por Francisco Frassales Cartaxo
Coronel Justino Bezer- ra é nome da rua,
que começa na padre Manuel Mariano e finda na avenida engenheiro Carlos Pires
de Sá, perto do Cemitério Coração de Maria. Justino Bezerra era um homem rico, comerciante,
proprietário ru- ral, político atuante no final do século 19 e início do século
20. Exerceu com desenvoltura a chefia política em Cajazeiras, tendo sido
prefeito muitos anos, quando a Paraíba vivia sob o domínio da oligarquia
chefiada por Álvaro Machado. Fazia contraponto à hegemonia dos Rolim, Cartaxo e
Coelho. Por coincidência, coronel Justino faleceu em 1913, pouco mais de um ano
após a morte de seu grande chefe.
O padre Raimundo Honório Rolim conta
que o coronel Justino Bezerra tentou conseguir o título de barão. Teria sido o
Barão das Cajazeiras? É provável que tenha desembolsado razoável quantia para
comprá-lo. Pelo menos, se dispunha a fazê-lo. Mas a República amanheceu na casa
do imperador Pedro II e, de madrugada, deportou a família real. Lá se foi assim
a distribuição de honrarias em troca de dinheiro, e apoio material e político à
Monarquia. Depois que dom João VI se instalou no Brasil, fugindo do exército de
Napoleão, teve início a concessão de títulos de “nobreza” a ricos fazendeiros, produtores
de café e açúcar, banqueiros, comerciantes, donos e traficantes de escravos. Era
uma troca de favores entre o poder e homens ricos, militares, chalaças e mulheres.
Duque era o título mais importante. Na
sequência vinham os de marquês, conde, visconde e, por último, o de barão, o
mais insignificante nesse mercado de vaidades e interesses, muitas vezes,
escusos. Mesmo assim, quem desejava ser barão haveria de desembolsar uma pequena
fortuna, equivalente, na época, a 4 ou 5 anos de trabalho de um soldado, um
alfaiate ou um carpinteiro, segundo estimativa de Laurentino Gomes no seu mais
recente livro, “1889”. O título de duque
valia três vezes mais do que o de barão. Em tempo de crise, as concessões nobiliárquicas
aumentavam muito, como sucedeu nos estertores da Monarquia. Muitos militares
foram então agraciados, numa tentativa do Império granjear a simpatia das armas.
Tantos que até virou piada. Dizia-se: “Sai daí, cachorro, senão eu ti faço
barão”...
Nem por isso, o coronel Justino Bezerra
conseguiu seu galardão. O velho monarca Pedro II já havia sido deposto, quando,
mesmo assim, o visconde Nogueira da Gama lhe trouxe, burocraticamente, uma
pasta com um monte de papeis, inclusive títulos de barão, prontinhos para
assinatura, no último suspiro do poder... Quem sabe, o ato do coronel Justino lá
estaria encalhado no meio daqueles quase documentos.
Não era só dinheiro, porém, o fermento
da “nobreza” brasileira. Havia outras motivações para o reconhecimento do
imperador. O título de duque era o topo da honraria. Durante décadas, até 1889,
só duas pessoas tiveram a glória de exibir tamanho privilégio: Luís Alves de
Lima e Silva, o famoso Duque de Caxias; e Isabel Maria de Alcântara, a duquesa
de Goiás, filha de Domitila de Castro, a amante preferida, entre as muitas do
imperador Pedro I, que, aliás, a fez marquesa de Santos. Caxias conquistou seu título,
lutando na Guerra do Paraguai. E Domitila? Na cama. Mas isso é outra
história...