segunda-feira, 15 de setembro de 2014

“Quanto riso! Oh! quanta alegria! Mais de mil palhaços no salão”.

"-- Pois, senhor, é curioso. No meio de uma paixão ardente, tão sincera... Eu ainda estou na minha;"  (Machado de Assis, Histórias sem Data, p. 55.) 
Diz-se com muita propriedade que, com o avanço inexorável dos anos vividos, o homem passa às saudades e às recordações. A saudade passa a dominar o campo, todavia, em meu caso, sem a nostalgia com a sua carga de tristeza e depressão. Lembrar da minha saudosa mamãe, que tantas alegrias me propiciou, não me emurchece, ao contrário, vivifico prazerosamente os tempos passados... tão bons.
Todo este maçante preâmbulo para remeter minha alma e mente para a década de sessenta, Campina Grande, onde eu passava geralmente as férias de julho na casa da Tia Nita que à época morava à Rua Expedicionários do Brasil.
Tinha eu 12 anos, quando conheci a Cynthia Regards, a sua irmã, a linda galeguinha Suely e o irmão mais velho alguns anos, o boa-praça Wellington. Moravam logo no começo da Rua Rio Branco, onde hoje foi edificado um edifício o qual, imagino, ocupou o terreno onde era a casa de Bismark; os Regards eram quase vizinhos da Maria do Carmo, Charles e dois irmãos mais novos que me fogem agora à lembrança os seus nomes. Em frente da casa destes, veio morar mais tarde o cajazeirense Domício Holanda, que em Cajazeiras morava na minha rua, a Victor Jurema, pai de tantos amigos meus de infância.
Teatro Severino Cabral
Mas voltei a ser maçante. Bom, tudo isto para contar o meu primeiro namoro de porta. Conheci a Cynthia na área livre de um edifício baixo, construído sobre pilotis numa rua paralela abaixo da Rio Branco, na direção do Teatro Severino Cabral. A família era alagoana para onde voltaram posteriormente e nunca os vi ou tive notícia. Era julho. Fiquei apaixonado...
Chegaram as férias do fim do ano, e, como de costume, papai alugou a casa em João Pessoa para passarmos a temporada. Mas coração e mente permanecia em Campina... Cynthia. Quase meu coração sai pela boca quando mamãe comunica que passaríamos o carnaval na casa de Tia Nita, aonde? Em Campina! Ó Deus, atendeste o meu clamor lânguido que dilacerava o meu coração. Praia, sol, futebol nada me fazia atenuar a minha angustiosa vontade de chegar à Campina.

Sede Campinense Clube nos anos 40,
fonte: Blog Retalhos Históricos de Campina Grande
Juntei-me à turma da Rua Rio Branco para irmos à vesperal do Clube Campinense. E fiquei o tempo todo pulando (dançando) com a Cynthia. Era o ano de 1967, ano do lançamento da inesquecível e eterna música Máscara Negra:
Quanto riso! Oh! quanta alegria!
Mais de mil palhaços no salão”.
E meu coração borbulhava de emoções, ebulição total.
Arlequim está chorando
Pelo amor da Colombina
No meio da multidão...”.
E com Cynthia no salão, tímido, sem a necessária coragem de declarar os meus sentimentos. Tinha acabado de completar 13 anos. Mas pulando no salão com os braços no ombro da Cynthia ao som da Máscara Negra:
Vou beijar-te agora,
Não me leve a mal:
Hoje é carnaval”... e tasquei um beijo, claro que na face.
Pronto estávamos namorando. Os Regards eram modernos e o pai dela me franqueou o sofá da casa. Lá ia todo orgulhoso todos os dias às 7 horas em ponto para a casa dos Regards. Chegava um beijinho na testa e sofá. Ficava até às nove e meia em ponto, quando saía e outro beijinho.
É interessante lembrar que vigorava o horário de verão, acho que pela primeira vez era implantado no Brasil, que lá em Cajazeiras ninguém obedecia, mas Campina que era mais avançada... Ainda perdurava a claridade do dia, embora escondido, o sol bem próximo do horizonte ainda teimava em não desaparecer.
Foi um amor tão intenso quanto pueril. Mas o melhor amor do mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário