segunda-feira, 19 de março de 2012

Ivan Bichara e Cajazeiras

Por Francisco Frassales Cartaxo

Em sua coluna de 25 de outubro, no Jornal da Paraíba, Gonzaga Rodrigues deixou de lado seus temas preferidos (o cotidiano de João Pessoa, evocação de figuras e coisas do passado, literatura), para exaltar o Gazeta do Alto Piranhas pelo número comemorativo do dia do Padre Rolim, com destaque para textos do historiador Deusdedit Leitão, escritos em meados do século 20. Gonzaga elogia José Antônio e, respaldado em uma vida inteira dedicada ao jornalismo impresso, pôs em realce a lição dada por Cajazeiras à imprensa paraibana. Ele, porém, conclui sua crônica com estas palavras:
Só faltou uma referência a seu grande filho, o governador Ivan Bichara Sobreira, aluno e professor do Colégio Padre Rolim, que algum benefício, mesmo feito com discrição, deve ter levado à terra de sua vida real e das fontes literárias. Até como escritor, fez de Cajazeiras um dos mais vivos cenários”.
Os “vivos cenários” estão nos romances Joana dos Santos, Tempo de Servidão e, sobretudo, em Carcará. Vale notar, o Gazeta já homenageou Ivan Bichara em outras oportunidades, mas aproveito para relembrar, agora, algumas ações do seu governo em benefício de Cajazeiras. O destaque em matéria de obras físicas é, sem dúvida, a primeira etapa da implantação do serviço esgoto sanitário, incluindo a lagoa de decantação, e os 1.500 metros do canal do sangradouro do Açude Grande. Duas obras que exigiram elevados investimentos em virtude das características do nosso subsolo. Cito também a pavimentação da PB 393, trecho São João do Rio do Peixe-Brejo das Freiras e os 60 km da PB 400, Cajazeiras-Bonito de Santa Fé, obra que estimulou Monte Horebe a me conceder o título de cidadão daquele município. Título, aliás, que eu nunca recebi e, até suponho, o povo de lá já esqueceu... Foi nessa mesma época que o DER cuidou de pavimentar os acessos rodoviários, em particular, o que corta o Bairro dos Remédios, atualmente servindo também de pista de caminhada matinal, por falta de lugar adequado, um descaso imperdoável dos prefeitos cajazeirenses.
Recorde-se ainda a elaboração do Plano Diretor de Cajazeiras (1978), o mais consistente instrumento de disciplina urbana até hoje referenciado em reuniões do MAC e na mídia. Foram desse tempo, a construção do Centro Social Urbano (CSU), do Centro Administrativo, do quartel da Polícia Militar, do armazém da antiga Cibrazem (onde agora funciona uma indústria têxtil), além da instalação da agência do Paraiban, hoje Banco Real. Aí está uma amostra de coisas físicas, executadas ou supervisionadas pelos órgãos estaduais. Existem muitas outras ações, tangíveis e intangíveis, no campo do ensino, da agricultura, da saúde, algumas delas realizadas pela prefeitura municipal. Destas podem falar os ex-prefeitos Antônio Quirino e Chico Rolim, que seguem com boa memória para testemunhar.
Passados tantos anos, esmaecidas as paixões partidárias, é difícil não reconhecer o quanto o governo de Ivan Bichara fez pela sua terra. A delicada cobrança de Gonzaga Rodrigues, talvez mereça novas reflexões em momento mais apropriado.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Do pároco de vila a ´santo´ do Nordeste


Apesar de arrebatar multidões com seus sermões,
Pe. Cícero tirava notas baixas em oratória no seminário

Segundo relatos, uma visão de Cristo pedindo que cuidasse dos pobres determinou sua ida para Juazeiro com a família




Crato. A história de Juazeiro confunde-se com a de Padre Cícero. O então Cícero Romão Batista nasceu em 24 de março de 1844, no Crato, filho de Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência Romana. Foi batizado em 8 de abril pelo padre Manoel Joaquim Aires. Aos 7 anos, começou a estudar com o professor Rufino de Alcântara Montezuma e fez sua primeira comunhão na Matriz do Crato.


Aos 12 anos, passou a ser aluno do professor latinista padre João Marrocos Teles. Foi nessa época que fez o voto de castidade, influenciado pela leitura da vida de São Francisco de Sales, como ele próprio afirma em seu testamento.


Colégio Diocesano Padre Rolim

Seu pai, sabendo dos seus progressos nas aulas, matriculou Cícero no famoso colégio do padre Inácio de Sousa Rolim, em Cajazeiras, Paraíba. Em 1862, interrompeu seus estudos e retornou ao Crato para cuidar da sua mãe e irmãs solteiras, devido à morte inesperada do pai, vítima da cólera-morbo. A morte do pai trouxe sérias dificuldades financeiras à família. Em 1865, quando Cícero precisou ingressar no Seminário da Prainha, em Fortaleza, só conseguiu graças à ajuda de seu padrinho de crisma, o coronel Antônio Luís Alves Pequeno. No período do seminário, Cícero era considerado um aluno mediano e, apesar de anos depois arrebatar multidões com seus sermões, apresentou notas baixas em oratória e eloquência.


Professor de latim


Padre Cícero foi ordenado em 30 de novembro de 1870. Em seguida, retornou ao Crato. Enquanto o bispo não lhe dava uma paróquia para administrar, ficou a ensinar latim no Colégio Padre Ibiapina, fundado e dirigido pelo professor José Marrocos, seu primo.


No Natal de 1871, convidado pelo professor Simeão Correia de Macedo, Padre Cícero visitou pela primeira vez o povoado de Juazeiro (numa fazenda na povoação de Juazeiro, que pertencia ao Crato), e ali celebrou a Missa do Galo.


O padre visitante, de 28 anos de idade, estatura baixa, pele branca, cabelos louros, penetrantes olhos azuis e voz modulada, impressionou os habitantes do lugar. E a recíproca foi verdadeira. Por isso, decorridos alguns meses, exatamente no dia 11 de abril de 1872, lá estava ele de volta, com bagagem e família, para fixar residência definitiva no Juazeiro.


Beata Maria de Araújo

Muitos afirmam que Padre Cícero resolveu fixar morada em Juazeiro devido a um sonho (ou visão) que teve, segundo o qual ele viu Jesus Cristo e os 12 apóstolos. De repente, adentra ao local uma multidão de famintos. Cristo então falou da sua decepção com a humanidade, mas também disse estar disposto a fazer um último sacrifício para salvar o mundo. Jesus então apontou para os pobres, e ordenou: "E você, Padre Cícero, tome conta deles!". Em 1889, durante uma missa celebrada por ele, a hóstia ministrada à beata Maria de Araújo se transformou em sangue. Segundo relatos, tal fenômeno se repetiu diversas vezes durante cerca de dois anos. Rapidamente espalhou-se a notícia de que acontecera um milagre em Juazeiro.



Bispo Dom Joaquim José Vieira

A Diocese do Ceará formou uma comissão para investigar o suposto milagre. Em 13 de outubro de 1891, a comissão concluiu que não havia explicação natural para os fatos, sendo portanto um milagre. Insatisfeito com o parecer, o bispo dom Joaquim José Vieira nomeou uma nova comissão, que concluiu que não houve milagre. Favorável ao segundo parecer, dom Joaquim suspendeu as ordens de Padre Cícero e determinou enclausuramento da beata.

Em 1898, o sacerdote foi a Roma, onde conseguiu sua absolvição. Mas ao retornar a Juazeiro, a decisão foi revista e ele foi excomungado. Porém, segundo dom Fernando Panico, da Diocese de Crato, estudos apontam que a excomunhão não chegou a ser aplicada. Atualmente, ele conduz o processo de reabilitação do Padre Cícero junto ao Vaticano. Em 1977, o sacerdote foi canonizado pela Igreja Católica Apostólica Brasileira (diferente da Igreja Católica Apostólica Romana).

MILAGRE
A Igreja Matriz antiga tinha
aspecto totalmente diferente.

1889

É o ano em que ocorreu a suposta transmutação de uma hóstia em sangue, na boca da beata Maria de Araújo. O "milagre" que atraiu romeiros para Juazeiro foi combatido pela Igreja.



Antônio Vicelmo

Repórter 

sexta-feira, 2 de março de 2012

CAJAZEIRAS NA MINHA MEMÓRIA

por Pereira Filho

A minha Cajazeiras das décadas de (60/70) tinha mais ou menos cinco bairros, além do centro. São eles: Belo Horizonte (Alto Cabelão), Santa Cecília, Capoeiras e os Remédios. Praticamente quase todas as ruas eram calçadas com parale-lepípedos e isso fazia com que a temperatura mé- dia de 35 graus, se tornasse um calor muito forte. Naquele tempo não existia nenhuma rua asfaltada. Hoje, Cajazeiras tem 24 bairros.
 Naquela época, devido a não existência de violência, à vista do que é hoje, muitas pessoas dormiam com janelas abertas em de- corrência do calor e além das muriçocas, que do- minavam o clima quente à noite, tinha tam- bém o inseto Paederus irritans, conhecido como potó. Quem nunca foi mijado pelo potó? Ele sempre aparecia em períodos finais de chuva. Ele mijava mais nos braços ou no pescoço deixando nossa pele muito vermelha. Quando isso ocorria, a gente colocava pasta dental para refrescar a pele.
 Tinha ainda as tanajuras - que é uma formiga alada, e em tempos mais quentes, quando está prestes a chover, saíam de suas tocas para pegar uma brisa em árvores. Quando as tanajuras começavam a voar, nós (a garotada) corríamos atrás delas para arrancar suas bundas, onde se continha uma gordura que, por sinal, a gente comia. Ao cor- rermos atrás das tanajuras, cantávamos: “cai, cai tanajura, tua mãe tá na gordura” e muitas vezes elas caíam mesmo.
 Tinha também o inseto “Tripes”, que se reproduzia nas folhas do pé de ficus. Esse inseto era bem pequenino e preto, conhecido como “lacerdinha”. Lembro-me que na Rua Dr. Coelho tinha muitos pés de ficus e era o meu caminho obrigatório quando eu ia para o Colégio Estadual. Ao passar por baixo dos pés de ficus, as lacerdinhas atacavam se direcionando para os olhos, ocasionando uma irritação e ardência. Muitas vezes se impregnavam na camisa branca do uniforme escolar do Colégio Estadual.
A Praça do Espinho, que era próxima a rua em que eu morava, Rua Pedro Américo, também me faz lembrar do pé de baje e dos pés de castanholas. Esse pé de baje – uma frutinha pe- quena, vermelha e do- cinha, ficava na lateral do bangalô de seu Sinval do Vale. Nós, a meninada, ficávamos sentados em baixo do pé de baje jogando conversa fora e o escalava para tirar as bajes. Já em frente ao Grupo Dom Moisés Coelho, que ficava em frente a Praça do Espinho, também tinha os pés de castanholas e para tirá-las, jogávamos pedaços de paus ou pedras para derrubá-las.
 Lembro-me ainda que eu e meus irmãos pe- gávamos frutas nos muros das casas vizinhas a nossa. É claro, com autorização. No muro da casa de seu Esmerindo Cabrinha, ti- nha um pé muito grande de cajarana. Na casa de seu Bernardo Batista, tinha pés de goiabas. Já na casa de seu Zezinho Macedo, tinha pés de siriguela. No muro da casa de seu Zé Cartaxo tinha cajá. Nos fundos do Colégio Diocesano Padre Rolim tinha um plantio muito grande de pés de manga, goiaba e pinha. Tinha um ditado que dizia: “pular o muro e roubar fruta para chupar é mais gostosa”. Eu já fiz essa traquinagem no muro desse colégio.
 Em Cajazeiras tinha uma lavanderia pública, muito grande, que ficava próxima ao curtume - (comércio de couros de boi) - de Ulisses Mota, na zona sul da cidade, onde hoje está localizado o bairro Por do Sol. Esse local era numa estrada vicinal de terra aver- melhada, próximo ao Colégio Diocesano. Lá tinha muitos pés de uma frutinha que se chamava canapu. Era uma fruta bem docinha e macia. Essa planta ficava encravada junto aos pés de carrapicho. Tinha também uma plantação muito grande de avelóz que ficava nas margens da estrada. Avelóz é um látex irritante que se não tiver cuidado pode queimar a pele.