domingo, 15 de janeiro de 2012

Uma vez por semana

por Francisco Frassales Cartaxo
A VOZ DO SERTÃO
   Cajazeiras sempre teve muita audácia em matéria de comunicação. Ainda no tempo dos ser- viços de alto-falantes, na pré-história do rádio ca- jazeirense, os pioneiros já se revelavam ousados. Os serviços de alto-falantes exerciam enorme influên- cia na rotina da cidade, a- través da propagação de música popular, de no- tícias, sobretudo, em cam- panhas eleitorais, numa época em que havia poucas casas com aparelhos de rádio para captar, com enorme dificuldade, as transmissões do Rio, São Paulo, Recife, Salvador, Fortaleza ou Campina Grande. Menino de calça curta, eu ia correndo, muitas vezes, para ficar próximo de uma das caixas de som, atraído por noticiário ou pronunciamento político, sempre precedido de música “patriótica”, como a que Chico Cardoso usa em seu programa político. As falas do advogado José Rolim Guimarães faziam enorme sucesso.
   José Adegildes Bastos, um dos pioneiros da radiofonia em Cajazeiras, me levou para treinar locução na antiga DRC - Difusora Rádio Cajazeiras, nos altos de Carvalho & Du- tra na Avenida Presidente João Pessoa. Coisa simples. Entre uma música e outra, a gente lia uma série de pequenos anúncios, redi- gidos por ele mesmo ou al- guém com habilidade, embora sem técnica de comunicação, salvo a capacidade de copiar o que ouvia pelo rádio ou lia em jornais e revistas. O noticiário também era copiado dos jornais e da escuta de emissoras de outras praças, como bem registra Lúcio Vilar em seu livro “Janelas da sedução cotidiana”, estudo de motivação acadêmica de agradável leitura.
   Em 1955, Zé Adegildes (foto) e eu, re- solvemos lançar um programa novo, na verdade, u- ma imitação caricata do então famoso “Com a Boca no Mundo”, salvo engano, do jornalista Raul Brunini, da Rádio Globo, do Rio. (Nada a ver com a coluna de Eutim Rodrigues, claro...) Chegamos a pensar em dar ao nosso programa o nome de “Com a Boca na Cidade”. Aí já era papagaiar demais! Ficamos com o discreto “Uma Vez por Semana”, que ia ao ar no domingo à noite, com notícias, crônicas, comentários e uma entrevista política. José Leo- poldo de Souza, ex- seminarista, escrevia crônicas abordando temas ligados à diocese. Eu me encarregava da en- trevista. Ao contrário da dinâmica de hoje, encaminhava ao convidado a pauta por escrito.
       Entrevistei algumas personagens em evidência. A memória nublada não me permite ho- je lembrar quantos foram. Com certeza foi en- trevistado o advogado Hildebrando Assis, ex- deputado constituinte de 1947, ao lado de Ivan Bichara e João Jurema. O prefeito Otacílio Jurema foi insistentemente convidado, mas sequer dava resposta aos pedidos encaminhados. No auge do prestígio, arredio a microfone, O- tacílio devia encarar o convite como um ardil oposicionista, muito embora as críticas feitas a sua gestão fossem elegantes e suaves, até porque a DRC pertencia à firma Carvalho & Dutra, cujo sócio principal tinha ligação familiar com os Jurema. Otacílio não foi ao programa e, de quebra, articulou seu es- vaziamento junto a Antônio Carvalho e a Mozart Assis (foto)...
      “Uma vez por Semana” teve curta duração. Minha experiência como “jornalista-entrevistador” morreu no nascedouro, limi- tando-se à leitura de anúncios comerciais pre- parados pelo incansável batalhador José A- degildes Bastos (foto). E, vez por outra, encher o peito, impostar a voz e, orgulhoso, largar no ar: “Difusora Rádio Cajazeiras falando para os quatro cantos da cidade”...

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