Por
Francisco Frassales Cartaxo
Livro de memória é baú de emoções da família e de amigos. E também fonte
para curiosos, cientistas sociais e historiadores, embora usada com reserva em
face do grau de subjetividade imanente ao memorialismo. O livro de Antonio
Assis Costa desempenha esse papel com perfeição porque a história de Cajazeiras
carece de depoimentos seguros, em especial, de informações políticas. Parece
até que a imagem grandiosa do padre Inácio de Sousa Rolim projeta sombras
fortes e desviam o foco de recantos históricos. Essa tradição vem desde a
biografia pioneira do padre Heliodoro Pires, mais tarde retomada por Deusdedit
Leitão. Eles e Antonio de Souza deixaram um legado fundamental, mas com
visíveis lacunas. As memórias de Tota Assis ajudam a reduzi-las.
O livro de Tota Assis foi uma revelação quando comecei a estudar com mais
cuidado a história política de Cajazeiras, mercê da riqueza de episódios
narrados por ele, de pistas antes inexploradas, de perfis de figuras marcantes
na área econômica, social, política, cultural e partidária da sua época. Tudo
isso Tota registra com a simplicidade de quem escreveu suas memórias, sem
preocupações com o rigor inerente aos cientistas. Isto não é função de quem
divulga suas recordações. O memorialista fixa seu olhar em situações, e opina com
total liberdade frente ao ambiente onde exerceu atividades profissionais,
partidárias, políticas. Pouco importa o viés ideológico escondido nas opiniões.
Separá-lo é tarefa para quem ler. O perfil que ele traça do mais influente
chefe político de Cajazeiras do seu tempo extrapola uma ingênua impressão de
criança. É o retrato perfeito do coronel, a célula básica do sistema político
dominante na República Velha. Aluno do professor Crispim Coelho, o menino Tota
Assis assim viu o coronel Sabino Rolim num dia de eleição:
Cel. Sabino Rolim |
"Ao redor da mesa eleitoral, rondava com seu
fraque preto e o correntão de ouro atravessado na barriga do colete, preso a um
relógio de ouro maciço, pois fortuna não lhe faltava, o Coronel Sabino que
gritava de dedo em riste: - É Epitácio e mais ninguém. A eleição é para
Epitácio, é Epitácio... Presume-se que alguns goles de vinho do Porto ou
conhaque Macieira legítimo, a bebida da moda, influenciavam os arroubos
políticos dos Chefes".
Última fotografia em vida! |
Além de responsável chefe de numerosa família, Tota Assis desempenhou
diferentes missões em Cajazeiras, militante que foi de muitas causas, sempre
abraçadas com ardor, às vezes, até se indispondo com amigos, eventualmente,
situados em campos opostos. Essa marca de sua personalidade e muitas outras
afloram no seu A(s) Cajazeiras que eu vi
e onde vivi, que seus familiares reeditam agora em formato e edição mais
bem cuidada para marcar as comemorações dos cem anos de nascimento do bonachão
Antonio Assis Costa. Homenagem justa, merecida, oportuna. E útil para a história
de Cajazeiras.
P S – Este texto está na contracapa da terceira edição do livro A(s)
Cajazeiras que eu vi e onde vivi, lançado no dia 20 de junho no Cajazeiras
Tênis Clube.
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