Foi através de dona Erotildes Holanda
que pude colher alguns dados sobre a pessoa de Toinha, como também era
conhecida. Solteira, natural de Santa Helena, PB. Nasceu em 13 de junho, o ano ela
não soube precisar. Não sabemos como, nem quando chegou a Cajazeiras. Ao chegar
a nossa cidade, era uma pessoa aparentemente saudável, porém demonstrava uma
certa inquietude. Passou a morar com Francisca Holanda Neta, conhecida por dona
Neta; esta se mudou para João Pessoa, não sendo, então, possível levar Toinha.
Com a mudança de dona Neta, Toinha passou a ter uma vida conturbada, já que
deixara de ter residência fixa.
Passou, assim, a vida, num eterno
vai e vem de Cajazeiras ao sítio, no município de Santa Helena, onde dizia
residirem seus parentes, os quais não chegamos a conhecer. Com a ausência de
dona Neta, Toinha passou a receber o apoio, a generosidade c os cuidados de
dona Erotildes e suas Filhas.
A essa altura dos acontecimentos,
Toinha começou a apresentar distúrbios mentais, por não ter recebido um
tratamento adequado e pela falta do carinho da família. Tais problemas foram se
agravando no decorrer do tempo. Sabemos que, quando uma pessoa é acometida
dessa doença, a própria comunidade encarrega-se de piorar a situação, colocando
apelidos e tratando-a com discriminações; com ela não poderia ser diferente.
Com a doença, ela começou a
imaginar e ter paixões por pessoas da cidade, como por exemplo, o médico
Waldemar Pires Ferreira (foto), Dr. Antônio Quirino, Etiene e outros. No decorrer dos
anos, a doença foi se agravando, Toinha foi perdendo vigor da vida e cedo
envelheceu. Surgiu, então, o bendito apelido que a deixava bastante nervosa e
furiosa; “noventa e nove”.
Era uma pessoa muito conhecida na
cidade, andava muito pelas ruas e tinha como lugar preferido as repartições
públicas, onde tinha passagem livre. Sempre visitava meu local de trabalho à
procura de livros, cadernos e lápis, levando sempre consigo rosas, para me
presentear. Andava limpa e com bijuterias, brincos, anéis, pulseiras e colares.
Guardo várias lembranças de Toinha,
e uma delas foi quando, na cerimônia de casamento de Maria das Neves com
Tarcísio Lira, ela lá estava. Para fazê-la feliz por alguns minutos e também
tornar a cerimônia mais descontraída, convidei Toinha, com a permissão da
noiva, para usar a calda do véu da mesma, formando na cabeça dela uma grinalda;
a sua satisfação e alegria foram enormes, fato este registrado em fotografia.
Ela poderia está na maior alegria,
mas, para que essa felicidade terminasse, bastava alguém chamar ou dizer
‘noventa e nove'; isso era suficiente para ela chamar palavrões ou “mundo
cair”, ou também quando lhe perguntavam por um daqueles com os quais ela se
dizia enamorar.
Lembro-me também, confirmado por
dona Erotildes, que o Dr. Iemirton Braga chamou-a de “noventa e nove” foi o
suficiente para que ela apedrejasse seu carro, causando-lhe sérios prejuízos.
Diante desse fato, o referido médico tratou de encaminhá-la para um tratamento
na colônia Juliano Moreira em João Pessoa, o qual durou apenas seis meses.
Numa determinada madrugada,
Erotildes e suas filhas acordaram ao ouvir alguém chamá-las por seus nomes; ao
abrirem a porta tamanha surpresa sentiram ao se deparar com Toinha, acompanhada
de uma enfermeira que tinha acabado de receber alta do hospital. Erotildes não
pensou muito, acolheu-a como se fosse uma pessoa sua, ou como uma missão dada
por Deus.
Toinha não era mais a mesma,
estava mais velha, cadavérica, suja e com piolhos. Sentiram dó... Regina e suas
irmãs ao verem a situação de Toinha trataram de dar-lhe os primeiros cuidados.
Alimentando-se bem e com os devidos cuidados, ela foi se recuperando, o estado
físico melhorou, menos a doença mental.
Apesar de ter sempre contato com o
apoio e os cuidados da família Holanda, Toinha, em suas crises, ‘"tirava
dos cachorros e jogava Holanda”, usando sempre a frase: “a lua falta uma banda, e quem comeu foi os Holanda”.
Para nossa surpresa e dos Holanda,
no dia 31 de maio de 1993, Toinha veio a falecer em companhia de seus
familiares. Ela teve uma trajetória de sofrimento, desprezo e dificuldades. Foi
mais uma no meio de muitas “Antônias”, que, por ironia do destino, perdeu o de
mais precioso do ser humano que é a saúde mental.
Esperamos que o nosso Pai Eterno
tenha acolhido Toinha no céu, como dona Erotildes e suas filhas fizeram aqui na
terra.
Coincidência essa. Antes de ontem,31/01/2013, em visita ao meu irmão Nonato Guedes, na sua residência, ele me mostrou esse livro de Irismar que havia recebido de presente.Comentamos algumas páginas do livro e rememoramos alguns fatos e fotos de Cajazeiras. Momento nostálgico gostoso. Parabéns a Irismar pela bela e louvável iniciativa. Abraços, Fátima Aquino
ResponderExcluirOlá, gostaria se possível de receber mais informações dessa senhora. Sou historiadora e estou orientando uma monografia sobre a esquizofrenia em Cajazeiras. Grata
ResponderExcluirRosilene, todas as informações que disponho são estas da postagem
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