domingo, 21 de maio de 2017

FORÇAS MISTERIOSAS CONSPIRAM CONTRA CAJAZEIRAS

FORÇAS MISTERIOSAS CONSPIRAM CONTRA CAJAZEIRAS
Do livro Cajazeiras, Nas Crônicas de um Mestre-Escola, pags. 99 a 101
Professor Antonio José de Sousa
Serrote do Jatobá, hoje Monte do Cristo Redentor
Esta localidade que surgiu nas matas do vale do Rio do Peixe, no extremo-oeste do sertão pa- raibano, ao sopé do serrote do Jatobá, hoje Monte do Cristo Redentor, teve sua origem com a construção do açude e a edificação da casa da fazenda Cajazeiras sob a administração do seu proprietário VITAL DE SOUSA ROLIM.
Casa Mãe Aninha
No local da primitiva casa da fazenda Cajazeiras, à margem do açude, onde está edificado hoje o mais elegante clube da sociedade local, nasceu a cidade que ensinou a Paraíba a ler. De simples fazenda chegou a ser elevada a povoação, vila e cidade, graças ao rápido desenvolvimento de seu progresso, mo- tivado pela presença da as- sistência espiritual e educacional, que lhe fora proporcionada por Mãe Aninha, com a edificação da Ca- pelinha de Nossa Senhora da Piedade, e pelo Padre Mestre Rolim, com a instalação de sua escola, que se tornou colégio, o primeiro em todo o Estado da Paraíba.
É esta a base da edificação de nossa cidade. A cidade dos Gomes, dos Lins, dos Albuquerque, dos Souza, dos Rolim, dos Cartaxo e dos Bezerra. Cidade de uma história bonita, que teve a sua origem às margens do Riacho das Capoeiras, nas terras secas do Vale do Rio do Peixe, sob a inspiração da família cristão, e as bênçãos do Sacerdote de Cristo.
Localidade esta que fora moldada em torno da Capelinha de Nossa Senhora da Piedade, a casa de conversação com Deus, para o alimento espiritual da alma. Cidade que nascera ao beiral de um Colégio, a casa da instrução e do saber para educar, dando o alimento da cultura e a luz da ciência às criaturas humanas. Núcleo social que se instalou às margens do açude, reservatório de água, líquido precioso, que alimenta a vida material do homem, dos animais e das plantas.
Uma cidade assim, que tem a sua origem assentada so- bre o alicerce de sólida es- trutura espiritual, moral e so- cial, não pode jamais ficar exposta às influência ma- léficas, que agem às ocultas, sob capa misteriosa, escudadas na covardia, jogando os tor- pedos da destruição de seu progresso e da sua civilização.
Querem destruir Caja- zeiras colocando uma pedra no caminho do seu desenvol- vimento. Até parece que para isto se acha em marcha uma vasta conspiração. No ano passado, o ano do seu Primeiro Centenário de município, sus- penderam o tráfego fer- roviário que lhe trouxera progresso e civilização durante mais de 40 anos. Negaram-lhe o direito de ser a sede da Quarta Residência do DNOCS. Abriram as comportas da Barragem do Piranhas. Esvaziaram  o reservatório de água, com que propósito não sabemos, mas a maldade humana julgou que poderia ser uma determinação perversa para prejudicar o abastecimento de água da cidade, que se acha em vias de conclusão.
Para completar a nefasta obra de hospitalidades à terra do Padre Rolim, numa atitude humilhante para o povo desta cidade e das regiões circun- vizinhas, mandaram arrancar e retirar os trilhos da estrada de ferro que Epitácio Pessoa deu de presente à Cajazeiras, quando presidente da Re- pública, no ano do Cen- tenário da Independência do Brasil, em 1922.
Agora. No ano de 1965, depois de 43 anos que a nossa terra e a nossa gente se beneficiam com o serviço do tráfego ferroviário, que tanto bem tem feito aos que habitam nesta região, justamente no ano centenário do nascimento de Epitácio Pessoa, quando, como homenagem ao grande paraibano e ilustre brasileiro desaparecido, se deveria aperfeiçoar e intensificar o serviço de trem como transporte popular, foi decretada a extinção da nossa estrada de ferro, construída e inaugurada pelo governo do presidente Epitácio Pessoa, representando uma dádiva de sua brilhante administração, que impulsionou o nascer e crescimento de uma nova era de prosperidade e grandeza, não só para a nossa cidade, mas para todo sertão do Alto Piranhas.
Francisco Matias Rolim
Felizmente, segundo estamos informados, o Sr. Prefeito do Município, que se achava ausente de Cajazeiras, logo que chegou tomou as providências cabíveis no caso, e conseguiu paralisar o arracamento dos trilhos
O Chefe da Edilidade Municipal, Sr. FRANCISCO MATIAS ROLIM, em companhia do Monsenhor VICENTE DE FREITAS, esteve em Campina Grande, na última segunda-feira, onde se encontrou com o Ministro da Viação, levando ao seu conhecimento o que se estava passando em Cajazeiras.
Desse encontro com o Ministro da Viação ficou acertado novo encontro em Fortaleza, sede da RVC, para a solução do caso do nosso trem, amanhã, 9 de abril.
Vamos aguardar, fé em Deus e confiança nos homens o resultado dos entendimentos dos nossos representantes, com o Ministro da Viação e os Diretores da RVC, para a definitiva solução do caso do nosso trem, o trem que Epitácio nos deu e tanto contribuiu para o desenvolvimento em Cajazeiras.
Cajazeiras, 8 de abril de 1965