segunda-feira, 29 de julho de 2013

Tenente Sabino, hoje Calçadão

Rua Tenente Sabino, no centro da cidade de Cajazeiras (PB), quando ainda não havia sido transformado em Calçadão, na década de 1970, pelo então prefeito Antônio Quirino de Moura.
por Alisson Oliveira
História:
O Tenente Sabino de Sousa Coelho nasceu em Jaguaribe, Ceará, em 1815. Do seu casamento com Maria Florência das Virgens, irmã do Padre Rolim, provém o ramo cajazeirense da família Coelho. Foi um benemérito da cidade, construindo vários prédios e organizando a primeira feira da povoação, em 1848, juntamente com o Padre Rolim. Faleceu em 13 de dezembro de 1908. Era avô do Arcebispo D. Moisés Coelho e deixou numerosos descendentes que se dedicaram ao sacerdócio, dentre eles, dentre eles, o Arcebispo D. Carlos de Gouveia Coelho e o Bispo Dom Zacarias Rolim de Moura.
Texto extraído do livro "Ruas de Cajazeiras", de Deusdedit Leitão.


quinta-feira, 18 de julho de 2013

O HOMEM MAIS SABIDO DE CAJAZEIRAS

Em 1975 foi publicada a primeira edição do Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de autoria de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Foi, e continua sendo fenômeno editorial brasileiro. Só não vendeu mais que a bíblia, no Brasil.

Bem, Cajazeiras poderia ter um colaborador para esse fenômeno editorial, tendo em vista que ele era um apaixonado por palavras. Apaixonado ao ponto de ser um exibidor de vocabulário escorreito, digo: apurado. Suas palavras eram pronunciadas ao sabor da prolixidade, digo: muito longo, ou difuso.

Não, o nosso personagem amante da língua pátria não era escritor, não era jornalista, não era intelectual, no sentido lato, digo: amplo, da palavra, não freqüentava as rodas literárias de Cajazeiras, não tinha liame, digo: ligação, com a nata, digo: o que há de melhor, da intelectualidade cajazeirense contemporânea, digo: que vive na mesma época.

A vaidade e a erudição, digo: instrução vasta e variada, de nosso personagem, com certeza se renderia aos apelos e a ovação, digo: aplausos ou honras entusiásticas, de entrar para a Academia Cajazeirense de Letras, se assim houvesse.

Sua sapiência, digo: sabedoria divina, encantava e admirava a todos. A todos que se rendiam a seu estilo loquaz, digo: palavroso, verboso.

Essa figura impoluta, digo: pura, virtuosa, não tinha escritório de advocacia para verbalizar data vênia, digo: expressão respeitosa com que se principia uma argumentação, e logorréias, digo: hábito de falar com excesso.

Talvez nossa figura em destaque fosse o precursor, digo: que precede, da criação genial do dramaturgo Dias Gomes, Odorico Paraguassu. O linguajar rebuscado, digo: requintando, era sua marca registrada.

Afinal, se ele não estava numa banca de advocacia, onde ele estaria então? Estava ele num banco. Não, não era no Banco do Brasil. O seu banco, era o banco onde ele estava sentado vendendo tudo que uma budega sortida tinha para atender sua clientela. Sentado em seu banco, atendia a todos. Aos matutos, que se lhe rendiam basbaque, digo: que fica pasmo diante de tudo, e os urbanos de Cajazeiras.

Sua budega era bem provida, bem arrumada, bem limpa, de balcão bem organizado, distante dos balcões de outras budegas que serviam pinga em balcões sujos e imundos devido as goipadas dos pinguços dadas ao seu pé em louvor à dose do santo. 

Sempre com seu dicionário apostos em sua mesinha de trabalho, onde ficava a gaveta do caixa, ali lia e relia (percebi o cacófato, digo: som destoante) as páginas de seu dicionário, de onde sairiam suas palavras difíceis arremessadas aos fregueses.

Se lhe perguntassem: - “Tem palito de dente?”, ele responderia: - “Você, nobre freguês, está a procura de pequenos gravetos propícios à extração de restos alimentares pós refeições?”.  E se procurassem por rapadura, teriam como resposta: - “Meu caro freguês, você está solicitando um retângulo sólido, de doce natural, extraído da planta da família das gramíneas, processado via mecanismo laboral artesanal?”. Um rapaz queria sal de cozinha, e ele respondia: - “O jovem imberbe está a requisitar cloreto de sódio, cristalino, branco, usado na alimentação?”

Em conversas com pessoas, se lhe contestassem o sentido de uma palavra, era o mesmo que chamá-lo para a briga, não a briga braçal, mas o acinte, digo: a provocação, em desmoralizá-lo em sua verborragia, digo: grande abundância de palavras, mas com poucas idéias, no falar ou discutir.

Por todo seu esforço em querer falar difícil e bonito, conquistando a admiração principalmente dos matutos, ele é considerado o homem mais sabido de Cajazeiras. Nem que seja nas mesas de bares e esquinas onde a galhofa e o palavrório é a tônica.

Seu nome é: Zecão.

Eduardo Pereira do Blog AC2B
E-mail: dudaleu1@gmail.com


Zecão, segundo Zerinho


Zecão tinha a bodega na Rua da Tamarina próximo à Transportadora Marajó do Zerinho (foto), daí eis que nasceu uma amizade sólida com Zecão que depois deixou Cajazeiras e foi para o Juazeiro do Norte onde morreu, segundo informação do Zerinho.
Acrescento outra do Zecão, como todas, repassadas por Zerinho:
O freguês chega e pergunta se ele tem queijo?
Sempre atencioso, mas na hora da pergunta encontrava-se atarefado e respondeu com um rotundo NÃO!
O freguês pergunta a razão da falta do produto e ouve do Zecão:
‘Jamais poderei explicar a razão na qual está faltando este gênero alimentício no meu estabelecimento comercial’"
O repertório é grande, pena que não retive na memória, mas quando eu me encontrar Zerinho vou e ri e guardar as histórias do Zecão.


sexta-feira, 12 de julho de 2013

Zecão: Ele é que é o rei das japonesas.

Lá vai estória!!
Creio que Rubismar Galvão, o mais amadurecido da raça ruim dos tempos de ginásio, no entanto, era um presepeiro de marca maior. Articulava diplomaticamente e envolvia a todos com seus conceitos. Foi quem me apresentou para Zecão.
 O referido bodegueiro, homem de estatura alta para os padrões de nossa terra, daí o codinome Zecão. Não era um merceeiro qualquer. Alem de ter um comércio onde se achava produtos não encontrados em outros estabelecimentos, era um letrado. Vivia lendo um dicionário, que estava sempre aberto em cima do balcão.
Gostava de responder a quem lhe perguntava o significado de palavras não muito usuais no dia-a-dia.
  Formávamos um grupo para no final das aulas ir aporrinhar o cidadão, com um punhado de palavras difíceis escolhidas a dedo.
E assim sucedeu em várias incursões. O que ele não respondia de bate pronto, disfarçadamente olhava no dicionário entre o atendimento a um cliente e outro e nos dava a resposta.
Nós amaciávamos seu ego com elogios, ele agradecia e se prontificava a nos receber quantas vezes fosse necessário respostas às nossas pesquisas estudantis.
O nosso intuito era que um dia ele se enrolasse não sabendo nos responder algum significado.
 Numa das vezes, alguém engendrou para perguntarmos a diferença entre havaianas e japonesas (os chinelos claro).
Dito e feito. Pergunta articulada e nada de Zecão responder satisfatoriamente. Começou a se aperrear com nossa insistência, pois também tinha fama de ser de pavio curto.
Insistimos na resposta e ele já meio aborrecido disse:
 - Sei não... Vão aí ao vizinho, vão! Ele é que é o rei das japonesas.