quinta-feira, 19 de junho de 2014

Inquérito do atentado a dom Zacarias

por Francisco Frassales Cartaxo
O inquérito policial acerca da explosão da bomba-relógio no Cine-Teatro Apolo XI, em 1975, foi localizado pela Comissão Estadual da Verdade, segundo divulgou o Gazeta do Alto Piranhas, semana passada. Conhecer aquele processo é o sonho de pesquisadores e jornalistas interessados no tema. Trinta anos após o atentado, quando eu recolhia dados para escrever o livro “Do bico de pena à urna eletrônica”, resolvi acrescentar um capítulo específico sobre o episódio, não previsto no roteiro inicial do estudo. Era estranho ver ação tão brutal relegada ao baú do mistério. Não encontrei sequer uma nota oficial, ainda que fosse para nada dizer. Naquela oportunidade, fiz a reconstituição do fato, com base nos jornais de João Pessoa, além de esboçar o perfil de dom Zacarias, o presumido foco do ato criminoso.
Foi com base na leitura do “Capítulo 8 - Atentado contra dom Zacarias Rolim de Moura”, que o Jornal do Commercio, do Recife, depois de várias rodadas de conversa com o autor destas linhas, decidiu mandar a Cajazeiras uma equipe especial, que produziu com muita competência e profissionalismo longa reportagem divulgada em quatro edições dominicais seguidas, entre 17 de abril e 8 de maio de 2011. O trabalho do JC, a mais completa reconstituição dos fatos, buscava alcançar quatro objetivos principais: a) chamar a atenção para a tentativa de matar um bispo católico, na qual morreram duas pessoas e outras duas restaram feridas; b) tentar induzir a confissão de algum personagem envolvido diretamente no atentado; c) ter acesso ao inquérito oficial realizado pelas autoridades policiais e militares.
E o quarto objetivo?
Este eu não posso revelar por escrúpulo ético, como participante ativo das articulações iniciais e da própria execução do projeto, na condição de acompanhante. Os profissionais do JC se deslocaram até Cajazeiras, a Juazeiro do Norte e Campina Grande para colher depoimentos, entre outras pessoas, dos dois sobreviventes, familiares, historiadores. Testemunhei o enorme esforço jornalístico, pois me agreguei à equipe na viagem a esses lugares, participando de quase todas as entrevistas realizadas. De uma, todavia, fiquei fora: a conversa com o americano Francis Xavier Boyes, aqui no Recife, por imposição daquele professor.

Fui testemunha também do enorme esforço do jornalista Ayrton Maciel para ter acesso ao inquérito ou obter pelo menos uma palavra oficial a respeito do atentado a dom Zacarias. Nada. Todas as portas se fecharam. Negaram a existência de registro nos arquivos de vários órgãos, inclusive do Ministério da Justiça. O mesmo Ministério que agora repassa cópia do processo à Comissão Estadual da Verdade. Um grande tento do governo Ricardo Coutinho, mérito para os membros daquela Comissão. Resta aguardar o relatório da professora Irene Marinheiro e esperar que o documento oficial seja esclarecedor. E não um embuste. Um embuste como foi, por exemplo, o inquérito feito pelo Exército sobre o desastrado caso do Rio Centro, no dia 1º de maio de 1981, cujas conclusões agrediram as evidências em contrário.


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