por Francisco Frassales Cartaxo
A VOZ DO SERTÃO |
José Adegildes Bastos, um dos pioneiros da radiofonia em Cajazeiras, me levou
para treinar locução na antiga DRC - Difusora Rádio Cajazeiras, nos altos de
Carvalho & Du- tra na Avenida Presidente João Pessoa. Coisa simples. Entre
uma música e outra, a gente lia uma série de pequenos anúncios, redi- gidos por
ele mesmo ou al- guém com habilidade, embora sem técnica de comunicação, salvo a
capacidade de copiar o que ouvia pelo rádio ou lia em jornais e revistas. O noticiário
também era copiado dos jornais e da escuta de emissoras de outras praças, como
bem registra Lúcio Vilar em seu livro “Janelas da sedução cotidiana”, estudo de
motivação acadêmica de agradável leitura.
Em 1955, Zé Adegildes (foto) e eu, re- solvemos lançar um programa novo, na
verdade, u- ma imitação caricata do então famoso “Com a Boca no Mundo”, salvo
engano, do jornalista Raul Brunini, da Rádio Globo, do Rio. (Nada a ver com a
coluna de Eutim Rodrigues, claro...) Chegamos a pensar em dar ao nosso programa
o nome de “Com a Boca na Cidade”. Aí já era papagaiar demais! Ficamos com o
discreto “Uma Vez por Semana”, que ia ao ar no domingo à noite, com notícias, crônicas,
comentários e uma entrevista política. José Leo- poldo de Souza, ex- seminarista,
escrevia crônicas abordando temas ligados à diocese. Eu me encarregava da
en- trevista. Ao contrário da dinâmica de hoje, encaminhava ao convidado a pauta por
escrito.
Entrevistei algumas personagens em evidência. A memória nublada não me
permite ho- je lembrar quantos foram. Com certeza foi en- trevistado o advogado
Hildebrando Assis, ex- deputado constituinte de 1947, ao lado de Ivan Bichara e
João Jurema. O prefeito Otacílio Jurema foi insistentemente convidado, mas sequer
dava resposta aos pedidos encaminhados. No auge do prestígio, arredio a
microfone, O- tacílio devia encarar o convite como um ardil oposicionista, muito
embora as críticas feitas a sua gestão fossem elegantes e suaves, até porque a
DRC pertencia à firma Carvalho & Dutra, cujo sócio principal tinha ligação
familiar com os Jurema. Otacílio não foi ao programa e, de quebra, articulou seu
es- vaziamento junto a Antônio Carvalho e a Mozart Assis (foto)...
“Uma vez por Semana” teve curta duração. Minha experiência como “jornalista-entrevistador”
morreu no nascedouro, limi- tando-se à leitura de anúncios comerciais pre- parados pelo
incansável batalhador José A- degildes Bastos (foto). E, vez por outra, encher o peito, impostar
a voz e, orgulhoso, largar no ar: “Difusora Rádio Cajazeiras falando para os
quatro cantos da cidade”...
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