sábado, 25 de agosto de 2012

Missa em São Luís, exclusiva para cajazeirenses.

Começo da década de setenta, venho passando pela pracinha em frente à igreja da Sé, em São Luís, quando vejo, nada mais nada menos, Monsenhor Vicente de Freitas e Zeilto Trajano, bem pelo menos pareceram. Esfreguei os olhos para afastar a visagem e ela teimar em ser real. Atravesso a rua e vou ao encontro deles. “Olá, piabinha, você por aqui?”. E foi aquele encontro efusivo. Quis saber daquela inusitada visita à capital maranhense e eles me explicaram que estavam participando de encontro de radialistas que estava acontecendo na cidade e eles vinham representando a Rádio Alto Piranhas, na época de propriedade da Diocese de Cajazeiras. Quando perguntei para eles estavam indo naquele momento, ele apontou para frente em direção à Sé e me convidou para ir com eles, ele ia rezar uma missa. Fomos à Arquidiocese vizinha à Sé e até o apresentei ao seu colega padre Sidney, o pároco, que deu a devia permissão para a celebração da Eucaristia.
Não tinha ninguém na igreja devido à hora totalmente fora de prumo, em pleno meio da manhã. E lá fomos nós três, o monsenhor, Zeilto e eu à Santa Eucaristia. Além de nós? Apenas umas beatas.
Nunca tinha participado antes de uma missa tão exclusiva!


domingo, 12 de agosto de 2012

O vaso de flores

Pelos idos da década de 1960, papai, aconselhado por mamãe, resolve me dar um “emprego” no Armazém Paulista que ficava logo no começo da Rua Epifânio Sobreira, um edifício de quatro pisos que, na época, rivaliza com a velha rodoviária Antonio Ferreira, como os dois mais altos prédios de Cajazeiras. O gerente era o finado Antonio Dunga e eu fui nomeado “sub-gerente”, todavia a minha maior responsabilidade era recolher o livro de ponto às oito horas em ponto para que funcionários retardados tivesse o dia descontado.
Ganhava Cr$ 1 (um cruzeiro)! Não era pouco para uma criança e assim mesmo com os gastos de sorvetes e cinema (parque e circo eu não pagava, pois como filho do prefeito tinha acesso gratuito) ainda me sobrava dinheiro.
Chega o dia das mães, com dinheiro poderia me dar o luxo de comprar o presente sem precisar de socorro financeiro de papai. Tem orgulho maior para uma criança do que comprar o presente para sua  mãe neste dia?
Pensei com os meus botões e nada me vinha à mente, chegou sábado e não achava o presente ideal. Sábado dia de feira na cidade e, pensei, lá, certamente, encontrarei o presente. Rodei na feira e não achava nada... Panelas e potes de barro, brinquedos rústicos, literatura de cordel para todos os gostos, roupas, quase que só de chita e cáqui, chapéu de palha, e mil coisas mais, mas eu não achava o presente. Quando já desesperançado em frente á sapataria de Manoel Caiçara na Rua Juvêncio Carneiro, logo ao entrar na rua pela Praça Coração de Jesus, encontro uma velha tão gorda e baixa que mais parecia um metro cúbico de carne vendendo flores. Mas que flores? Uma lata de tinta usada revestida de papel celofane cheia de areia com flores e seus talos feitos de arame, também ambos revestidos de papel celofane.
O presente não era tão feio. Tornou-se. Na alegria de ter encontrado o presente, sai correndo para casa. Menino não anda, corre. Quando eu dobro o canto da Travessa Santa Teresinha que bem no meio, em frente à livraria do finado Horácio Alves, tinha uma fossa grande, até construída na administração municipal de papai, que ficou mais alta que o calçamento, propiciando aos mais apressados a oportunidade de tropeçar. E foi o que aconteceu comigo. Fui para um lado e a lata, oppss, o vaso de flores para outro deixando-o com várias avarias. Ah, isso não é problema, joguei a terra que foi esparramada pelo chão de volta à lata, oppss, o vaso de flores, enfiei de volta os arames, ooppss, os ramos de flores no vaso e voltei a correr para casa, era a casa nova da  Rua Victor Jurema, uma casa grande, a maior e a melhor que morei em Cajazeiras, e escondi o presente na garagem.
Dia seguinte, domingo, Dia das Mães, vou buscá-lo e entro solenemente em casa para entregá-lo à mamãe, a emoção dela foi grande, principalmente quando soube que o presente tinha sido comprado com economias do meu trabalho. Mamãe nem viu o estado deteriorado pelo acidente de percurso, ou melhor, não deixou transparecer.
Empolgado, fiz uma só exigência: “Mamãe queria lhe pedir que guardasse o presente em cima da geladeira” e assim ela fez.
Aí, está o bom da história, as visitas que apareciam lá por casa e vendo a casa toda arrumada e chique, estranhava aquela monstrengo que destoava em cima da geladeira e perguntava: “Teresa, o que aquela presepada em cima da geladeira?”. Mamãe, afobada, fazia sinal de silêncio e cochichava: “Foi o presente do dias das mães do meu filho!
E lá permaneceu por bom tempo, assustando as visitas.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Viajando com Frei Damião de Bozzano de Cajazeiras a Patos!

por Francisco Matias Rolim
Eu era prefeito interino de Cajazeiras, no mês de setembro de 1962, então assumir a prefeitura por ser presidente da Câmara Municipal e o prefeito Otacílio Jurema saiu de licença e o vice-prefeito Epitácio Leite não podia, pois tinha renunciado para fazer sua campanha de candidato a prefeito de Cachoeira dos Índios.
Eu estava na prefeitura por volta das 18 horas, quando chegou Zé Sacristão e Monsenhor Abdon Pereira me perguntando se eu poderia ceder meu carro para levar urgente Frei Damião a Patos. O carro que ele vinha do Ceará tinha pregado no Bairro dos Remédios. Prontamente acedi ao pedido. Quando falaram que ia procurar um motorista, falei que era desnecessário porque fazia questão de ir dirigindo.
Frei Damião tinha marcado para as 20 horas deste dia as Santas Missões na cidade de Patos.
Saímos imediatamente, como a estrada ainda não era pavimentada, ia numa marchinha de  60 km/hora, evidentemente íamos chegar atrasado ao compromisso de Frei Damião, pois Patos fica a quase 200 km de Cajazeiras.
Frei Damião com a voz baixinha, sotaque de estrangeiro, como sempre falava, perguntou, apontando com o dedo o velocímetro do carro e o movendo para a direita num semicírculo de cima para baixo imitando o percurso do ponteiro do velocímetro quando aumentava a velocidade do carro:
Este ponteirinho não pode vir mais pra cá”, pedindo mais velocidade.
Não conversei e apertei o pé mantendo uma velocidade de 120 a 130 km/hora, o que era uma temeridade pela condições precárias da estrada.
Íamos nos acompanhado, o Zé Sacristão, um Frade e o Francisco Estolano de saudosa memória todos em silêncio.
Foi Zé Sacristão que quebrou o silêncio perguntando a Frei Damião:
- Os amigos deste moço, apontando-me, querem que ele seja a candidato a prefeito nas próximas eleições...
Frei Damião tomou a palavra:
- Pode se candidatar que ganhar!
Foi mais uma solicitação a Deus pela minha vitória eleitoral.
Chegamos a Patos a tempo do jantar em que tivemos a honra de dividir a mesa da ceia com o Frei Damião que cumpriu no horário o seu compromisso das Santas Missões.
Sempre que nos encontramos, eu o Zé Sacristão rememoramos emocionados esta história”.