o afeto aviltante dessas pobres desviadas, que são ao mesmo tempo as vítimas e as provocadoras da corrupção social? Será que a presença das mundanas derrama luz e fulgor sobre a grande vitória do novo governador?




sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O Dia de Finados na minha infância!

O Dia de Finados é o dia da celebração da vida eterna das pessoas queridas, portanto, um dia de oração pelos entes queridos que partiram para a eternidade. Isto para os adultos, para a meninada era um dia de muita animação, juntar a cera derretida das velas acesas e fazer uma bola de cera, quem conseguisse fazer a maior era invejado pelos outros. Seu Tinino, um negro alto e magro, neste dia não levava a sua carrocinha encarnada, com portinholas de vidro e com a sua buzina (gritando TININO!) para frente do Cine Éden, mais lucrativo era a porta do cemitério, onde estava reunida a maior parte da criançada da cidade, ó carrocinha apetitosa com chicletes Ping-Pong, amendoim torrado, balas juquinha e pipoca. Havia outros concorrentes como o seu Clarindo da carrocinha de picolé da Walmor, o de coco era o preferido. O rapaz com a sua tábua de pirulito. Mais outro com algodão-doce, a velhinha vendendo rolete de cana, e outros que me fogem à memória.
Os pais para se livrarem da chatice dos filhos eram mãos-abertas e a fartura corria solta.
Mas no meio desta algazarra toda, a meninada não se esquecia de ir várias vezes ao túmulo da menina da serpente (ver foto). Há a lenda de que esta menina morreu por ter dado língua para a mãe e, como castigo divino, tinha virado uma serpente. O medo maior era que o túmulo se rachasse e a serpente soltasse alguma escama... pronto... o mundo se acabaria. Era tão verdadeiro que se podia escutar o barulho da serpente se mexendo, bastava encostar o ouvido no teto do túmulo e ouvia uns ruídos (semelhante àquele produzido pelos búzios) e saía correndo, tanto que batia o pé na bunda. 



Foto: Eduardo Pereira
Esta lenda é tão forte na nossa cidade que se fez uma recordação durante o desfile cívico deste ano da Cidade de Cajazeiras (22 de agosto)

Um sepulcro histórico.


Já que no mês de novembro, os mortos são homenageados, chorados e reverenciados e que o perfil desta edição é de um coveiro, o Retrovisor mostra o sepultamento de um membro da família do Coronel Justino Bezerra, ocorrido no início do século passado, no imponente jazigo da família, no Cemitério Coração de Maria. Segundo os descendentes do Coronel, o mármore utilizado no túmulo veio da Itália até o porto de Recife e trazido em lombo de burro até Cajazeiras. Do acervo de Leopoldo Bezerra.
Fonte: Revista Oba


Hoje o túmulo da família do Coronel Justino Bezerra, já não é mais isolado, está espremido por muitos outros devido à superlotação do cemitério.