Por
Francisco Frassales Cartaxo
José Epaminondas Braga nasceu no mesmo dia, no mesmo mês, no mesmo ano em
que veio ao mundo Celso Furtado. Completaria 93 anos em 26 de julho deste ano. Nesse
dia, dez anos depois, era assassinado, aqui no Recife, o presidente João Pessoa
Cavalcanti de Al- buquerque. Coincidências, simples coincidências, mas
Epaminondas as relembrava vez por outra quando jogávamos conversa fora, em
encontros fortuitos ou programados. O último, programado, aconteceu no mês de
outubro passado, em Campina Grande, quando fui visitá-lo. O papo já andava entremeado
de pausas, de reticências, a memória traiçoeira a baralhar datas e nomes,
episódios nublados no enfado do longo caminho percorrido. Naquele dia, ele fez
questão de oferecer um café, quase almoço, supervisionado por Mércia, sua
filha, a cuidar com desvelo e carinho do pai, desempenhando assim o papel de
enfermeira e anjo.
Epaminondas era um homem preso a sua terra como poucos, embora tenha vivido
muito tempo em Campina Grande, para onde foi em busca de ampliar seus negócios
numa época de grande efervescência desenvolvimentista, a Rainha da Borborema
transformada em polo comercial com ensaio de industrialização, a verdadeira capital
econômica da Paraíba, já vestida no manto de centro de ensino regional. Epaminondas
alcançou no alto da serra o merecido sucesso empresarial e se fez líder ao assumir
formalmente o comando de entidades de classe. Nesse tempo, muita gente de raízes
sertanejas deslocou-se para Campina, os Braga entre muitos. Poucos esqueceram
suas origens. Epaminondas fazia questão de proclamá-las. E com que satisfação!
Seus olhos miúdos e vivos a sair de órbita, um brilho forte quando o assunto
era Cajazeiras. Certo dia, fizemos inveja a Tânia Bacelar. Isso mesmo, a
economista Tânia Bacelar, considerada por muitos como herdeira de Celso
Furtado, na capacidade de formular políticas públicas e estratégias regionais
de desenvolvimento.
Conto como foi. Tânia e eu fomos a Campina Grande participar de evento da
Regional Nordeste II, dos bispos católicos, ela escalada como conferencista. Lá
encontro Epaminondas, firme, garboso, de terno e gravata. Entusiasmou-se ao ser
apresentado à economista famosa, que ele conhecia apenas através da mídia. O
miolo da conversa era Cajazeiras, cada um de nós mais animado com as novidades
da terra. Tânia ali, quieta, meio espantada com aquela cena, duas gerações saltitantes,
feito pinto em xerém, a irradiar o mesmo entusiasmo. Nascida e criada na praia
de Boa Viagem, às margens do Capibaribe, Tânia é casada com um sertanejo de
Sousa, Alcindo Rufino de Araújo, que, lamentavelmente, não cultiva o hábito de
refazer as energias no calor do sertão... Daí seu espanto. Ela ficou impressionada com a vitalidade de
Epaminondas e mais do que isso, com seu interesse por temas voltados para um
futuro muito além de seus passos, ele já próximo do cimo da montanha, como
diria o poeta Cristiano Cartaxo.
Epaminondas e Celso têm o mesmo signo, mas são muito diferentes. Celso
confessou-se um cacto, talvez na lembrança de Pombal, onde nasceu. Epaminondas
em nada parecia com um cacto, expansivo, jovial, mesmo quando, tendo vencido a
barreira dos 90 anos, carecia dos cuidados diuturnos de Mércia, sua filha, mais
anjo do que enfermeira, a misturar-se agora na última imagem que guardo de seu
pai.
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