sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Eu e o velho Pita: Se botarem eu mando tirar!

  Meu último encontro com Dr. Epitácio foi no bar do Pirulito. A data não sei precisar, mas foi numa das minhas constantes idas a Cajazeiras, ainda não tinha sido descoberto, ou pelo menos não era público, o mal que le-varia o velho Pita para sempre. Quando estou em Cajazeiras fico no Bairro Sol Nascente num tugúrio, como definiu Dr. Frassales, num de seus artigos do Ga-zeta do AltoPiranhas,  a casa de Chico Rolim. Realmente muito modesta para quem foi Chico Rolim, grande empresário e político de Cajazeiras. Mas um bom refúgio!
    Mas voltando ao assunto numa das idas ao centro vejo Dr. Epitácio no Pirulito, não titubei, estaciono o carro e vou ao seu encontro. Fui recebido efusivamente. Sempre tive bom relacionamento com Dr. Epitácio, mesmo em épocas que ele estava politicamente em campo oposto à papai. Justiça seja feita, papai e Dr. Epitácio mesmo nesta situação jamais se agrediram, não era estes posicionamentos raivosos que vemos tantos nos dias de hoje.
Mas voltando ao assunto numa das idas ao centro vejo Dr. Epitácio no Pirulito, não titubei, estaciono o carro e vou ao seu encontro. Fui recebido efusivamente. Sempre tive bom relacionamento com Dr. Epitácio, mesmo em épocas que ele estava politicamente em campo oposto à papai. Justiça seja feita, papai e Dr. Epitácio mesmo nesta situação jamais se agrediram, não era estes posicionamentos raivosos que vemos tantos nos dias de hoje.
Dr. Epitácio foi nosso hóspede em São Luís. Veio com a Zarinha e foram dias ótimos conhecendo a cidade. Aconteceu um fato pitoresco, Dr. Epitácio passando pela ponte do São Francisco exclamou espantando: “Oxente, já vi de tudo na vida, mas hoje mesmo vi aqui cheio d’água e agora está seco! Para onde foi a água?”. Aqui há um fenômeno das marés que esvaziam até a altura de 7 metros no pico e é conhecida como as marés de sizígia, aliás, as de São Luís é a segunda maior do mundo. Embaixo da Ponte do São Francisco (ponte que liga o centro velho aos novos bairros da cidade) fica o Rio Anil, um fiapo de água lá embaixo, mas quando a maré enche, as águas chegam bem próximo ao vão da ponte, algo bem volumoso com mais de 1 km de extensão. Com a vazante fica somente o fiozinho de água do rio. Foi este fenômeno que causou o espanto. Sim, mas a vinda do casal não foi turismo, Dr. Epitácio vinha a missão de convencer papai a ser o seu candidato já que o mandato estava expirando. Convenceu, mas papai não obteve sucesso no pleito. Isto foi em 1988 ou 1989.
Voltando a bar do Pirulito, quando o lembrei que Cajazeiras ainda não tinha nada com o seu nome, ele retrucou:

- “Se botarem eu mando tirar!”. Senti o velho Pita ressabiado com a falta da lembrança.


                                         

Foto memória: vereador Francisco Matias Rolim discursa

     O vereador Francisco Matias Rolim discursa sob a vista do presidente da câmara de vereadores de Cajazeiras e à direita o o comandante do destacamento policial.


terça-feira, 25 de outubro de 2016

Cena da Política Cajazeirense com Frei Damião

     Pense numa cena, cuja característica assemelha-se com aquelas cenas de humor, típicas nas novelas que retratam a cultura política de pequenas cidades do interior do nordeste.
      Momento assim, cômico e engraçado pode ser visto na imagem abaixo, onde mostra a chegada ao velho aeroporto Antônio Tomás, do Governador Ronaldo Cunha Lima, do Senador Humberto Lucena, do Prefeito José Nelo Rodrigues (Zerinho) e o religioso Frei Damião de Bozzano, todos desembarcando do avião, sendo assediados, tocados, aplaudidos, carregados nos braços por uma população presente, frenética e feliz; num verdadeiro cortejo a chão batido, deslocando em passeata, com reportes de uma das emissoras de rádio local - no caso, a Rádio Alto Piranhas, em estado ufanista com flashes ao vivo do local, transmitindo os sorrisos dissimulados e os discursos infláveis das autoridades citadas durante a inauguração da Praça Cristiano Cartaxo, Posto da Operação Manzuá e pedra fundamental de uma escola pública.  
    Num cenário parecido ao que acontecia nas cidades de Sucupira e Brogodó, com políticos como Odorico Paraguaçú e Patácio, simultaneamente prefeitos das duas cidades.
Francisco Cleudimar F. de Lira 
(Blog Cajazeiras de Amor)



     Em 1993 no aniversário da cidade de Cajazeiras, o prefeito da época, José Nello Zerinho, inaugurou várias obras contando com a particiapação do então governador, Ronaldo Cunha Lima, senador Humberto Lucena e várias outras figuras do meio político. Foi um dia de muita descontração provocado por Zerinho e Ronado Cunha Lima que estavam com ótimo bom humor. 
    Tudo começou com a chegada no campo de pouso, da comitiva do governador, trazendo Frei Damião.


domingo, 23 de outubro de 2016

Foto memória: Raimundo Ferreira

     Raimundo Ferreira discursa sob a atenção do prefeito Francisco Matias Rolim e do governador Pedro Moreno Gondim 




sábado, 22 de outubro de 2016

O 7 DE SETEMBRO


Confesso: quando criança eu não gostava de desfilar nos desfiles de Sete de Setembro e Dia da Cidade pelas ruas de Cajazeiras. Era um misto de vergonha com pagar mico – palavra que não tinha esse significado à época. Já não chegava ter que cantar o hino nacional todo dia antes do início das aulas e recebendo bronca de professores porque alguns – me incluo - alunos cantavam o hino procurando ficar debaixo de árvores sombrosas, escapulindo do sol das treze horas! Era uma exigência do regime militar através da disciplina Educação Moral e Cívica.
No entanto, eu participava com o maior entusiasmo das marchas desses eventos cívicos. Desfilar pela Rua Padre Rolim, ou ficar parado em frente à prefeitura ouvindo as autoridades pelos alto-falantes – e nunca sabíamos o que elas realmente falavam em suas falações arrastadas e chatas - e recebendo bronca dos professores ou bedéis porque estávamos conversando ou dando pesqueiro, escondido, no coco dos colegas à frente, ou dando bronca e recebendo dos colegas que erravam os passos quando estávamos desfilando, fazia parte da festa. Internamente, nos pelotões em que estávamos, eram constantes as alto-broncas com os colegas: “olha pra frente, seu cara de buceta!”; “ô seu cara de cu, olha o alinhamento!”... E as respostas que se tinha de imediato eram: “vai dá o cu, seu fie de rapariga!”, “vai tomar na buceta da tua mãe, seu fresco!”... Eu não gostava de marchar, mas estava muito contente.
Ver o Tiro de Guerra desfilar também era algo inexplicável pela lente de minha infância, quando ainda não participava dos desfiles. Aqueles soldados todos uniformizados de verde, capacetes, coturnos de couro, perfilados ou marchando sincronicamente, sendo seguidos pela banda do próprio Tiro de Guerra, ouvindo o rufar das caixas e taróis e o som marcial das cornetas, era espetacular. O sol causticante era foda. Eu não gostava, mas no meu âmago, porém, estava lá muito contente.
Quem não gostava de ver aqueles pelotões estudantis desfilando pelas principais ruas de Cajazeiras, depois de mais de mês de ensaio nos colégios! Inda mais porque esses pelotões estavam entremeados por balizas, que eram aquelas meninas de shortinhos, as mais bonitas e as mais gostosas do colégio, agitando um pedaço de vara todo enfeitado, fazendo evoluções, abrindo as pernas num movimento de 180 graus. Ah, isso eu gostava, amava. O que eu não gostava era a espera e a rapidez com que as balizas passavam. Eu não gostava, mas estava muito contente.
Nessas datas cívicas de marchas tínhamos que acordar mais cedo. Minha mãe, mal abria o sol, já estava despejando a gente das redes. Eu não gostava, porém eu estava muito contente.
Então, como explicar esse troço de não gostar e estar muito contente? A questão era que, a responsável por esse meu contentamento se chamava Maria Pereira de Souza, minha mãe. Ela gostava que seus filhos fossem às ruas desfilar. Primeiro, porque, estávamos passíveis de recebermos penas no colégio, como suspensão ou diminuição nas notas, e minha mãe fazia de tudo para não sermos chamados na regulagem com o diretor. Ela não teve oportunidade de estudar em sua vida de gente de roça, por isso se desdobrava em tudo para sermos bons alunos. Sabia ler, e escrever, mas não teve formação escolar, como meu pai, que era autodidata e chegou a ser professor. Minha mãe teve que agüentar no braço a criação da reca de filhos.
Mas o entusiasmo mesmo que ela nos dava, a injeção de ânimo, vinha de outra fonte. Ela prometia para a gente, crianças, uma mesa farta no café antes de irmos pro desfile. E aí, como crianças, o olho glutão de termos à vontade, a bel-prazer: bolo de leite, bolo de ovos, bolo de chocolate, tapioca, ovos frito, pão aguado, pão carteira, pão doce, leite, suco, café, biscoito, queijo, sequilho, e outras guloseimas que a Independência do Brasil nos favorecia. Não dava para lamentarmos a degola de Tiradentes, herói do distante 21 de abril, nem os heróis do 7 de setembro, pois nesta data estávamos preocupados com o derrame culinário caseiro. Naquele momento de comilança, que se danassem os heróis da Independência do Brasil e de outras datas históricas. Em nossa visão infantil havia um contrato: vão ao desfile e tenham fartura!

Eduardo Pereira

E-mail: dudaleu1@gmail.com

Fonte: Blog da AC2B - Associação dos Cajazeirenses e Cajazeirados em Brasília - DF.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE ROMUALDO BRAGA ROLIM.

  
     Romualdo Rolim é o vereador mais antigo da História do Legislativo Cajazeirense. Foi eleito em 1947, quando da realização da primeira eleição do processo de redemocratização do Brasil. Nesta eleição foi eleito prefeito Arsênio Rolim Araruna.
     No próximo ano, no dia 12 de fevereiro de 2017, estará completando 100 anos de vida e 70 anos de seu mandato como vereador.
     Estas expressivas datas têm um significado muito especial não somente para ele e seus familiares, mas para a História de Cajazeiras.
     Este registro fotográfico é do dia 20/08/2001, na sede da Câmara Municipal de Cajazeiras, quando de uma homenagem prestada pelo Poder Legislativo mirim aos ex-vereadores, nas comemorações da Semana da Cidade.
     Vida mais longa ainda para o meu querido amigo Romualdo e vamos comemorar com muita festa o seu Centenário de vida.


terça-feira, 11 de outubro de 2016

OS CANGACEIROS E CAJAZEIRAS SITIADA

Por Nadja Claudino
28 de setembro de 1926, um menino de oito anos de idade se esconde debaixo da cama dos pais. Ele e outras crianças estão acuadas a espera do ataque do bando de cangaceiros liderados por Sabino Gomes (sub-chefe do bando de Lampião, o temível e famoso Rei do Cangaço). A cidade de Cajazeiras está em suspense à espera dos homens selvagens que viriam do mato, prometendo todo o tipo de destruição, caso não fossem obedecidas as suas exigências.
O sol quente, o calor abafado são alguns dos elementos menos perceptíveis nessa tarde de medo e ansiedade. Os homens testavam as armas, procuravam pontos estratégicos para a defesa da cidade. Na igreja, o bispo defendia sua fé, rezando, pedindo aos céus intervenção para que Nossa Senhora da Piedade protegesse a cidade, os homens, e mesmo os cangaceiros – que fossem eles embora com a graça de Deus. Os cangaceiros nas cercanias da cidade esperavam o melhor momento para atacar; o povo esperava o ataque. A cidade estava sofrendo com a espera angustiada.
O menino embaixo da cama se chamava Ivan Bichara Sobreira, que muitos anos depois escreveu um livro intitulado Carcará, romance que conta essa história acontecida em Cajazeiras, Alto Sertão da Paraíba, em uma distante tarde do mês de setembro de 1926. O romance mostra uma Cajazeiras orgulhosa da sua história, por ser uma das maiores cidades do sertão, rota de ligação da Paraíba com o Ceará, cidade símbolo da educação. Terra de famílias tradicionais como os Rolim, Albuquerque, Sobreira, Bichara. É essa cidade e são essas famílias que estão sendo ameaçadas por um grupo de cangaceiros, personagens que tanto atemorizavam a região sertaneja da década de 20 até meados de 1940, quando a morte de Corisco baniu o último dos cangaceiros.

Podemos pensar no pavor que acometia todas essas famílias, preocupadas com o destino dos seus homens e suas mulheres, caso caíssem no poder dos cangaceiros. A perversidade dos cangaceiros era altamente propagada. Os estupros de mulheres casadas e até de moças virgens, a castração dos homens, a mutilação da língua dos traidores que falavam demais, os bailes que os cangaceiros promoviam depois da vitória, fazendo as mulheres mais respeitadas da sociedade dançarem nuas na frente dos filhos e dos maridos. Verdade ou invenção eram essas as histórias que corriam de cidade em cidade. E por conta disso os homens que protegiam Cajazeiras estavam em uma guerra de vida ou morte, de glória ou de humilhação.Ivan Bichara, traduziu esses acontecimentos que marcaram tão profundamente sua infância por meio da literatura. O moço Ivan como muitos rapazes do seu tempo sai de Cajazeiras para terminar seus estudos e se forma na Faculdade de Direito do Recife. Volta à Paraíba e começa uma carreira política promissora, sendo eleito em 1946 para a Assembléia Legislativa, em 1955 se elege deputado federal e, em 1975, é escolhido pela Assembléia Legislativa governador. Ivan Bichara integrou um time seleto de políticos escritores da Paraíba, a exemplo de Ernani Satyro, José Américo de Almeida, Ronaldo Cunha Lima, dentre outros, que assumiram o governo do estado e deram importante contribuição às letras paraibanas.
O romance Carcará toma Cajazeiras como representativa de muitas cidades do interior do nordeste que foram atacadas por bando de cangaceiros. A verdade é que as cidades do interior eram desguarnecidas, os meios de comunicação eram incipientes e não conseguiam tirar do isolamento os lugarejos mais distantes. Esse era um dos fatores por que a maioria das cidades capitulava frente às investidas dos cangaceiros. Mossoró, no Rio Grande do Norte, no ano de 1927, expulsou os cangaceiros da cidade, sendo também uma das primeiras cidades a desafiar o Rei do Cangaço. Esse passado de lutas até hoje é preservado pela população mossoroense, usada como discurso histórico, político e cultural. São museus, memoriais, livros, discursos que formulam a identidade de um povo valente, que não aceitou os invasores. Em Cajazeiras, a expulsão dos cangaceiros não foi explorada dessa maneira, foi silenciada, esquecida e tem no livro de Ivan Bichara uma significativa fonte de pesquisa.
O livro traz personagens representativos do universo sertanejo. São rapazes que na época desejam migrar para os grandes centros e assim poderem dar continuidade aos seus estudos, moças casadoiras, poderosos locais como coronéis, políticos, delegados e também a gente do povo, feirantes, cantadores de viola, que se movimentam e nos prendem nas teias do enredo. O livro de Ivan Bichara é inspirado em um fato real, que ele soube narrar com enorme expressão literária, ligando seus personagens à vida de um Nordeste arcaico, recôndito, lugar de acontecimentos inusitados.
O ataque dos cangaceiros, a ansiedade, o medo das perversidades, tudo isso envolve o leitor do Carcará, fazendo com que ele também se angustie, tome amizade pelos personagens, se importe com sua vida e com o seu destino nas mãos dos cangaceiros. Ivan Bichara integra a vida com a literatura, fazendo a vida pulsar em cada parágrafo. A ansiedade do menino deu subsídios para, juntamente com a técnica literária do homem escritor, gerarem um livro que mesmo empoeirado e esquecido nas estantes das bibliotecas públicas nos remete a um passado que merece ser lembrado.