Francisco Arcanjo de Albuquerque.
Gostaria de contar a real história de meu compadre Arcanjo, mas infelizmente não me forneceram os principais dados, apesar de
solicitados por várias vezes. No entanto sabemos que seu pai possuía uma das maiores
áreas de terra da região e que a perdeu por força de uma decisão Judicial, na segunda década do século, não se sabendo a causa.
Entre 1916 e 1917 ficou viúvo, com um filho de nome Joaquim Cândido. Este se dedicou ao ensino
particular, ensinando a ler e escrever com
esmero, durante três décadas.
Contraiu segundas núpcias em 1918, vindo a falecer em agosto de 1926, deixando a viúva com dois filhos: Arcanjo, nascido em 8 de maio de 1920,
e uma irmã, nascida no ano seguinte, ambos no sítio Cochos, onde os pais moravam, perto de Engenheiro Ávidos, antigo Boqueirão de Piranhas, pequena gleba que sobrara, das terras que haviam perdido.
Na condição de órfão e arrimo de
família, o menino Francisco Arcanjo foi forçado a deixar de estudar na escola
do irmão para trabalhar na roça (baixio perto de casa) e cuidar das vaquinhas
leiteiras e algumas ovelhas, de onde conseguia o sustento de suas duas dependentes,
a mãe e a irmã. E deu conta do recado. Ao atingir a maior idade não se acanhava
de ir a Boqueirão, montado num cavalo, conduzindo uma carga de banana maçã, cultivada
e colhida por ele, para ser vendida a Antônio Gonçalves, ú- nico estabelecimento
comercial re- manescente da construção do açude. O dinheiro amealhado desse
pequeno negócio, todavia era importante para quem acreditava no futuro.
Começamos a frequentar samba
(puxado a fole) e a beber cachaça misturada com vinho jurubeba juntos, ele, meu
irmão Toinho e eu, sendo que ele não aprendeu a fazer nenhuma das duas coisas.
Lembro-me, de uma vez, quando tentava ingerir um pequeno gole da tal mistura, engasgou-se, e pelo que sei nunca mais fez nova tentativa, apesar de nossa
insistência.
Em 1944, fui convocado para servir
ao Exército. Quando voltei, em fins de 1945, o encontrei es- tabelecido, com mercearia, lá mesmo no distrito de
En- genheiro Ávidos, e casado com minha comadre Mãezinha, mulher ideal para ser sua companheira e mãe extremosa de seus doze
filhos.
Mãezinha sua esposa, sua maior amiga e única confidente |
Conheço meu compadre Arcanjo de
perto. É um homem de formação e de boa índole. É católico praticante e um
exemplo de vida á parte. Criou, educou e casou os filhos sem nuca ser precisa
erguer-lhes a voz, como nunca demonstrou guardar
ressentimentos de ninguém.
Hoje, atravessando a metade da casa setuagenária e contando com 50 anos de
comércio, mesmo aposentado, continua dando expediente no seu armazém,
habitualmente atendendo a seus inúmeros fregueses e dando instruções comerciais
aos filhos, principalmente o primogênito, professor José Antônio, formado
pela Universidade Católica de Recife, que atualmente gerencia a Rádio
Alto Piranhas, pioneira da região, adquirida por compra a Diocese, e a tradicional torrefação de café “Pedil”, também integrada ao patrimônio da família.
Francisco Arcanjo é um homem digno
de fazer parte do elenco dos citados neste livro, pela sua re- levante contribuição emprestada para o de- senvolvimento de
Cajazeiras.
Excerto da obra "Retalhos de Vida" de Pedro Lins de Oliveira, pags. 191-194
CAPÍTULO - XXII
CAPÍTULO - XXII