terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Do pároco de vila a "santo" do Nordeste

A história de Juazeiro confunde-se com a de Padre Cícero. O então Cícero Romão Batista nasceu em 24 de março de 1844, no Crato, filho de Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência Romana. Foi batizado em 8 de abril pelo padre Manoel Joaquim Aires. Aos 7 anos, começou a estudar com o professor Rufino de Alcântara Montezuma e fez sua primeira comunhão na Matriz do Crato.
Aos 12 anos, passou a ser aluno do professor latinista padre João Marrocos Teles. Foi nessa época que fez o voto de castidade, influenciado pela leitura da vida de São Francisco de Sales, como ele próprio afirma em seu testamento.


Apesar de arrebatar multidões com seus sermões, Pe. Cícero tirava notas baixas em oratória no seminário
Colégio Diocesano Padre Rolim


Seu pai, sabendo dos seus progressos nas aulas, matriculou Cícero no famoso colégio do padre Inácio de Sousa Rolim, em Cajazeiras, Paraíba. Em 1862, interrompeu seus estudos e retornou ao Crato para cuidar da sua mãe e irmãs solteiras, devido à morte inesperada do pai, vítima da cólera-morbo. A morte do pai trouxe sérias dificuldades financeiras à família. Em 1865, quando Cícero precisou ingressar no Seminário da Prainha, em Fortaleza, só conseguiu graças à ajuda de seu padrinho de crisma, o coronel Antônio Luís Alves Pequeno. No período do seminário, Cícero era considerado um aluno mediano e, apesar de anos depois arrebatar multidões com seus sermões, apresentou notas baixas em oratória e eloquência.

Professor de latim
Padre Cícero foi ordenado em 30 de novembro de 1870. Em seguida, retornou ao Crato. Enquanto o bispo não lhe dava uma paróquia para administrar, ficou a ensinar latim no Colégio Padre Ibiapina, fundado e dirigido pelo professor José Marrocos, seu primo.
No Natal de 1871, convidado pelo professor Simeão Correia de Macedo, Padre Cícero visitou pela primeira vez o povoado de Juazeiro (numa fazenda na povoação de Juazeiro, que pertencia ao Crato), e ali celebrou a Missa do Galo.
O padre visitante, de 28 anos de idade, estatura baixa, pele branca, cabelos louros, penetrantes olhos azuis e voz modulada, impressionou os habitantes do lugar. E a recíproca foi verdadeira. Por isso, decorridos alguns meses, exatamente no dia 11 de abril de 1872, lá estava ele de volta, com bagagem e família, para fixar residência definitiva no Juazeiro.

Beata Maria de Araújo

Muitos afirmam que Padre Cícero resolveu fixar morada em Juazeiro devido a um sonho (ou visão) que teve, segundo o qual ele viu Jesus Cristo e os 12 apóstolos. De repente, adentra ao local uma multidão de famintos. Cristo então falou da sua decepção com a humanidade, mas também disse estar disposto a fazer um último sacrifício para salvar o mundo. Jesus então apontou para os pobres, e ordenou: "E você, Padre Cícero, tome conta deles!". Em 1889, durante uma missa celebrada por ele, a hóstia ministrada à beata Maria de Araújo se transformou em sangue. Segundo relatos, tal fenômeno se repetiu diversas vezes durante cerca de dois anos. Rapidamente espalhou-se a notícia de que acontecera um milagre em Juazeiro.
A Diocese do Ceará formou uma comissão para investigar o suposto milagre. Em 13 de outubro de 1891, a comissão concluiu que não havia explicação natural para os fatos, sendo portanto um milagre. Insatisfeito com o parecer, o bispo dom Joaquim José Vieira nomeou uma nova comissão, que concluiu que não houve milagre. Favorável ao segundo parecer, dom Joaquim suspendeu as ordens de Padre Cícero e determinou enclausuramento da beata.
Em 1898, o sacerdote foi a Roma, onde conseguiu sua absolvição. Mas ao retornar a Juazeiro, a decisão foi revista e ele foi excomungado. Porém, segundo dom Fernando Panico, da Diocese de Crato, estudos apontam que a excomunhão não chegou a ser aplicada. Atualmente, ele conduz o processo de reabilitação do Padre Cícero junto ao Vaticano. Em 1977, o sacerdote foi canonizado pela Igreja Católica Apostólica Brasileira (diferente da Igreja Católica Apostólica Romana).


MILAGRE

A Igreja Matriz antiga tinha aspecto totalmente diferente.

1889


É o ano em que ocorreu a suposta transmutação de uma hóstia em sangue, na boca da beata Maria de Araújo. O "milagre" que atraiu romeiros para Juazeiro foi combatido pela Igreja.




Antônio Vicelmo


Repórter 

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