"Pareceram-me o mesmo frio
da madrugada, o mesmo firmamento, a mesma lua e as mesmas estrelas de mais de
trinta anos a- trás. Tudo ali, como se estivesse no mesmo lugar e do mesmo
jeito”.
Trecho de SAUDADES DE CAJAZEIRAS, publicado, em 06 de maio de 2005 no Correio da Paraíba
Há anos que eu não ia a Cajazeiras. Dia des- ses fui. Fui para
matar as saudades. E quase que as saudades me matam.
Nessa visita, retornei mentalmente ao passado. E me vi como o jovem
de ou- trora — cabelos longos, camisa folgada, ca- lças jeans apertadas, cinto
largo, sapatos sem meias... —, com os sonhos, ilusões e paixões da juventude.
Esses mesmos sonhos, ilusões e paixões indispensáveis a essa bela fase da vida.
E, naquele momento, vaguei pelos tempos. Velhos tempos que já vão longe e que
a cada momento se distanciam mais. E as lem- branças foram chegando, se acon- chegando, me sensibilizando. E me transportaram para a minha era
cajazeirense...
Assim,
vi-me no ano de 1964, com de- zesseis anos de ida- de (morava em Pa- tos), no Cajazeiras
Tênis Clube, fa- zendo o concurso que me deu acesso aos quadros funcionais do
Banco do Brasil, épo- ca em que os servi- dores do BB eram co- tados a peso de ou- ro
na bolsa
de valo- res
das mães das moças prendadas. Depois, em 1971 (minha família já morava em João
Pessoa, e eu trabalhava em Patos), também me vi lá, submetendo-me ao concurso
interno do mesmo Banco. E, posteriormente, em 1973 (trabalhava em Sousa),
sendo selecionado no vestibular do curso de Letras da Faculdade de Filosofia —
a querida FAFI — de Cajazeiras. Com isso, comecei a freqüentar com mais
assiduidade a bonita, pacata, instruída, acolhedora e querida Cidade que ensinou a
Paraíba a ler.
Aqueles
eram os tempos da admi- nistração inovadora do jovem prefeito ca- jazeirense
Antonio Quirino. Época do en- tão ascendente deputado estadual e de- pois suplente
de senador, o hoje sau- doso Bosco Barreto, aquele dos discursos inflamados.
Período em que já reinavam na região, absolutas, a Difusora Rádio Ca- jazeiras - A Pioneira, e
a Rádio Alto Pi- ranhas.
Eram os momentos da eletrizante Jo- vem Guarda, das inesquecíveis Festas Uni- versitárias, dos bons Festivais de Música. Fase áurea do badalado Jovem Clube, do famoso Cajazeiras Tênis Clube e do i- nolvidável 1º Clube de Maio. Tempos dos belos carnavais à moda antiga e dos tradicionais bailes na AABB, quando a turma se preparava etilicamente, na velha Sorveteria Tryanon, para enfrentar a maratona das festas. Era da saudosa teatróloga íracles Pires, do conjunto musical de Chico de Bem-Bem e do inusitado Grupo dos Penetras. Época em que as pessoas guardavam nostalgias recentes da inesquecível Orquestra Manaíra. Tempos bons que deixaram saudades. E bote saudades nisso.
E as lem- branças foram des- filando nostalgica- mente. Dessa manei- ra, lembrei-me do I Festival de Música de Cajazeiras realizado, em 1973, no Cine Teatro Apoio XI, onde obtive o 2º lugar com Louco, não! (letra minha e melodia de Julimar Dias e Deu- sinho Araújo) — o 1º lugar coube a Joaquim Alencar, com a composição Sorte, depois rebatizada de Margarida. Recordei-me das saudosas e queridas Dona Santa (mãe de Rubens e Rubismar Farias) e de Dona Pilaia (mãe de Lacerda e Dedé de Teotônio), que me hospedavam em suas casas com atenção e carinho maiores do que eu merecia. E rememorei a amizade com as colegas do curso de Letras da FAFI, principalmente as irmãs Palitot, Moraisinha, a freira Irmã Luzia, Gelsa e Tereza, que depois se casou com o professor Marcelo.
Recordei-me dos irmãos cajazeirenses Valtemar e Valiomar Rolim, meus amigos, que me acolheram muito bem naquelas plagas sertanejas. Lembrei-me, então, da paixão — proibida pelo pai da moça — para a qual eu gostava de solfejar Detalhes, de Roberto Carlos, e declamar versos do poema José, de Carlos Drumond de Andrade. E, assim, me veio à lembrança o carnaval cajazeirense de 1973, um dos bons de mi¬nha vida. E me vieram à memória, ainda, o ronco ba¬rulhento do meu carro, os meus comedidos porres de uísque e as minhas farras de um modo geral. Tudo vivido — dentro do figurino da época — nos belos pal¬cos e cenários cajazeirenses. Coisas da vida, minha nêga!, como diria Paulinho da Viola.
Mas, voltei ao presente — estava numa festa. E, por um instante, sai do Tênis Clube. E, lá fora, senti o afago do gostoso frio da madrugada, alimentado pelo sereno e pelas brisas que vêm lá das praias de Aracati, no Ceará. Então, olhei o firmamento, a lua banhando a cidade e as estrelas salpicando o céu caja- zeirense. Pareceram-me o mesmo frio da madrugada, o mesmo firmamento, a mesma lua e as mesmas estrelas de mais de trinta anos atrás. Tudo ali, como se estivesse no mesmo lugar e do mesmo jeito. Menos eu, que estava no mesmo lugar, mas, com certeza, diferente: por dentro, para melhor, creio; por fora, certamente com as inarredáveis marcas do tempo. E uma sensação agradável — talvez fruto dos fluidos do lugar —, mesclada de nostalgia, me envolveu. E me perguntei por que, nas coisas boas, pelo menos na aparência, a vida não pára no espaço e no tempo, como a natureza ali presente, que parecia a mesma de antigamente.
E, por alguns instantes, no silêncio da madrugada, quedei-me a meditar. E compreendi por que sinto saudades das Terras de Padre Rolim.
Eram os momentos da eletrizante Jo- vem Guarda, das inesquecíveis Festas Uni- versitárias, dos bons Festivais de Música. Fase áurea do badalado Jovem Clube, do famoso Cajazeiras Tênis Clube e do i- nolvidável 1º Clube de Maio. Tempos dos belos carnavais à moda antiga e dos tradicionais bailes na AABB, quando a turma se preparava etilicamente, na velha Sorveteria Tryanon, para enfrentar a maratona das festas. Era da saudosa teatróloga íracles Pires, do conjunto musical de Chico de Bem-Bem e do inusitado Grupo dos Penetras. Época em que as pessoas guardavam nostalgias recentes da inesquecível Orquestra Manaíra. Tempos bons que deixaram saudades. E bote saudades nisso.
E as lem- branças foram des- filando nostalgica- mente. Dessa manei- ra, lembrei-me do I Festival de Música de Cajazeiras realizado, em 1973, no Cine Teatro Apoio XI, onde obtive o 2º lugar com Louco, não! (letra minha e melodia de Julimar Dias e Deu- sinho Araújo) — o 1º lugar coube a Joaquim Alencar, com a composição Sorte, depois rebatizada de Margarida. Recordei-me das saudosas e queridas Dona Santa (mãe de Rubens e Rubismar Farias) e de Dona Pilaia (mãe de Lacerda e Dedé de Teotônio), que me hospedavam em suas casas com atenção e carinho maiores do que eu merecia. E rememorei a amizade com as colegas do curso de Letras da FAFI, principalmente as irmãs Palitot, Moraisinha, a freira Irmã Luzia, Gelsa e Tereza, que depois se casou com o professor Marcelo.
Recordei-me dos irmãos cajazeirenses Valtemar e Valiomar Rolim, meus amigos, que me acolheram muito bem naquelas plagas sertanejas. Lembrei-me, então, da paixão — proibida pelo pai da moça — para a qual eu gostava de solfejar Detalhes, de Roberto Carlos, e declamar versos do poema José, de Carlos Drumond de Andrade. E, assim, me veio à lembrança o carnaval cajazeirense de 1973, um dos bons de mi¬nha vida. E me vieram à memória, ainda, o ronco ba¬rulhento do meu carro, os meus comedidos porres de uísque e as minhas farras de um modo geral. Tudo vivido — dentro do figurino da época — nos belos pal¬cos e cenários cajazeirenses. Coisas da vida, minha nêga!, como diria Paulinho da Viola.
Mas, voltei ao presente — estava numa festa. E, por um instante, sai do Tênis Clube. E, lá fora, senti o afago do gostoso frio da madrugada, alimentado pelo sereno e pelas brisas que vêm lá das praias de Aracati, no Ceará. Então, olhei o firmamento, a lua banhando a cidade e as estrelas salpicando o céu caja- zeirense. Pareceram-me o mesmo frio da madrugada, o mesmo firmamento, a mesma lua e as mesmas estrelas de mais de trinta anos atrás. Tudo ali, como se estivesse no mesmo lugar e do mesmo jeito. Menos eu, que estava no mesmo lugar, mas, com certeza, diferente: por dentro, para melhor, creio; por fora, certamente com as inarredáveis marcas do tempo. E uma sensação agradável — talvez fruto dos fluidos do lugar —, mesclada de nostalgia, me envolveu. E me perguntei por que, nas coisas boas, pelo menos na aparência, a vida não pára no espaço e no tempo, como a natureza ali presente, que parecia a mesma de antigamente.
E, por alguns instantes, no silêncio da madrugada, quedei-me a meditar. E compreendi por que sinto saudades das Terras de Padre Rolim.
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