quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Rivaldo Antônio Santana - O Maestro.

Fonte: Blog Cajazeiras de Amor (Francisco Cleudimar F. de Lira)
O Maestro Rivaldo Antonio Santana (foto) era natural da cidade de Vitória de Santo Antão no Estado de Pernambuco. No início dos anos 60, aportou em Cajazeiras através de um circo onde era integrante do grupo de músicos do mesmo. Com a saída do circo, o maestro preferiu ficar na cidade, já que a mesma consolidava os primeiros acordes para formação de sua orquestra. Na banda cajazeirense, a sua primeira apresentação em público se deu na execução de duas peças, o Hino Nacional Brasileiro, com arranjos simplificados e o dobrado Capitão Caçula (Marcha do Soldado).
Já entrosado com os músicos locais, participando ativamente de monitorias para formação de fanfarras escolares, bem como, as atividades ligadas a músicas na cidade, o maestro Rivaldo Santana, decidiu compartilhar a sua experiência na área com outros municípios vizinhos, como foi o caso do trabalho feito a partir de 1962, na cidade de Ipaumirim, onde o músico praticamente fundou a Banda Municipal e dividiu também as suas habilidades de arranjador na formação da primeira orquestra de baile daquela cidade cearense, citada abaixo pelo músico Francisco Joaquim Farias.
Banda de Música de Ipaumirim/CE.
Foi no dia 07 de setembro daquele corrente ano de 1962 que a bandinha, pela primeira vez, fez ecoar seus acordes pelas ruas da cidade. Estava, naquela festiva data de comemoração da Independência, lançado em Ipaumirim aquele que foi, até o presente momento, o projeto que mais revelou talentos na arte, com alguns conhecidos em todo o Estado.” E acrescentou, “Essa Orquestra, que teve um copioso trabalho de ensaios, pela inexperiência dos músicos em atuar em um novo segmento, a música popular, teve a oportunidade de associar a qualidade notável dos arranjos do Mestre Rivaldo Santana.”
Sua grande colaboração a cultura de Cajazeiras é irretocável e foi reconhecida no brilhante trabalho que fez como professor de música, regente da filarmônica Santa Cecília e no coral João de Deus, que na época era ligado ao antigo NEC - Núcleo de Extensão Cultural, órgão vinculado  ao antigo Campus V da UFPB, pelo qual o maestro respondia pela coordenação de música. Formador de uma geração de músicos,
Rivaldo Santana foi um incentivador incansável da busca de novos talentos. Passou por quase todas as orquestras formadas na cidade, como fui o caso das orquestras “Chaveron” e “Manaíra”, onde o maestro deu sua colaboração como músico e arranjador.  A sua morte foi uma perca para a música cajazeirense. Ocorreu na cidade de Campina Grande, Paraíba, em setembro de 2006.


quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

O João Izidro, o médico espirituoso!, por Gaudêncio Torquato


Cine Apolo XI; um caso sem solução

Um mistério rodeia Cajazeiras, Sertão da Paraíba, divisa com o Ceará. O povo conta um episódio que ocorreu há 35 anos, em 2 de julho de 1975, mas que se mantém sem autoria . Um atentado a bomba matou dois, mutilou outros dois e destruiu o Cine-Teatro Apolo 11. O alvo, dom Zacarias Rolim de Moura, bispo conservador da Diocese de Cajazeiras, escapou porque tinha viajado ao Recife. A história é contada, mas o mistério não se revela. Quem quis matar dom Zacarias? Auge do regime militar, a ditadura iria enfrentar, nos seis anos seguintes, a linha-dura contrária à redemocratização.
Cajazeiras (PB), 2 de Julho de 1975. A fase mais dura do regime militar de 1964 estava no auge. Na pacata cidade do Sertão da Paraíba, a 460 Km de João Pessoa e 600 Km do Recife, a população é sacudida por uma explosão sentida até fora da cidade. Às 21h, com as ruas desertas, a cidade havia começado a adormecer. Os moradores do centro correm para o local do impacto: o Cine-Teatro Apolo 11, fundado pelo bispo dom Zacarias Rolim de Moura, à época com 60 anos, um fanático por cinema e frequentador assíduo das sessões. O cenário era incomum e desolador para Cajazeiras: as poltronas destroçadas e quatro homens jogados ao chão. O soldado Altino Soares, o Didi, 43, com as pernas amputadas. O ex-recruta do Tiro de Guerra, Manuel Conrado (Manuelzinho), 19, com uma lasca de madeira na cabeça, o seu irmão e operador de projetor Geraldo Conrado, 31, com a perna direita partida e o corpo perfurados por fragmentos, e o adolescente Geraldo Galvão, 16, do abdômen para baixo perfurado e as pernas queimadas.
Uma bomba explodiu no Apolo 11, 15 minutos depois do encerramento da sessão. Levados para João Pessoa, Manuelzinho morreria dois dias depois e o soldado Didi, da PMCE, nove dias depois. Dom Zacarias escapou.
Naquela tarde, havia embarcado em um ônibus com destino ao Recife, onde – além das atividades pastorais – ia às distribuidoras alugar filmes para os cinemas da Diocese de Uma bomba explodiu no Apolo 11, 15 minutos depois do encerramento da sessão. Levados para João Pessoa, Manuelzinho morreria dois dias depois e o soldado Didi, da PMCE, nove dias depois. Dom Zacarias escapou. Naquela tarde, havia embarcado em um ônibus com destino ao Recife, onde além das atividades pastorais ia às distribuidoras alugar filmes para os cinemas da Diocese de Cajazeiras. Dom Zacarias, um bispo conservador, contraponto à Igreja progressista liderada pelo arcebispo Metropolitano, dom José Maria Pires (dom Pelé), e pelo bispo de Guarabira, dom Marcelo Carvalheira era frequentador privilegiado que tinha a sua cadeira cativa no Apolo 11. O saldo do atentado não foi maior devido ao imponderável de uma fita de má qualidade, que partiu várias vezes, encurtando a sessão em 15 minutos, e ao enredo do filme, um drama que não agradou à platéia admiradora de faroestes e filmes de aventura.


A quarta-feira, 2 de julho de 1975, tinha sido mais um dia comum na vida simples e bucólica de Cajazeiras, então com 40 mil habitantes. Cinema era a maior diversão e mais de 40 espectadores tinham acabado de assistir ao filme Sublime Renúncia, no Cine-Teatro Apolo 11. Uma parte saiu antes do final. A cadeira cativa de dom Zacarias Rolim de Moura estava vazia, mas debaixo dela havia uma pasta modelo 007. Na varredura final do auditório, antes do fechamento do cinema, Geraldo Galvão encontra e entrega ao soldado Didi a pasta abandonada. A explosão que sacudiu a cidade e assustou a população foi uma questão de segundos. Na curiosidade, ao abrir para saber de quem era, Didi puxa de dentro algo que imagina ser um gravador. A poucos metros, Manuelzinho grita: não mexe, é uma bomba. No susto, Didi soltou a bolsa no chão.
O impacto do poder explosivo da bomba-relógio arrancou-lhe as pernas e o levaria à morte, juntamente com Manuelzinho. Os dois Geraldos ficaram mutilados. O agente federal disse a mim que tinha 15 minutos ainda para ela explodir. Se ele (Didi) tivesse colocado devagarzinho no chão e se afastado, tinha evitado a morte, relata dona Francisca Soares (dona Francisquinha), 71, viúva do soldado. No dia seguinte, um avião da Força Aérea levaria oficiais do IV Exército, com sede no Recife, e o comando e investigadores da Polícia Federal e da Secretaria de Segurança Pública da Paraíba a Cajazeiras. A cidade viveu 30 dias de suspense e temor de um novo atentado.
Na Paraíba, nos círculos políticos e da imprensa, a versão que se espalha é a de um atentado terrorista da esquerda contra o bispo dom Zacarias Rolim de Moura. Na oposição, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) rebate, acusando ter sido um atentado da direita para incriminar a esquerda e desestabilizar a abertura política no País.
Um ano antes, havia assumido a Presidência da República o general de Exército Ernesto Geisel (1974/1979) sucessor do general Emílio Garrastazu Médici (1969/1974), que pressionado pela esmagadora vitória da oposição (MDB) nas eleições de 74, propõe à nação uma distensão (abertura) lenta, gradual e segura” de retorno à democracia. Uma série de atos da linha-dura e do braço clandestino do regime se sucedem para impedir a abertura política, a transferência do poder aos civis e o retorno das eleições gerais.
Ação seria da mesma safra da OAB e do Riocentro
Um encontro casual, na Prefeitura de João Pessoa, em 1986, onze anos depois do episódio, consolida os indícios de uma ação do braço armado clandestino da ditadura militar no atentado ao cine Apolo 11. O ex-vice-prefeito de Cajazeiras, Abidiel de Souza Rolim, 71, é apresentado por um amigo comum ao general Antônio Bandeira, um paraibano linha-dura e primeiro comandante das tropas do Exército que combateram a guerrilha do PCdoB no Araguaia, Sul do Pará, entre 1971 e 1974. Bandeira revela que havia conhecido Cajazeiras, ao que Abidiel responde com espanto: Um general na minha terra? Bandeira então diz que foi na época das investigações da bomba do cinema, sem dar maior detalhe.
Movido pela curiosidade, o dentista Abidiel Rolim afirma que prolongou o diálogo com o general, para tanto indagou se a bomba em Cajazeiras tinha alguma relação com os episódios da OAB/RJ e Riocentro. A resposta foi surpreendente: São da mesma safra, sintetizou sem acrescentar mais nada, segundo Abidiel.
Inquérito foi aberto pela Polícia Federal para apurar a autoria intelectual e quem colocou a bomba, e o Exército fez investigações. Os suspeitos imediatos um líder político, um padre e um gênio autodidata surgiram à cabeça da população, suspeitas nunca comprovadas. Quem teria interesse em matar dom Zacarias e conhecimento para preparar uma bomba? Os três suspeito eram cidadãos acima de qualquer suspeita para a Igreja e o povo.
Deputado estadual pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), ex-líder estudantil e considerado um agitador, o advogado João Bosco Braga Barreto foi o mais ouvido pela Polícia Federal. O técnico em eletrônica Inácio Assis, admirado pela inteligência, também depôs. E o padre norte-americano e professor Francis Xavier Boyes, o Mr. Boyes, um liberal para os padrões de Cajazeiras que teria sido censurado por dom Zacarias foi incluído na relação. As suspeitas foram derrubadas nos depoimentos. Restou as de historiadores e políticos: matar um bispo conservador e atribuir à esquerda iria endurecer o regime.
No processo de abertura, uma série de bombas
A bomba do Cine-teatro Apolo 11, em Cajazeiras, Sertão da Paraíba, em 1975, foi o primeiro de uma série de episódios ocorridos ao longo dos governos dos generais Ernesto Geisel e João Baptista Figueiredo. Ao assumir, em 15 de março de 1974, Geisel anuncia o processo de abertura política lenta, gradual e segura. Escolhido por Geisel, Figueiredo assume, em 1979, com a missão de dar continuidade à distensão e devolver o poder aos civis.
A linha dura do regime e o braço clandestino da repressão deflagram, então, uma luta para inviabilizar a redemocratização com ações de violência e terrorismo. Em 1975, submetido a tortura, morre nas dependências do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), de São Paulo, órgão subordinado ao Exército, o jornalista Vladimir Herzog, da TV Cultura. Em 1976, o líder metalúrgico Manoel Fiel Filho é também encontrado morto em uma cela do DOI-Codi. Ambos militavam no PCB.
Em 1977, o general Geisel enfrenta o auge de uma crise com o comandante do Exército, general Sylvio Frota, um linha dura que defendia o endurecimento do regime. Geisel resolve isolar o segmento militar contrário à abertura política. Surge a versão de que o general Frota pretende ser presidente da República, gerando a suspeita de preparava um golpe para depor Geisel. Para preservar a abertura política e a sua autoridade sobre as Forças Armadas, Geisel depõe Frota em 12 de outubro.
Eleito, indiretamente, pelo Congresso Nacional, o ex-chefe da Casa Militar de Geisel, João Baptista Figueiredo, enfrenta três episódios que elevam a tensão no País. Uma série de ataques à bomba a bancas de revistas, em capitais, é executada, em seguida, o Brasil é sacudido pela carta-bomba na sede da OAB/RJ, que matou a secretária da entidade, Lyda Monteiro Silva, em 27 de agosto de 1980.
Na última ação de desespero da direita, fracassa o atentado no pavilhão do Riocentro, na noite de 30 de abril de 1981, quando ocorria um show pela passagem do Dia do Trabalhador. A bomba explode no colo do sargento do Exército, Guilherme do Rosário, quando armava o dispositivo. Ele morre na hora e fica ferido o capitão Wilson Machado. O inquérito militar acusa a esquerda radical, mas depoimentos de agentes do regime à imprensa provam a ação da direita radical contra a redemocratização.
Dom Zacarias Rolim, o alvo do atentado
Um bispo tipo bonachão e tranquilo, mas apoiador do golpe e alinhado com o regime militar de 1964. O líder da Diocese de Cajazeiras, dom Zacarias Rolim de Moura, um tradicionalista que permitia missa celebrada em latim tinha, também, uma visão pragmática e a preocupação com a altivez e independência da Igreja. O longo bispado caracterizou-se pela criação de condições para a autonomia financeira da Diocese, agregando um patrimônio que se constitui fonte de renda para as atividades religiosas e de ensino. Construiu dezenas de imóveis pelos 43 municípios da Diocese, que servem de renda e como morada de padres. Por 40 anos conduziu a Diocese de Cajazeiras, zelando pela disciplina, os bons costumes e a educação.
Dom Zacarias não era um homem intolerante, mas era de posições firmes, tanto que considerava que a Diocese deveria ter arrecadação própria, e não depender do governo. Com a arrecadação do dízimo, conseguiu construir mais de 40 casas na Diocese, lembra o padre Antônio Luiz do Nascimento, o padre Buíca, 74, que o auxiliou no Conselho da Diocese. No período militar de 64, a gestão conservadora de dom Zacarias enfrentou divergências e resistências de padres da linha progressista, seguidores da Teologia da Libertação. O conflito mais profundo ocorreu com o grupo de cinco padres italianos, oriundos de Verona, que chegaram a partir de 1974.
Abrindo comunidades eclesiais de base, os italianos passaram a trabalhar na organização de camponeses e sindicatos e começaram a contestar a ação pastoral de dom Zacarias e a sua autoridade, e atuar em desobediência e sem dar satisfação das ações. O confronto só acabou após dom Zacarias pedir e conseguir que a Diocese de Verona chamasse os italianos de volta.
Politicamente de direita e ligado à ala conservadora da Igreja Católica, dom Zacarias tinha o perfil de homem culto, com domínio do português e com conhecimento profundo do latim e de história. Fã de cinema e assíduo frequentador das sessões, o bispo fazia a seleção dos filmes em cartaz nos cines Apolo 11 e Pax. Nas viagens ao Recife, pela Igreja, aproveitava para alugar fitas nas distribuidoras.
Nasceu em 1914, na fazenda Malhada das Pompas, em Umari, Ceará, divisa com a Paraíba. Era neto do tenente-coronel da Guarda Nacional, Vital de Souza Rolim (1829/1915), primeiro grande chefe político e fundador do Partido Liberal em Cajazeiras, no período da Monarquia .
Ordenou-se em 1937, no Seminário Arquidiocesano da Paraíba, em João Pessoa, retornando a Cajazeiras como padre e diretor do Colégio Diocesano Padre Rolim. Elevado a bispo de Cajazeiras, em 1953, pelo papa Pio XII, foi fiel ao legado de educador deixado pelo fundador da cidade, padre Ignácio de Souza Rolim (1800/1899). Dom Zacarias investiu no ensino, abrindo escolas em cidades da abrangência da Diocese.
Fundou, também, em 1964, um mês após o golpe, a Rádio Alto Piranhas (alusão ao Rio Piranhas, que se une ao Rio Peixe e formam o Rio Açu, no Rio Grande do Norte), e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cajazeiras, em 1969, incorporada pela UFPB, além dos cines Pax e Apolo 11, homenagem aos astronautas norte-americanos que primeiro chegaram à Lua. Sagrado bispo emérito de Cajazeiras, em 1990, pelo Papa João Paulo II, renunciou aos 76 anos. Morreu na Malhada das Pompas, em 5 de abril de 1992.
Explosão, dois mortos, feridos e… censura
Uma coincidência aconteceu naquela noite de 2 de julho de 1975. O filme em cartaz era Sublime Renúncia, com a atriz Romy Schneider em um dos principais papéis, que não agradou à maioria. Para piorar a insatisfação, o rolo de fita tinha problema e partiu várias vezes. A platéia apupava, assobiava, batia nas carteiras. Paguei pra vê, quero meu dinheiro de volta eram algumas frases jogadas antes dos mais irritados se retirarem. Ironia do destino ou a arte imitando a vida, o filme tem uma cena de assalto a banco, na qual a personagem provoca uma explosão de bomba-relógio ao abrir o caixa forte.
Os irmãos Geraldo e Luiz Conrado eram os responsáveis por operar os projetores do cine Apolo 11, que ficavam no primeiro andar do auditório. Por ainda estar na sala de projetores, Luiz saiu ileso. O caçula Manuel Justino Conrado (Manuelzinho), que tinha servido ao Tiro de Guerra de Cajazeiras, era o porteiro. O soldado Didi fazia a segurança e ajudava às vezes na portaria. O menor Geraldo Galvão, para ganhar uns trocados, corria o auditório depois das sessões para recolher objetos e pertences deixados pelos espectadores. O soldado Altino Soares (Didi) recebia e os guardava para os proprietários.
No final do filme, um ficava para desligar a máquina e o outro as luzes do auditório. Eu desci para apagar as luzes laterais. Foi aí que veio o papuco (pipoco). Fui atingido ainda na escada, narra Geraldo Justino Conrado, aos 66 anos, mostrando as pernas deformadas pela fratura e pelos estilhaços. Hoje, vive tomando remédios para dores e para os nervos”.
As vítimas foram levadas de imediato ao Hospital Regional de Cajazeiras para o socorro de urgência. Dois dias depois, seguiram para João Pessoa, internando-se no Hospital Edson Ramalho. Com o cérebro perfurado por uma lasca de madeira de uma das cadeiras, Manuelzinho permaneceu todo o tempo inconsciente e foi o primeiro a morrer, dois dias depois do atentado. Nove dias após o episódio, morre o soldado Didi. A bomba tinha um alto poder de destruição, a ponto de ter arrancado a grade da entrada do Cine-Teatro.
Quando eu cheguei, Didi ainda estava vivo. Eu disse: ‘Didi, e aí?’ Ele respondeu: ‘Eh, tem jeito, não’. As pernas (os restos) foram amputadas, recorda Geraldo Galvão. A infecção generalizada levou o soldado à morte.
O jornal oficial do governo da Paraíba, A União, revela no dia 4 de julho, que a notícia do atentado só tinha chegado a João Pessoa na noite anterior, quando da passagem pelo Aeroporto Castro Pinto de um avião da Força Aérea Brasileiro que conduzia um coronel, um major e um capitão do Exército, componentes de uma comissão investigadora. No aeroporto, embarca o secretário de Segurança Pública, coronel Audízio Siebra. À tarde, havia seguido para Cajazeiras o superintendente da Polícia Federal na Paraíba, Sadoc Thales Reis.
Na edição de 5 de julho, três dias depois, o jornal O Norte de João Pessoa informa que as autoridades não tinham identificado ainda quem colocou a bomba, porém, acreditavam que se tratava de uma ação terrorista com ramificações no Estado e que a pessoa que levou o petardo para a cidade não agiu isoladamente. Essa interpretação demonstrava, assim, que os órgãos de investigação consideravam que as autorias intelectual e material foram de pessoas de fora da cidade.
O governador Ivan Bichara (Arena) visita a cidade no dia 7 de julho e, segundo A União, impressiona-se com os estragos da explosão. Bichara reúne-se também com Dom Zacarias Rolim de Moura, que havia retornado à cidade. Ao jornal O Norte, edição de 8 de julho, o bispo afirma: Não tenho inimigos, se ideologicamente entre em divergência com outras pessoas, não vejo razão nenhuma para que isso justifique um atentado, pois sou apenas um discípulo de Deus.

O historiador e professor da Universidade Federal de Campina Grande, Francisco Chagas Amaro, 58, natural de Cajazeiras, à época um radialista com 23 anos, revela que a censura do regime militar passou a tomar conta do noticiário. Notícias na imprensa eram só as oficiais. O episódio da bomba ficou sob censura. Tudo corria sob sigilo. Ninguém se aventurou a comentar ou fazer juízo. Estabeleceu-se o silêncio. A imprensa não teve acesso ao inquérito, destaca.
A bomba do Apolo 11, a história não concluída

Ayrton Maciel amaciel@jc.com.br
Jornal do Commercio extraído do site Folha Vip de Cajazeiras.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

REEDIÇÃO: Como anda o processo de canonização do Padre Rolim?


Brasão da família Rolim
BLOG: quais foram as origens do Padre Rolim?
Padre Raymundo Rolim: o padre Inácio de Sousa Rolim era filho do casal Vital de Sousa Rolim e Francisca Ana de Albuquerque, essa era natural do Rio Grande do Norte e o Vital de Sousa Rolim era de Pernambucano, vieram do Ceará para a Paraíba. Chegando a Cajazeiras, o casal foi residir primeiro no sítio Serra Vermelha, depois no sítio Serrote, onde justamente nasceu o terceiro filho, o Inácio de Sousa Rolim. Então observa-se o fundamento da família Rolim na cidade e na região de Cajazeiras.
BLOG: qual era a opinião geral do povo, seus contemporâneos, sobre a vida do Padre Rolim?
Padre Raymundo Rolim: a opinião geral das pessoas, conterrâ-neos e contemporâ-neos de Inácio de Sousa Rolim atesta-vam que desde a menor idade, da infância e da juven-tude, já era um jovem sensato, equi-librado, simples e como diz um termo adequado, morige-rado, quer dizer, de bons costumes, de bom exemplo. Dessa maneira fez os primeiros estudos em Cajazeiras, em seguida foi estudar no Crato, no Estado do Ceará, onde também aparece um testemunho muito bonito do vigário do Crato, o Padre Saldanha, depois também do vigário da cidade de Sousa, o Padre Costa onde o Padre Rolim também estudou durante um ano e em todas essas etapas de seus estudos, de sua educação, está escrito nos livros o testemunho do povo, que se tratava de um jovem de bom comportamento; ótimas informações eram dadas sempre a respeito dele.  No ano de 1822 (ele nasceu em 1800) com 22 anos de idade ele ingressou no seminário de Olinda, no Pernambuco, já para fazer os últimos estudos de Teologia e Filosofia. Apenas estudou três anos e deu conta de todos os tratados de Teologia e Filosofia, sendo ordenado padre em 1925. Depois de ordenado padre, ainda permaneceu lá no seminário de Olinda, onde exerceu alguns cargos de confiança da reitoria e do bispo de Olinda e em seguida ele ficou assumindo, após a sua ordenação, a reitoria do seminário de Olinda.
BLOG: qual e como foi a sua caminhada vo-cacional? E sua ordenação?
Padre Raymundo Rolim: A sua ordenação foi exatamente a sua caminhada vo-cacional como eu já falei, tanto dos seus estudos como de seus testemun-hos de vida cristã, eram admirados por todos os co-legas e por toda a diretoria do semi-nário de Olinda. Existe até uma carta comendatícia, quer dizer de recomendação dos seus comportamentos, do bispo de Olinda, Dom Tomás Noronha, que, lida, todo mundo entende, como se tratava de um jovem cheio de ideais e de virtudes que deram lugar a sua ordenação que foi feita exatamente dentro de seis meses quando recebeu todas as ordens sacras. Desde as ordens menores e as três ordens maiores, subdiaconato, diaconato e o presbiterato, todos foram dados dentro de um mês, pela a sua indiscutível competência. Não houve período de experiência, para que alguém denunciasse qualquer coisa a respeito dele como é a regra, porque todas as informações que vinham por onde ele passou, eram ótimas. Eram de grandes virtudes e por isso mesmo a sua caminhada vocacional foi realmente coroada de boas informações a respeito de um homem de Deus, de muitas virtudes.
BLOG: qual sua missão de padre?
Padre Raymundo Rolim: depois de ordenado ele permaneceu em Olinda como diretor e professor do se-minário, até 1829, quando aceitando, por obediência ecle-siástica, o pedido do bispo de Olinda e o bispo de três Esta-dos: o Rio Grande do Norte, da Paraíba e do Pernambuco. Mas o seu amor pelo sertão, sempre aquela vontade de voltar ao seu rincão natal, aliado à carência de padres dedicados na região, tudo isto o motivou a se  dedicar também a maior parte do seu tempo à educação religiosa dos jovens, mas, sobre tudo a dedicação pastoral. Havia muitos padres naquele tempo envolvidos em política como também envolvidos em várias atividades não sacerdotais, por isso havia muita falta de padres no interior e ele resolveu com a licença do senhor bispo de Olinda, vir para Cajazeiras em 1829, iniciando então a sua caminhada.
BLOG: onde e quando exerceu a missão de educador na fé?
Padre Raymundo Rolim: essa missão de educador na fé e-le exerceu inici-almente, como eu já havia dito, em toda a região do Ceará, onde per-corria grandes dis-tâncias. Vale lem-brar que essas via-gens eram feitas a cavalo, sozinho. De Cajazeiras pra o Inhamuns e até perto de Sobral, ele fazia missão apostólica, quando deixava o seu pequeno educandário, que primeiro foi na escolinha da Serraria (em Cajazeiras, na atual Rua Dr. Coelho), depois o colégio fundado já no povoado de Cajazeiras ele deixava por conta dos professores, que eram as suas irmãs e também alguns parentes que ele tinha e que trouxe do Recife e fazia essas viagens, permanecendo três ou quatro meses em cada fazenda, onde havia uma capela, ou se não havia ele improvisava um local onde celebrava e assim, fazia a sua missão de padre. Nunca foi pároco, nunca foi vigário, mas fez essas missões em toda a sua vida de clérigo (quase setenta e cinco anos de sacerdócio), nos estados da Paraíba, do Rio Grande do Norte, na região do Seridó, todo o Ceará e também em alguma região do Moxotó, no Pernambuco. Há vestígios da estadia do padre Rolim longe, onde ele permanecia a serviço daquelas comunidades abandonadas, num lugar onde um padre nunca pisava, mas sempre com a santa intenção de atender aos pobres. Pobres que não podiam ir às vilas e às cidades para fazerem casamentos, batizados e especialmente o batizado dos escravos, que eram considerados pelos patrões (senhores de escravos), como uma mercadoria e ninguém os batizavam e nem os casavam religiosamente. Eram comprados e vendidos, que não era gente. O padre Rolim se dava ao trabalho de batizar os escravos, tanto as crianças como os adultos e fazer o casamento destes nas diversas fazendas e locais por onde ele passou a vida inteira fazendo essas missões, dedicando especialmente aos mais abandonados.
BLOG: em que de-monstrou seu espí-rito de renúncia?
Padre Raymundo Rolim: o espírito de renúncia do padre Rolim é demonstrado, sobre-tudo na sua capa-cidade de deixar voluntariamente o seu bem estar em prol dos próximos, ele sendo, como é do conhecimento do povo, um homem culto como a história atesta, vale ressaltar que ele conhecia e falava pelo menos dez idiomas diferentes. Inclusive idiomas, não só o Latim e o Grego Antigo, mas o Sânscrito, que era uma língua em que não se sabe se esse povo ainda existe. Pois bem ele foi convidado pelo próprio imperador D. Pedro II para ensinar no Colégio Pedro II no Rio de Janeiro e ele recusou gentilmente, não aceitou. Convidado pelo presidente da Província de Pernambuco para assumir a cadeira de Latim e Grego no Colégio Pernambucano ele chegou a aceitar, mas pouco tempo depois renunciou. Foi também chamado pelo presidente da Província da Paraíba para assumir a secretaria de educação de todo o Estado, todavia enviou uma carta agradecendo o convite do presidente. Quando recebeu do imperador Pedro II duas comendas honoríficas, benefícios outrora concedidos a eclesiásticos pelo imperador em função do desempenho dentro do cenário nacional como educador, diz o meu avô, sobrinho de segundo grau do padre Rolim, que ele nunca usou essas comendas, essas medalhas de ouro, e pouco tempo depois ele as levou e entregou a um amigo, o Desembargador Boto de Menezes, dizendo: “faça disso o que quiser. Eu não uso isso. Isso não serve de nada”. De tal maneira era a simplicidade de que o padre Rolim que o levava a  recusar de tudo que era pompa, tudo que era, vamos dizer riqueza, ou qualquer prestígio, tudo renunciava e preferia ficar na singeleza de educador e como mero professor do seu colégio de Cajazeiras e que se tornou um colégio de grande fama, pois vinha alunos de todo o nordeste à Cajazeiras e além disso mantinha durante toda a sua vida o espírito de desafetação na maneira de trajar, de tratar as pessoas, igualhando-se a todos. Isso demonstrava exatamente o espírito de humildade e renúncia do padre mestre.
BLOG: de que modo viveu e como todos o viram na sua vida de penitência e oração?
Padre Raymundo Rolim: o que contam as pessoas que con-  viveram com ele, não só os alunos e professores, pode-mos também elen-car o notável Iri-neu Jofre, que foi até presidente do Estado da Paraíba, todos reconhe-ceram no padre Inácio de Sousa Rolim o homem penitente e o meu avô também falava deste seu lado asceta, ele tinha uma alimentação praticamente só para sobreviver, pois era pouquíssima e sem temperos. Meu avô também contava que ele plantava algumas carreirinhas de feijão no baixio do açude Grande e dali colhia umas vagens e não comia carne de gado e nem de criação. Muitas vezes quando uma pessoa matava um preá, que é um roedor pequeno, ele ainda dividia esse minúsculo animal em três ou quatro refeições. Este lado penitente ele transmita também para os alunos, ressalvando que tivessem o cuidado de não querer viver pra comer e sim comer só para viver. Ele se dedicava a essa tarefa de prevenir os jovens desses excessos. O padre Rolim nunca dormiu numa cama ou rede. A vida toda a família conheceu e testemunhou, como também os alunos, que ele dormia sobre uma mala grande ou então em cima de uma tábua de madeira, dura e sem forro. Só na cabeça se dava o luxo de colocar um livro, que meu avô dizia ser um livro volumoso com um paninho em cima e em algumas vezes dormia no chão, sempre orando e meditando.
BLOG: como demonstrou a sua caridade de modo heróico?
Padre Raymundo Rolim: todo mundo sabe ou já ouviu falar numa epidemia do cólera morbus, que era uma doen-ça fatal neste tempo. Pra-ticamente não esca-pava ninguém que contraísse essa doen-ça e como não havia recursos na região de Cajazeiras e, fala os livros, que até de Sousa vieram algumas fórmulas para serem manipuladas por algum farmacêutico para pelo menos aliviar o sofrimento do doente. Mas, em Cajazeiras, o padre Rolim fundou ao lado do colégio uma enfermaria, na qual recebia centenas de pessoas e dava ele mesmo assistência, arriscando a própria vida. Esse foi o sentido heróico de suas virtudes de caridade para com aquelas pessoas que estavam ali dependendo dele até o último momento da vida. Mais do que uma missão de religioso, ele fazia o papel de enfermeiro para com todos os pobres de qualquer idade e qualquer situação.
BLOG: onde, quando e como ele faleceu dando provas de sua santidade?
Padre Raymundo Rolim: a santidade do padre Rolim era conhecida em todo o nordeste. Existe uma expressão que era bom verificar até onde isso era realmente verídico, mas, existia na opinião geral de todo o povo que conhecia o padre Rolim na Paraíba de que havia três padres, não eram de boa vida, eram de vida boa no sentido de vida ilibada, vida limpa e que ninguém falava mal desses padres. Eram os padres Frei Martinho, Dom Eurico, que era beneditino e o padre Inácio de Sousa Rolim, em Cajazeiras. Sobre esses três padres ninguém nunca disse qualquer coisa que viesse abater a sua moral e nem muito menos as suas virtudes. Dessa maneira viveu a vida toda, todo mundo tinha esse conceito de que o padre Rolim era santo porque toda a sua vida foi um exemplo de caridade, de amor ao próximo, de renúncia e de penitência. Ele morreu em 16 de setembro de 1899, com quase cem anos e dando um testemunho até o último momento de sua vida de nunca ter se lamentado de todo o sofrimento dos últimos anos de vida e das doenças que o acometeram. Morreu com esse odor de santidade. De tal maneira que o povo do Nordeste quando soube do falecimento, quem pôde viajar à Cajazeiras se deslocou até esta cidade que se encheu de gente de toda a região para ver o último momento, antes do sepultamento do Padre Mestre e finalmente, vou abreviar um pouco, houve o testemunho de um oficial de um cartório de registro civil, que registrou um testemunho interessante e que está também no livro do padre Heliodoro Pires e em outras edições de outros escritores que fizeram biografia do padre Rolim, falaram que ele esteve depois de morto, durante mais de quarenta horas dentro da igreja matriz à exposição de todas as pessoas que queriam vê-lo e não havia sinais de putrefação de maneira alguma, pelo contrário, houve quem dissesse que ele exalava um odor de rosas ou de algum perfume. Isso era um sinal depois de mais de quarenta horas sem ser sepultado, não dava sinais de putrefação ou de destruição do seu organismo.
BLOG: onde e de que modo ele foi sepultado?
Croquis feito pelo próprio Padre Raimundo sobre a antiga
matriz de Cajazeiras
Padre Raymundo Rolim: ele fale-ceu no dia 16 de setembro de 1899 e foi se-pultado no dia 18 de setembro, praticamente três dias depois. E seu jazigo se encontra na igre-ja paroquial de Nossa Senhora da Piedade, que ho-je é a igreja pa-roquial de Nossa Senhora de Fátima e está sepultado até os nossos dias nesse mesmo local. Existiram pessoas, eu até procurei corrigir um livro que foi editado no bicentenário do padre Rolim, falava que os restos mortais do padre Rolim teriam sido exumados em 1937, puro engano. O que foi exumado em 1937 foram os restos mortais da mãe do padre Rolim, a mãe Aninha, que estava sepultada num túmulo na parte de trás, ligado a parede da pequena capela do Coração de Jesus, que é hoje a Praça Coração de Jesus. O prefeito Joaquim Matos mandou destruir a capela e foram encontrados dentro desse túmulo, alguns restos mortais da mãe do padre Rolim e foram levados e colocados na base do monumento do padre Inácio de Sousa Rolim, que está hoje em frente ao Colégio Nossa Senhora de Lourdes, chamada praça mãe Aninha. Mas os restos mortais do padre Rolim continuam lá onde foi sepultado, dentro da matriz Nossa Senhora de Fátima. Só que nesse tempo a igreja era pequena, não era do tamanho que é hoje, ela teria apenas uns vinte metros de comprimento por doze de largura e o local onde está os restos mortais pode serem identificados. Meu avô disse que assistiu ao sepultamento do tio (padre Rolim), e foi exatamente para ele, que era povo, que ele foi sepultado do lado direito do altar. Para os padres que se fizeram presentes no ato do sepultamento, como o padre Joaquim Sirino de Sá e Manoel Costa estiveram celebrando as exéquias e ele foi sepultado do lado esquerdo do altar, dentro exatamente da nave central. Por tanto aí está a história contada e já relatada em livros e que eu procurei resumir para que o povo tomasse conhecimento do que foi, do que é realmente a vida, a história e realmente o testemunho de fé de amor a Deus e ao próximo que deu o padre Rolim em toda a sua vida.
BLOG: quais foram os milagres alcançados por sua intercessão?
Padre Raymundo Rolim: existem várias narrações. Uma delas está no jornal Gazeta do Alto Piranhas e narra um milagre de uma criança, uma jovem, adolescente, na cidade de Pau dos Ferros, no Rio Grande do Norte, veio com a família a Cajazeiras em 1989 e pagou uma promessa no sítio Serrote, onde existe uma capelinha onde padre Rolim residia e viveu seus últimos anos de vida, a família veio com o testemunho de um médico que atestou que a moça tinha um tumor na cabeça, fizeram uma promessa para o padre Rolim de Cajazeiras e com poucos meses depois foram feitos novos exames e o tumor tinha desaparecido. Então era sinal de que havia uma intervenção especial de Deus por intermédio do padre mestre Inácio de Sousa Rolim.