sábado, 24 de maio de 2014
domingo, 4 de maio de 2014
sexta-feira, 2 de maio de 2014
OS GRITOS NO CEMITÉRIO VELHO DE CAJAZEIRAS*
No
início do século passado, por volta da década de 30 e de 40, existia ao lado do
Cemitério Coração de Maria, o conhecido “Cemitério Velho”, uma rua onde
funcionavam os bordéis da cidade. Ironicamente, o nome popular que essa rua
ganhou foi o de “Rua dos Cabarés”. Era um lugar onde alguns homens da sociedade
cajazeirense e região da época se refugiavam, em busca de aventuras românticas
fora do cotidiano do matrimônio.
O
fato é que, em determinada ocasião, barulhos oriundos do interior do cemitério
começavam a in- comodar a clientela que visitava aquele local. Barulhos estes que
se sucederam por mais de uma semana seguida, sempre com o som de lamentos.
Convoquem a “volante”! Sem esperar que se tratasse a primeira vista de coisa do
outro mundo, os habitantes do lugar exigiram que a força policial da época,
desse uma batida rigorosa naquele lugar, e que surpreendesse os prováveis
engraçadinhos que estavam proporcionando aquele tipo de travessura.
Pois bem, o
fato é que, cerca de dez “cabras” municiados de rifles, tochas, candeeiros e
lampiões, partiram para o interior do famoso local de sepulturas. Nessa época,
o cemitério já contava com bastante “catacumbas” construídas, e era necessária
uma apuração minuciosa. Foi o que foi feito, mas o mais surpreendente é que,
nenhum meliante foi encontrado dentro do referido local.
Pensando que
os autores dos gritos tinham foragido quando viram a patrulha nos arredores do
cemitério, cujas ruas ainda não eram calçadas e a lama tomava de conta até a
canela nos períodos invernosos, os soldados saíram do lugar relatando que nada
haviam encontrado. Pois bem, foi só a volante deixar o lugar e os gritos
voltaram novamente. Intrigados, os clientes e as raparigas chamaram novamente a
patrulha, e para que se certificassem que os autores da brincadeira sem graça
fossem encontrados e presos, outros homens decidiram entrar junto da patrulha
ao velho cemitério.
Resultado,
mais uma vez, ninguém foi encontrado. A solução foi deixar alguns policiais
tomando de conta do lugar, escondidos, só esperando que alguém desse uma de
gaiato e fosse apanhado com a “boca na botija”.
Como
os barulhos cessaram, os policiais resolveram que seria mais interessante
es- perar um outro dia para surpreenderem o autor ou os autores de tamanho
rebuliço. O fato é que, no dia se-
guinte, os barulhos em forma de gemidos e lamentos voltaram a soar de dentro do velho fossário, o que intrigava ainda mais as pessoas que frequentavam a região ao lado. Como a iluminação era precária, resolveram fazer várias fogueiras em volta e sitiar aquele campo santo, pois muitos indagavam que, se ficassem ali, com certeza veriam alguém fugir de dentro do cemitério.
guinte, os barulhos em forma de gemidos e lamentos voltaram a soar de dentro do velho fossário, o que intrigava ainda mais as pessoas que frequentavam a região ao lado. Como a iluminação era precária, resolveram fazer várias fogueiras em volta e sitiar aquele campo santo, pois muitos indagavam que, se ficassem ali, com certeza veriam alguém fugir de dentro do cemitério.
Pois bem, o
cerco foi feito, várias fogueiras foram acesas, alguns patrulheiros e civis,
armados com fuzis, estacas, foices e peixeiras, ficaram do lado de fora,
esperando pegar os “cometedores” de tamanho sacrilégio. Os gritos prosseguiram,
mesmo com aquela inquietação inteira em volta.
O
dia amanheceu e ninguém saiu de dentro do cemitério. Intrigados, parte dos
sitiadores invadiu o lugar, vasculharam tumba por tumba, verificando se havia
alguma aberta com alguém escondido lá dentro, até a capela existente no
interior do cemitério foi revirada, mas como das outras vezes, nada nem ninguém
foi encontrado. Não tinha outra resposta: O CEMITÉRIO ESTAVA MAL ASSOMBRADO. Agora não era mais necessária a “força humana”, e sim a “espiritual”. O Padre!
O pároco foi convocado para exorcizar o lugar. Relutante, o vigário afirmou que
se ali havia energias negativas, era devido existir ao lado do principal
cemitério, um grupo de estabelecimentos que serviam como casa de prostituição.
Uma
missa foi promovida no lugar para ver se os barulhos de lamento cessavam. Foi
em vão. Na mesma noite, os barulhos, dessa vez não só mais de gemidos, mas como
de pisadas forte na terra foram ouvidos. Assustados, os moradores das
redondezas deixaram suas casas e partiram a acordar o padre, já altas horas da
noite, e exigiam que este os acompanhasse para encontrar a alma penada e
fazê-la descansar em paz. Nada foi encontrado. Convoquem o Bispo! Foi chamado o
Bispo direto da Diocese, que juntamente com uma comitiva de padres chegou até o
recinto mal assombrado. Uma cerimônia foi realizada para fazer com que a alma
relutante pudesse encontrar o caminho da paz.
Não tinha
jeito. Aquela provável alma não queria abandonar o seu posto. Fechem os
bordéis! A mensagem a princípio do pároco de ali só estar mal assombrado devido
à presença de casas de prostituição soou como única solução viável para o Sr.
Bispo.
Cerrada as
portas dos cabarés, não é que os gritos e gemidos pararam! Foi uma vitória
provisória da Diocese. Provisória, porque, certa ocasião, uma das quengas
revoltadas com a decisão, pôs fim a sua própria vida. Ela foi enterrada no
velho lar dos mortos, bem ao lado da ladeira colossal que hoje tem o nome de
“Ladeira do Cemitério”.
Pois bem,
depois do tresloucado gesto, os gemidos e barulhos retornaram. Benzam a cova!
Benzida a cova, os barulhos temporariamente emudeceram.
Certa
noite, um popular vinha voltando da casa de sua noiva, que ficava a algumas
léguas dos arredores da cidade. De lampião na mão e ignorando que iria passar
ao lado do cemitério e que era exatamente meia-noite, o cidadão prosseguia
tranquilamente, até que de repente, uma pessoa usando um vestido branco pulou o
muro do cemitério e saiu correndo em direção ao Grêmio Artístico. O rapaz
pensou: “Só pode ser o autor dos gritos”. Não contou outra, partiu atrás da
suposta pessoa. Mas, por mais que ele corresse, não conseguia alcançar o dito
cujo.
Ao
chegar à calçada do Grêmio, a pessoa parou e ficou estacionada na esquina. O
homem se aproximou e percebeu que um cheiro forte de carniça tomava conta do
local.
Ao
deparar com a pessoa parada na esquina, o cidadão perguntou: “Aconteceu alguma
coisa?” nada lhe foi respondido. Ele então ino- centemente tocou no ombro da
criatura, e o que se viu em seguida foi uma coisa tão medonha, que o coitado
correu por onde tinha vindo e acabou voltando para a casa da noiva, a qual
junto dos parentes ouviu o relato do pobre infeliz, que descreveu a criatura
com a pele largando do corpo, e o que aparentava ser um vestido branco, na
verdade era a mortalha.
Outras pessoas viram a tal assombração por várias vezes. Fosse dançando
em cima do telhado da capela, fosse dando voltas nos arredores do cemitério.
Alguns taxavam que seria a quenga morta que tinha voltado para reclamar o
fechamento dos cabarés. Nisso, os restos mortais dela foram exumados, e
enterrados em outro lugar. Desde esse dia, as aparições, os gritos e os
lamentos nunca mais foram vistos ou ouvidos naquele lugar.
Graduando em História pela Universidade Federal de Campina Grande - UFCG, campus de Cajazeiras (PB). Nas horas vagas me dedico a escrever crônicas, textos, poesias, artigos, redações, livros, fazer desenhos, pinturas e fotografias de pessoas típicas, Patrimônios Históricos e paisagens. Dedico este blog a todos vocês que aqui passarem. Álisson Oliveira (Orzabal Duran)