domingo, 30 de janeiro de 2011

SAUDADES DE CAJAZEIRAS

"Pareceram-me o mesmo frio da madruga­da, o mesmo firmamento, a mesma lua e as mesmas estrelas de mais de trinta anos a- trás. Tudo ali, como se estivesse no mesmo lugar e do mesmo jeito”.
Trecho de SAUDADES DE CAJAZEIRAS, publicado, em 06 de maio de 2005 no Correio da Paraíba



 Há anos que eu não ia a Cajazeiras. Dia  des- ses fui. Fui para matar as saudades. E quase que as sau­dades me matam.
    Nessa visita, retornei mentalmente ao passado. E me vi como o jovem de ou- trora — cabelos longos, ca­misa folgada, ca- lças jeans apertadas, cinto largo, sa­patos sem meias... —, com os sonhos, ilusões e pai­xões da juventude. Esses mesmos sonhos, ilusões e paixões indispensáveis a essa bela fase da vida. E, naquele momento, vaguei pelos tempos. Velhos tempos que já vão longe e que a cada momento se distan­ciam mais. E as lem- branças foram chegando, se acon- chegando, me sensibilizando. E me transportaram para a minha era cajazeirense...


   Assim, vi-me no ano de 1964, com de- zesseis anos de ida- de (morava em Pa- tos), no Cajazeiras Tênis Clu­be, fa- zendo o concurso que me deu acesso aos qua­dros funcionais do Banco do Brasil, épo- ca em que os servi- dores do BB eram co- tados a peso de ou- ro na bolsa de valo- res das mães das moças prendadas. De­pois, em 1971 (minha família já morava em João Pes­soa, e eu trabalhava em Patos), também me vi lá, submetendo-me ao concurso interno do mesmo Ban­co. E, posteriormente, em 1973 (trabalhava em Sou­sa), sendo selecionado no vestibular do curso de Le­tras da Faculdade de Filosofia — a querida FAFI — de Cajazeiras. Com isso, comecei a freqüentar com mais assiduidade a bonita, pacata, instruída, acolhedora e querida Cidade que ensinou a Paraíba a ler.


   Aqueles eram os tempos da admi- nistração inovado­ra do jovem prefeito ca- jazeirense Antonio Quirino. Época do en- tão ascendente deputado estadual e de­- pois suplente de senador, o hoje sau- doso Bosco Bar­reto, aquele dos discursos inflamados. Período em que já reinavam na região, absolutas, a Difusora Rádio Ca- jazeiras - A Pioneira, e a Rádio Alto Pi- ranhas.
      Eram os momentos da eletrizante Jo- vem Guarda, das inesquecíveis Festas Uni- versitárias, dos bons Festivais de Música. Fase áurea do badalado Jovem Clube, do famoso Cajazeiras Tênis Clube e do i- nolvidável Clube de Maio. Tempos dos belos carnavais à moda antiga e dos tradicionais bailes na AABB, quando a turma se preparava etilicamente, na velha Sorveteria Tryanon, para enfrentar a maratona das festas. Era da saudosa teatróloga íracles Pires, do conjunto musical de Chico de Bem-Bem e do inusitado Grupo dos Penetras. Época em que as pessoas guardavam nostalgias recentes da inesquecível Orquestra Manaíra. Tempos bons que deixaram saudades. E bote saudades nisso.
         E as lem- branças foram des- filando nostalgica- mente. Dessa manei- ra, lembrei-me do I Festival de Música de Cajazeiras realizado, em 1973, no Cine Teatro Apoio XI, onde obtive o 2º lugar com Louco, não! (letra minha e melodia de Julimar Dias e Deu- sinho Araújo) — o lugar coube a Joaquim Alencar, com a composição Sorte, depois rebatizada de Margarida. Recordei-me das saudosas e queridas Dona Santa (mãe de Rubens e Rubismar Farias) e de Dona Pilaia (mãe de Lacerda e Dedé de Teotônio), que me hospedavam em suas casas com atenção e carinho maiores do que eu merecia. E rememorei a amizade com as colegas do curso de Letras da FAFI, principalmente as irmãs Palitot, Moraisinha, a freira Irmã Luzia, Gelsa e Tereza, que depois se casou com o professor Marcelo.  
   Recordei-me dos irmãos cajazeirenses Valtemar e Valiomar Rolim, meus amigos, que me acolheram muito bem naquelas plagas sertanejas. Lembrei-me, então, da paixão — proibida pelo pai da moça — para a qual eu gostava de solfejar Detalhes, de Roberto Carlos, e declamar versos do poema José, de Carlos Drumond de Andrade. E, assim, me veio à lembrança o carnaval cajazeirense de 1973, um dos bons de mi¬nha vida. E me vieram à memória, ainda, o ronco ba¬rulhento do meu carro, os meus comedidos porres de uísque e as minhas farras de um modo geral. Tudo vivido — dentro do figurino da época — nos belos pal¬cos e cenários cajazeirenses. Coisas da vida, minha nêga!, como diria Paulinho da Viola.
Mas, voltei ao presente — estava numa festa. E, por um instante, sai do Tênis Clube. E, lá fora, senti o afago do gostoso frio da madrugada, alimentado pelo sereno e pelas brisas que vêm lá das praias de Aracati, no Ceará. Então, olhei o firmamento, a lua banhando a cidade e as estrelas salpicando o céu caja- zeirense. Pareceram-me o mesmo frio da madrugada, o mesmo firmamento, a mesma lua e as mesmas estrelas de mais de trinta anos atrás. Tudo ali, como se estivesse no mesmo lugar e do mesmo jeito. Menos eu, que estava no mesmo lugar, mas, com certeza, diferente: por dentro, para melhor, creio; por fora, certamente com as inarredáveis marcas do tempo. E uma sensação agradável — talvez fruto dos fluidos do lugar —, mesclada de nostalgia, me envolveu. E me perguntei por que, nas coisas boas, pelo menos na aparência, a vida não pára no espaço e no tempo, como a natureza ali presente, que parecia a mesma de antigamente.
       E, por alguns instantes, no silêncio da madrugada, quedei-me a meditar. E compreendi por que sinto saudades das Terras de Padre Rolim.
 






 

domingo, 2 de janeiro de 2011

ZEILTO: 25 ANOS, "UM EXPOENTE DA COMUNICAÇÃO"!



ZEILTO E O CANTOR NILTON CESAR (Foto Arquivo de Francisca Lima (Viúva)CLEMILDO BRUNET*Acabam-se os nossos anos como um breve pensamento. Porque tudo passa rapidamente, e nós voamos. Palavras do grande Legislador de Israel e libertador do povo de Deus, chamado Moisés. Nossa vida jamais teria sentido, se não tivéssemos na memória o que fomos no passado. Esta possibilidade faz com que possamos reparar os nossos erros de outrora, corrigindo-os; para dar prosseguimento as nossas ações aqui. O Apóstolo dos gentios, Paulo de Tarso declarou: “Que nada trouxemos para este mundo e nada levaremos dele” Nesta coluna vai a nossa homenagem a um expoente da comunicação pombalense, que merece todo nosso apreço, já que este ano, marca o jubileu de prata de sua partida para outra esfera. Há Vinte e cincos Anos que este comunicador, conhecido como o homem dos sete instrumentos, deixou o nosso convívio. Zeilto Trajano de Sousa, nasceu em Pombal no dia 16 de abril de 1944, filho do casal Otacílio e Nely (em memória), tendo como irmãos, Mª do Socorro, Zelita, Francisca Zita, Mª do Carmo e Otacílio Trajano, este último, ainda hoje milita no rádio. Contraiu núpcias com Francisca de Lima Sousa, nascendo dessa união quatro elegantes garotas: Nadja Rejane, Alba, Kátia e Márcia. Começou suas atividades em microfone desde os tempos áureos de Serviço de Alto Falantes, iniciando na Difusora Rádio Maringá de propriedade do Sr. Raimundo Lacerda (Conhecido por Raimundo Sacristão) no começo dos anos sessenta. Exerceu na sua labuta o tipo garoto propaganda, quando dos memoráveis queimas de tecidos das Lojas Paulista, fazia o seu périplo em um carro de som pelas ruas da nossa cidade e aos sábados animava as feiras na porta da loja, conclamando os transeuntes para comprar mais barato. Ainda me lembro de um queima de tecidos com a locução feita por Zeilto, que provocou uma fila enorme de pessoas para as compras. Ele dizia assim: “Quem quer vem, quem não quer manda, não mande ninguém em seu lugar, venha você mesmo comprar”. Tive a oportunidade de me aproximar de Zeilto, quando na Difusora de Raimundo Sacristão em 1962, eu fazia a vez dos que são chamados hoje de operadores de som (sonoplasta). No crepúsculo de uma tarde em que os raios de sol começavam a declinar, Zeilto me pedia para tocar sua música predileta: “Tu Précio” de Bienvenido Grande, e ia para a esquina, entre as ruas Francisco de Assis e João Pessoa, acendendo o cigarro, curtia a melodia que saía do Projetor de som do Mercado Público. Zeilto, fez Programa de Calouros dentro do próprio Studio, onde havia grande ajuntamento de pessoas; eu fui um desses calouros e cantei a música sucesso da época: “Boneca Cobiçada” de Palmeira e Biá, gravada anos depois pelo cantor Antonio Marcos. Nesse tempo, comecei a soltar minha voz ainda infantil no microfone e as pessoas nas ruas indagavam: Quem é a menina que está falando na Difusora Maringá? Em 1966, veio o Serviço de Alto Falantes “A Voz da Cidade” de minha propriedade, tinha acoplado um transmissor de fabricação caseira em ondas curtas na freqüência de três mil e pouco kilociclos. Zeilto veio fazer parte e comandava alguns programas musicais, destaque para “Almoço a Brasileira” e Jornalístico: “O Positivo e o Negativo” além do “Comentário do Dia”, apresentava o Jornal da Emissora. Em 1967, Zeilto adentrava ao Studio da Rádio Alto Piranhas de Cajazeiras e pouco tempo depois já exercia as funções de Diretor. Foi em Cajazeiras que Zeilto veio projetar-se no rádio sertanejo, e conquistou audiência na região com os programas criados por ele: “Discoteca Dinamite” de cunho jornalístico, o mais polêmico da época; o DDD e DDI, que apresentava crônicas em parceria com o médico Júlio Maria Bandeira, chegando a causar “frisson” na Polícia Federal, que especulava o significado dessas letras. “Nosso Encontro com Nelson” aos domingos, até hoje permanece. Este programa ao completar 15 anos, Zeilto teve a proeza de trazer Nelson Gonçalves a Cajazeiras para um show no sábado a noite e o comparecimento ao vivo do cantor, ao Programa no domingo pela manhã para uma entrevista. Nos eventos que se registravam em Pombal, Zeilto trazia a Rádio Alto Piranhas. Ainda me lembro, como fui honrado por ele em uma transmissão da Rádio Alto Piranhas direto do Cine Lux na cobertura da Convenção Municipal do MDB. Na ocasião eu era o locutor do Partido e ele, depois de fazer a conexão com a emissora, virou-se pra mim e entregando-me o microfone disse: Se vire, e foi embora do local. De outra feita numa visita que eu fiz a Rádio Alto Piranhas, Zeilto me entregou uma Carteira funcional nomeando-me repórter correspondente da emissora em Pombal. Anos depois, em 1993, a Rádio Alto Piranhas, agora sob nova direção, contratava os meus serviços profissionais; tamanha foi a minha emoção ao sentir que estava em um meio de comunicação que Zeilto havia exercido suas atividades e ao colocar meus olhos no livro de registro, encontrei a página onde estava a foto dele e seu registro profissional, a emoção bateu mais forte ainda. A Festa do Rosário, tornou-se mais conhecida na região. Todos os anos, Zeilto a acompanhava transmitindo através da Rádio Alto Piranhas a parte religiosa da Festa. Outro evento que a Alto Piranhas se fez presente por intermédio dele, foi a Grande Festa realizada no Pombal Ideal Clube, intitulada: “A Paraíba em uma Noite”. Zeilto, ainda fez cobertura para a Rádio Alto Piranhas da Inauguração da Rodovia Federal BR 427 que liga a nossa cidade ao Rio Grande do Norte, quando da vinda a Pombal do Ministro dos Transportes de Então, Mário Andreazza. Zeilto era conhecido pela sua habilidade nas artes, era músico e como tal, fundou sua própria Orquestra em Cajazeiras, chamada “CHAVERON”; e pela versatilidade que possuía, Zeilto formou mais duas orquestras: a Chavereque e a Oritimbó, isto no decorrer de três anos, animando os Carnavais e matinês dos Clubes de Cajazeiras. Por sinal tocou vários Carnavais na região e uma vez animou um Carnaval no Pombal Ideal Clube. Chegando até compor uma música de Carnaval com o título: “Maroaje”. Amou tanto a terra de Padre Rolim, que criou dois Slogans para enaltecer Cajazeiras: Costumava dizer nos microfones da Rádio Alto Piranhas: “Minha Linda Cajazeiras” e em uma vinheta da emissora: “Rádio Alto Piranhas a única emissora em Cajazeiras que o Nordeste conhece”. Após dezoito anos na Rádio Alto Piranhas, Zeilto foi levar a sua voz para João Pessoa capital do nosso estado, assumindo a direção comercial da Rádio Arapuã e despertava os pessoenses com o seu Programa: “Café da Manhã”. Um dia, no cumprimento de sua missão, Zeilto trilhou a sua última caminhada no rádio, estava cumprindo mais uma jornada de trabalho, sem saber que aquele dia, seria o último de sua carreira. Compareceu ao aeroporto – Castro Pinto em João Pessoa, para fazer a cobertura jornalística da visita do Presidente da República de então, General João Batista de Figueiredo, que veio a Paraíba cumprir agenda de compromissos do Governo Federal para com o nosso Estado. Zeilto com brilhantismo fez o seu trabalho e ao finalizá-lo, de repente, se sentiu cansado, debruçou-se sobre a direção de seu carro e disse: “Está escurecendo”, foram suas últimas palavras. Ficou em coma, acometido de aneurisma cerebral e após alguns dias, veio a falecer no centro de terapia intensiva da casa de saúde São Vicente de Paula em João Pessoa, no dia 25 de agosto de 1982. Seu sepultamento foi realizado no Cemitério Nossa Senhora do Carmo em Pombal com grande acompanhamento, principalmente de seus colegas de Profissão, tanto da Capital, como do interior. A Rádio Maringá, da qual Zeilto, através do convite que lhe fiz, presidiu o Cerimonial de Inauguração, transmitiu para uma rede de emissoras no Estado, a missa de corpo presente na Matriz do Bom Sucesso e acompanhou as homenagens no campo santo, ocasião em que o Radialista e Jornalista Lenilson Guedes, falou em nome dos colegas. Zeilto cumpriu bem a sua missão sendo querido de todos os políticos que foram entrevistados por ele. Esse radialista emudeceu sua voz que arrebatava ouvintes e empolgava multidões. Polêmico, vibrante, versátil, ativo e participante, um polivalente. Expoente da Comunicação! Radialista ou Jornalista, vive da história dos outros. E isto me faz lembrar uma canção interpretada por Altemar Dutra, que leva o nome: “EU CANTO A MINHA DOR” composição de Toso Gomes e Antonio Correia, cuja letra diz assim: Eu pego o violão, e canto a dor alheia, Também minha alma anseia e Canto a minha dor, nesta canção. E tão emocional meus olhos rasos d’água, Me faz sentimental, meu coração ficou cheio de mágoa. Abre a janela e vem, ouvir a voz de quem Deu tudo que era seu E nada recebeu, E há de saber por quem a minha voz vagueia, Eu canto a minha dor, não canto a dor alheia. *RADIALISTA CONTATO:

Galeria de fotos de Zeilto Trajano


Zeilton com o cantor Nilton César

Zeilton trajano. blog CZ

Rádio Alto Piranhas, Zeilton Trajano

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