terça-feira, 19 de março de 2013

Seu Arcanjo no livro "Retalhos de Vidas" do cajazeirado Pedro Lins (Em 1996)

Francisco Arcanjo de Albuquerque. Gosta­ria de contar a real história de meu compadre Arcanjo, mas infelizmente não me forneceram os principais dados, apesar de solicitados por várias vezes. No entanto sabemos que seu pai possuía uma das maiores áreas de terra da re­gião e que a perdeu por força de uma decisão Judicial, na segunda década do século, não se sabendo a causa.
Entre 1916 e 1917 ficou viúvo, com um filho de nome Joaquim Cândido. Este se dedicou ao ensino particular, ensinando a ler e escrever com esmero, durante três décadas.
Segundo o filho Dr. Francisco Sales de Albuquerque
numa das idas a Cajazeiras, Frei Damião visita
seu Arcanjo e recomendou sob protesto dos filhos
que soltasse todos os passarinhos que havia em cativeiro
Contraiu segundas núpcias em 1918, vindo a falecer em agosto de 1926, deixando a viúva com dois filhos: Arcanjo, nascido em 8 de maio de 1920, e uma irmã, nascida no ano seguinte, ambos no sítio Cochos, onde os pais moravam, perto de Engenheiro Ávidos, antigo Boqueirão de Piranhas, pequena gleba que sobrara, das terras que haviam perdido.
Na condição de órfão e arrimo de família, o menino Francisco Arcanjo foi forçado a deixar de estudar na escola do irmão para trabalhar na roça (baixio perto de casa) e cuidar das va­quinhas leiteiras e algumas ovelhas, de onde conseguia o sustento de suas duas dependen­tes, a mãe e a irmã. E deu conta do recado. Ao atingir a maior idade não se acanhava de ir a Boqueirão, montado num cavalo, conduzindo uma carga de banana maçã, cultivada e colhida por ele, para ser vendida a Antônio Gonçalves, ú- nico estabelecimento comercial re- manescente da construção do açude. O dinheiro amealhado desse pequeno negócio, todavia era importante para quem acreditava no futuro.
Começamos a frequentar samba (puxado a fole) e a beber cachaça misturada com vinho jurubeba juntos, ele, meu irmão Toinho e eu, sendo que ele não aprendeu a fazer nenhuma das duas coisas. Lembro-me, de uma vez, quan­do tentava ingerir um pequeno gole da tal mis­tura, engasgou-se, e pelo que sei  nunca mais fez nova tentativa, apesar de nossa insistência.
Em 1944, fui convocado para servir ao Exército. Quando voltei, em fins de 1945, o en­contrei es- tabelecido, com mercearia, lá mesmo no distrito de En- genheiro Ávidos, e casado com minha comadre Mãezinha, mulher ideal para ser sua companheira e mãe extremosa de seus doze filhos.
Mãezinha  sua esposa, sua maior
amiga e única confidente
Parece-me que a serra de Boqueirão, final da serra de Santa Catarina, teve influência no seu destino, impedindo-lhe a visão do horizonte. De fato. LAá o sol aparece mais tarde. Isso, naturalmente, atrapalhava seus sonhos. Então resolveu transferir-se para a promissora Cajazeiras, onde transformou sua mercearia em Ar­mazém de Estivas, com vendas em grosso e a retalho, denominado de “Armazém Rio Pira­nhas”, inclusive liderou o comércio no ramo de estivas durante três décadas. Apesar das várias “trambicadas” sofridas, por pessoas inescrupulosas, não perdeu o equilíbrio, nem tampouco a calma, principalmente a confiança de- positada em Deus. Tanto assim que esses fatos, pelo que sei, nunca foram comentados nem com a pró­pria esposa - sua maior amiga e única confi­dente, de tudo que se passou, no lar e nos negó­cios, durante esses cinquenta anos de feliz união conjugal.
Conheço meu compadre Arcanjo de perto. É um homem de formação e de boa índole. É ca­tólico praticante e um exemplo de vida á parte. Criou, educou e casou os filhos sem nuca ser precisa erguer-lhes a voz, como nunca demons­trou guardar ressentimentos de ninguém.
Hoje, atravessando a metade da casa setuagenária e contando com 50 anos de comércio, mesmo aposentado, continua dando expediente no seu armazém, habitualmente atendendo a seus inúmeros fregueses e dando instruções comerciais aos filhos, principalmente o primogê­nito, professor José Antônio, formado pela Uni­versidade Católica de Recife, que atualmente gerencia a Rádio Alto Piranhas, pioneira da re­gião, adquirida por compra a Diocese, e a tra­dicional torrefação de café “Pedil”, também in­tegrada ao patrimônio da família.
Francisco Arcanjo é um homem digno de fa­zer parte do elenco dos citados neste livro, pela sua re- levante contribuição emprestada para o de- senvolvimento de Cajazeiras.
Excerto da obra "Retalhos de Vida" de Pedro Lins de Oliveira, pags. 191-194
CAPÍTULO  - XXII




segunda-feira, 18 de março de 2013

O fuzil do major Higino Rolim

Por Francisco Frassales Cartaxo
Cresci vendo um monte de rifles na casa de meu pai. Rifles e munição guardada em velho saco de estopa. Tantino gastava balas com marrecas, pato e ga- linha d’água. Os ri- fles papo-amarelo, le- ves, cano curto, fá- ceis de transportar, eram os preferidos dos cangaceiros. E o fuzil? Ao tentar usá-lo quase fui ao chão com o sopapo da coronha no ombro. Tantino gostava de experimentar o fuzil em jornadas de tiro ao alvo no sítio Prensa e outros lugares próximos a Cajazeiras.
    Essas armas foram herdadas por Cristiano Cartaxo do seu pai, o major Higino Rolim. Cada uma tinha sua história que se foi apagando da memória ao longo dos anos. Menos a história do fu- zil. Segundo meu pai, ele fora usado por Romeu Menandro da Cruz, que trabalhava na farmácia do major Higino, no dia em que Sabino Gomes atacou Cajazeiras. Romeu teria atingido um dos companheiros de Sabino, que morreria mais tarde. Meu pai sonhava em ver aquele fuzil exposto num museu de preservação de lembranças históricas. Boas ou não. O golpe de 1964, no entanto, deu ao sargento Barbosa de Carvalho autoridade suficiente para requisitar, em nome do Comando Militar, o velho fuzil F-8, quem sabe, para compor o estoque do Tiro de Guerra...
Por que o major Higino tinha essas armas? 
Coronel Sabino Rolim
Era o costume da sua época, tempo de milícias privadas, de força policial im- potente, dos coronéis donos de arsenais e de cabras arregimentáveis para a defesa de seu patrimônio material e, também, para ostentar poderio político na conquista e controle do poder local. O major Higino Gonçalves Sobreira Rolim, nascido (1852) em Lavras, integrava o Partido Liberal, chefiado em Cajazeiras pelo Comandante Vital Rolim e, mais tarde por seu filho, o coronel Sabino Rolim. O major Higino foi vereador, prefeito, deputado estadual, antes e depois de proclamada a República, tendo sido ainda promotor público, segundo Deusdedit Leitão, como decorrência de sua condição “rábula ativo afeito aos meandros das leis”.
Apesar dessa incursão na política, o major Higino se enquadra melhor na vertente intelectual da família. Filho do professor cearense Francisco Gonçalves Sobreira e Josefa Maria da Conceição, (sobrinha do padre Rolim), portanto, sobrinho-neto do padre Rolim, com quem aprendeu grego, latim, francês e passou a ensinar no famoso colégio. Em dados biográficos publicados na década de 1950, Deusdedit Leitão, referindo-se ao major Higino Rolim, afirma:
“Notabilizou-se pelos seus conhecimentos da língua grega, cuja cátedra ocupou em substituição ao Padre Rolim. Versado em literatura, não se cansava de saborear Virgílio, Horácio ou o opulento Homero que costumava recitar para deleite de seus pupilos”.
Antiga rua Higino Rolim em Cajazeiras - PB
     Recitava na sala de aula e re- ceitava na Botica! Foi o primeiro farma- cêutico prático em Cajazeiras, chance- lado por ato formal do imperador Pedro II. Por isso, o major Hi- gino era chamado de “doutor Gino”. Ou “tio doutor”, como a so- brinha (que saudade!), Marilda Sobreira, cos- tumava tratá-lo, ao recordar episódios an- tigos, vividos por seu pai, o major Epifânio Sobreira, aquele do casarão onde hoje funciona o CAPS II, ao lado da parede do Açude Grande.
Não conheci o major Higino. Ele morreu em 1931, perto de completar 79 anos. Sua lembrança, porém, sempre foi uma constante em minha vida de criança, à vista dos rifles papo-amarelo e do fuzil histórico. E de uma espada manchada de sangue. Espada? A espada fica para mais adiante.

sábado, 16 de março de 2013

RETALHO DE CAJAZEIRAS (2)

Praça Nossa Senhora de Fátima (Antiga Praça da Catedral)

Meus dois filhos mais novos em visita à Cajazeiras, posarm em 1987
em frente à Praça da Igreja N. S. de Fátima. Hoje moram em São Paulo
estudam na USP e se formam neste final de ano.
A antiga Praça da Catedral, atualmente denominada - Praça Nossa Senhora de Fátima, foi um logradouro público construído pelo então Prefeito Municipal, Professor KILDEBRANDO LEAL, no segundo ano de sua profícua administração, ou seja, em 1930.

No local daquela Praça em frente à antiga Matriz de Nossa Senhora da Piedade, que serviu de Catedral diocesana durante 42 anos, existia um vasto patamar ladrilhado com enormes tijolões de cerâmica, tendo ao fundo um imponente pedestal em alvenaria de pedra e cal encimado por um grande cruzeiro de madeira, esculpido no rodeio dos cruzeiros existentes, naquela época, em frente às igrejas, simbolizando o instrumento do suplício do Gólgota, onde o Cristo-Jesus foi crucificado, morrendo na Cruz, abrindo o Caminho da redenção dos Pecados da Humanidade.

Abaixo daquele patamar estendia-se um espaçoso largo pontilhado de pequenas ele- vações rochosas. 0 Prefeito Hil- debrando Leal, dotado de lar- ga visão administrativa, or- ganizou e executou um plano ur- banístico moderno procurando mudar e melhorar a imagem paisagística de nossa cidade. Com esse objetive e de acordo com a autoridade diocesana e o vigário da então Catedral, fez a translação do Cruzeiro para o centro do Cemitério Coração de Maria, onde ainda permanece; em seguida demoliu o antigo patamar, rebaixou o aterro, fez o desmonte das pequenas elevações rochosas que existiam no largo abaixo do patamar, aplanou o terreno e construiu novo e moderno patamar naquele local, com o piso cimentado. No largo abaixo, construiu uma pracinha ajardinada, muito bonita, edificou um imponente coreto de cimento-armado, ao centro, o qual é considerado hoje um monumento de rara beleza arquitetônica e faz parte do patrimônio histórico de nossa cidade.

Construída e inaugurada a então Praça da Catedral, hoje Praça Nossa Senhora de Fátima, aquele logra douro público passou a ser o ponto chique da cidade, o local de atração do povo, o centro das mani- festações cívico-religiosas e so- ciais da comunidade, onde se realizavam aos domingos, dias santos e feriados, alegres e con- corridas retretas, sob os a- cordes maviosos da banda de música local, com a presença elegante do mundo social cajazeirense.

Com o correr do tempo, aquela Praça, que é um retalho de Cajazeiras, ficou desusada, abandonada, despre­zada, ser- vindo apenas de reminiscência de um passado feliz.

Atualmente, a Praça Nossa Senhora de Fátima está totalmente transformada. Apre- senta-se com a fisionomia de "menina-moça" trajando uma roupagem de modelo incomum, que lhe dá um colorido de Praça ultramoderna, com um aspecto muito elegante, atraente, deixando transparecer a formosura de sua beleza.

0 Prefeito Francisco Matias Rolim, homem público dotado de uma perspicácia admirável, que o faz conhecedor de todos os problemas afetos às necessidades do povo e aos interesses do de- senvolvimento da comuna que administra, resolveu demolir aquela Praça, exceto o coreto que fica ao centro da mesma, que é um monumento histórico, e construir, naquele local, um logradouro diferente, uma Praça com "pê maiúsculo" sob processo moderno de estrutura técnica avançada, dotando-a dos re- quisitos de beleza e de encanto.


E ai está, em frente ã Matriz de Nossa Senhora de Fátima, a nova Praça; uma Praça bonita, formosa e elegante, que serve de admiração aos nossos visitantes, e ê motivo de orgulho par os cajazeirenses de boa-vontade.

Portanto, a Praça Nossa Senhora de Fátima, que é uma motivação turística de nossa terra, destaca-se como o ponto chique do centro da cidade, o melhor e o mais simpá­tico logradouro público de Cajazeiras. É, sem contestação, uma das obras mais importantes realizadas pela operosa e fecunda administração do atual Prefeito FRANCISCO MATIAS ROLIM.



sexta-feira, 15 de março de 2013

NOS TEMPOS DA AUC

As semanas universitárias realizadas em Cajazeiras ofereciam a cidade uma semana de eventos culturais, como palestras, seminários, exposições de artes, teatro, cinema, feira de artesanato, festival da canção e poesia, torneios esportivos e bailes no Cajazeiras Tênis Clube. Realizadas entre os começos dos anos 70 até o meio da década de 80, elas trouxeram à cajazeiras figurões da política paraibana e nacional a exemplo de Ronaldo Cunha Lima e Roberto Freire, todos críticos ferrenhos do regime militar e galopantes da redemocratização do país. Os universitários com suas Rolleyflexs na mão e suas ideais glauberochianas, enquadrou na cidade o debate sobre o cinema novo. Daí vieram as exibições dos filmes de artes na Biblioteca Municipal e a posterior fundação do Cine Clube Vladimir Carvalho. 
Bons tempos da AUC!
As semanas universitárias tinha um hino que agente cantava assim...
O prefeito Francisco Matias Rolim em meio aos estudantes
"Cajazeiras cidade que ensina
Não esquece a sua tradição
Anualmente realiza
Uma grande promoção
Semana universitária
É integração da Cultura, do esporte e diversão do Universitário ao homem do sertão"

Texto de Francisco Cleudimar F. de Lira, Blog Cajazeiras de Amor



sábado, 2 de março de 2013

Tudo passa…


"Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar!"
Gonçalves Dias
    Foi ontem. Mas hoje faz 44 anos que saí de Cajazeiras para São Luís do Maranhão! Tinha 15 anos quando tive, por desígnios do destino, deixar o meu torrão sagrado para enveredar por caminhos nunca antes traçados, desconhecidos, deixando sonhos juvenis para trás sem serem realizados.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor”.
Diz o poeta Fernando Pessoa. Passei além do Bojador levado pelo destino que não tinha escolhido. Neste instante, eclode na minha memória, papai comentando emocionado: “hoje em direção opostas sai de Cajazeiras, dois ex-prefeitos!”. Um era ele, para o oeste, o outro Antonio Rolim para o leste (João Pessoa).
"Inda hoje, o livro do passado abrindo, / Lembro-as e punge-me a lembrança delas"  (Olavo Bilac)
Que viagem cumprida! Não havia o abundante asfalto de hoje. A poeira e o calor eram nossos companheiros de viagens. Um caminhão e um carro de passeio. Três dias de viagens. Papai, mamãe, Dazima, eu e minhas irmãs: Anacleide e Anacélia e seu gatinho.
Teresina, ponte, Rio Parnaíba, enfim o Maranhão. O único trecho no conforto do asfalto até São Luís.
2 de março de 1969.
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena”.
Fotos lembranças:
"Laços que se desfazem
Numa partida sempre inesperada
que bom seria se esta despedida
pudesse ser eternamente adiada". 
Tahyane Rangel



Meu curriculum escolar no Colégio Padre Rolim, 1968.


Foto bem cara para mim: dando adeus a Cajazeiras, ao fundo a Estação Rodoviária (1969), note-se a urbanização por fazer.


Dando adeus às pedras do Cristo Rei.

Que dizer! Bem pungente a despedida de Cajazeiras. Nesta foto a tristeza viva da despedida!
1969: Chegando em São Luís
1970: minha primeira viagem fora do Nordeste.
1970: minha primeira internacional
1971, conclusão do curso colegial em São Luís, Colégio Universitário.
Com Anacleide colando grau: ela assistente social, eu economista (1975).
Recebendo em São Luís,  Valiomar, o irmão que não tive, na foto com a artista Lolita ?, fico devendo o nome.