por Francisco Frassales Cartaxo
O inquérito policial acerca da explosão
da bomba-relógio no Cine-Teatro Apolo XI, em 1975, foi localizado pela Comissão
Estadual da Verdade, segundo divulgou o Gazeta do Alto Piranhas, semana passada.
Conhecer aquele processo é o sonho de pesquisadores e jornalistas interessados
no tema. Trinta anos após o atentado, quando eu recolhia dados para escrever o
livro “Do bico de pena à urna eletrônica”, resolvi acrescentar um capítulo
específico sobre o episódio, não previsto no roteiro inicial do estudo. Era estranho
ver ação tão brutal relegada ao baú do mistério. Não encontrei sequer uma nota
oficial, ainda que fosse para nada dizer. Naquela oportunidade, fiz a
reconstituição do fato, com base nos jornais de João Pessoa, além de esboçar o
perfil de dom Zacarias, o presumido foco do ato criminoso.
Foi com base na leitura do “Capítulo 8
- Atentado contra dom Zacarias Rolim de Moura”, que o Jornal do Commercio, do
Recife, depois de várias rodadas de conversa com o autor destas linhas, decidiu
mandar a Cajazeiras uma equipe especial, que produziu com muita competência e
profissionalismo longa reportagem divulgada em quatro edições dominicais seguidas,
entre 17 de abril e 8 de maio de 2011. O trabalho do JC, a mais completa
reconstituição dos fatos, buscava alcançar quatro objetivos principais: a) chamar
a atenção para a tentativa de matar um bispo católico, na qual morreram duas
pessoas e outras duas restaram feridas; b) tentar induzir a confissão de algum
personagem envolvido diretamente no atentado; c) ter acesso ao inquérito
oficial realizado pelas autoridades policiais e militares.
E o quarto objetivo?
Este eu não posso revelar por escrúpulo
ético, como participante ativo das articulações iniciais e da própria execução
do projeto, na condição de acompanhante. Os profissionais do JC se deslocaram até
Cajazeiras, a Juazeiro do Norte e Campina Grande para colher depoimentos, entre
outras pessoas, dos dois sobreviventes, familiares, historiadores. Testemunhei
o enorme esforço jornalístico, pois me agreguei à equipe na viagem a esses
lugares, participando de quase todas as entrevistas realizadas. De uma, todavia,
fiquei fora: a conversa com o americano Francis Xavier Boyes, aqui no Recife,
por imposição daquele professor.
Fui testemunha também do enorme esforço
do jornalista Ayrton Maciel para ter acesso ao inquérito ou obter pelo menos
uma palavra oficial a respeito do atentado a dom Zacarias. Nada. Todas as
portas se fecharam. Negaram a existência de registro nos arquivos de vários
órgãos, inclusive do Ministério da Justiça. O mesmo Ministério que agora repassa
cópia do processo à Comissão Estadual da Verdade. Um grande tento do governo
Ricardo Coutinho, mérito para os membros daquela Comissão. Resta aguardar o
relatório da professora Irene Marinheiro e esperar que o documento oficial seja
esclarecedor. E não um embuste. Um embuste como foi, por exemplo, o inquérito feito
pelo Exército sobre o desastrado caso do Rio Centro, no dia 1º de maio de 1981,
cujas conclusões agrediram as evidências em contrário.
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