sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Prefácio do livro “Cajazeiras nas crônicas de um Mestre Escola”

            Existem diversas maneiras de se conhecer uma cidade. Possivelmente, a mais sig- nificativa é aquela que se processa através de seus personagens. E, nesse ponto, CAJAZEIRAS é privilegiada. Padre Rolim, Cristiano Cartaxo e ANTÔNIO DE SOUSA - só para citar una trilogia - são marcos ex- plicativos daquela terra e daquela gente.
       Hoje, conhecer Cajazeiras, é contatar com Antônio de Souza. Ele é um acervo vivo, uma memória ambulante, um patrimônio moral.
             "Titonho" (como é familiarmente identificado) notorializou-se (sic) como PRO- FESSOR. Na verdade, é um professor de poucos estudos, nas de uma larga expe- riência. Aliás, o conheci professor, nas nunca o vi dando aulas em sempre - Grupo, Colégio ou Faculdade. É que ele é professor de uma cidade inteira.
    Aqui, prefiro calar-me, pois colhi, sorrateiramente, frag- mentos de uma sua auto- biografia, Que ele fale, en- tão:
     Antônio José de Souza ou Antônio de Souza, como é vulgarmente conhecido, nas- ceu no dia 19 de outubro de 1901, no sítio Cotó, hoje si- tio Fátima, deste Município, filho legítimo de José Rai- mundo de Souza e de Leo- poldina Maria de Jesus. Es- tado civil, solteiro.
Seus pais eram camponeses pobres, descendentes da linhagem dos Gomes Albuquerque. Possuíam uma pe- quena gleba de terra, da qual tiravam o sustento para manutenção dos seus onze filhos.
   Como filho mais velho do casal, Antonio do Souza passou a infância e a adolescência ajudando o seu pai na luta quotidiana, no trabalho árduo da a- gricultura, nos serviço de roça, cuidando também da pequena criação de gado vacum, caprino, ovino e suíno.
As primeiras letras, ler e escrever e a tabuada, aprendeu com o seu pai. Em outubro de 1912, com 11 anos de idade frequentou, nela primeira vez, uma escola particular do Mestre (Professor) Samuel Albuquerque, que funcionava no sítio Cotó, em casa de um padrinho seu. Frequentou a escola durante um mês. Destacou-se entre os demais alunos pelo comportamento e pelo adiantamento das lições do Mestre, que o considerou como um dos mais inteligentes dos seus discípulos.
    Desejava estudar no Colégio. Sentia o chamamento para a vida sacerdotal. Queria ser pa- dre. Seus pais não dispunham de condições fi- nanceiras para custear as despesas dos estudos para sua formação sacerdotal. Mas não esmoreceu. Com ingentes sacrifícios conseguiu amealhar pe- quenas economias, que lhe garantiam o pagamento das despesas de um ano de estudos no Colégio. Re- solveu abandonar a vivência grosseira da roça, deixar a casa paterna, trocando o ambiente ma- tuto saturado de monotonia pelo convívio aberto, agradável e comunicativo da gente da cidade, cu- jo contato transmitia alegria e um pouco de educação social. E isso já era alguma coisa.
Em fevereiro de 1922 ingressou no Colégio Padre Rolim como aluno externo, matriculando-se no Curso Primário, que era feito em três séries, concluindo em 1923. Em 1924 iniciou o Curso Ginasial, que, naquele tempo, por deficiência pedagógica, o Colégio mantinha apenas as duas primeiras séries, ou seja, a metade do Curso. Em 1925 concluiu a série ginasial. Os alunos filhos de pais abastados que tinham condições para concluir o Curso, deslocavam-se para Recife, Paraíba, capital do Estado ou Fortaleza.
Não dispondo de recursos para con- tinuar seus estudos, Antonio do Souza resolveu ensinar o que aprendera. Abriu uma escola e iniciou o exercício do magistério. Fez-se professor.
Além das aulas de sua escola durante o dia, à noite, dava aulas também à meninada pobre da cidade, na Escola São Vicente de Paulo, e aos empregados no comércio, na sede da Associação dos Empregados no Comércio de Cajazeiras (AECC).
   Sob os auspícios da mocidade cajazeirense, em 1926  fundou um jor- nal esportivo sob a denominação "0 SPORT", o qual, sob sua direção, se tornou em órgão político, inde- pendente e noticioso, circunlado aos domingos. Esse jornal se manteve circulado durante 4 anos.
     Cargos que ocupou o  desempenhou a partir de 1927 até o presente ano de 1976. De 1927 a 1928, balconista das Lojas "A Pernambucana", nesta cidade. De 1928 a 1929 foi Sacristão, Tesoureiro e Secretário da Paróquia de São João do Rio do Peixe (hoje Antenor Navarro). De 1929 a 1931, professor do Instituto São Luiz, dirigido pelo Professor Hildebrando Leal.
A paixão pelos livros é bem ilustrada na
 imagem acima. Antes de entregar

Em 1932, durante 8 meses, auxiliar de es- critório na Residência de Campo da Ins- petoria Federal de Obras Contra as Secas, na rodovia Cajazeiras - Pombal. De novembro de 1932 a fevereiro de 1934, Tesoureiro da Prefeitura de Itabaiana e Diretor do Jornal Oficial do Município - "A FOLHA". De fevereiro a julho de 1934, durante 6 meses, Professor Público dos presos da Cadela Pública de João Pessoa e Censor do Governo junto á im- prensa da Oposição, na Capital do Estado. De julho de 1934 a dezembro de 1937, auxiliar de escrita no Escritório da Estação Ex- perimental de Fruticultura Tropical, do Mi- nistério da Agricultura, sediada no município de Espírito Santo, Paraíba. Em 1938 a 1939, Fiscal do Governo do Estado junto à Aca- demia de Comércio de Itabaiana. De 1940 a 1942, Redator-Secretário do jornal semanário “0 ESTADO NOVO", de Cajazeiras. De 1942 a 1944, Fiscal do DNOCS, na construção da Rodovia "TRANSNORDESTINA", trecho - Ipaumirim -Barro - Milagres - Brejo Santo - Macapá, no Ceará. Em 1945, durante 6 meses, contabilista da Prefeitura de Cajazeiras. De 1945 a 1947, Secretário da Prefeitura de Cajazeiras. Nomeado interinamente Prefeito de Cajazeiras, pelo Interventor Federal do Estado Dr. José Gomes da Silva, ocupou esse cargo durante um mês, de fevereiro a março de 1947. De fevereiro de 1948 a março de 1949, auxiliar de escrita no Escritório da Residência do DNOCS, em Catingueira, Piancó. De 1949 a 1951, Administrador da Conserva da Rodovia Central da Paraíba, trecho São Bento - Pombal - Aparecida- Sousa- São Gonçalo - Cajazeiras - Itaumirim, Ceará. Igualmente administrou, na mesma época, os serviços de conserva da rodagem do triângulo de Pombal - Jericó - Catolé do Rocha. De 1951 a 1963, Inspetor Municipal do Ensino, em Cajazeiras, cargo em cujas funções se aposentou. Desde Janeiro de 1961, Secretário do Colégio Municipal Monsenhor Constantino Vieira, cargo ainda ocupa, exercendo ainda, desde julho de 1974 as funções do Secretario da Biblioteca Pública Municipal.
    Meu tio (que orgulho!) é este homem que ora publica um livro. Não deixa descendente, dei- xa ideias. Não só descreve o passado, retra- ta, sobretudo o presente, olhando o futuro. Vê longe, sente as coisas, penetra o interior das pessoas, pois escreve com o coração na mão. ANTONIO DE SOUZA é um homem de letras, é historiador, é prin- cipalmente um CRONISTA nato.
Trata-se, portanto, de um MESTRE-ESCOLA que escreve sobre Cajazeiras em forma de crônicas.
Para justificar o título do livro, foram recolhidas, no presente volume, 78 crônicas. Existem ainda mais de uma centena de ou- tras tantas crônicas que não foram publi- cadas. São crônicas diversas abordando os mais variados assuntos. Crônicas sugestivas e deliciosas. São crônicas magistrais que tes- temunham a grandeza (vastidão e profundidade) da cultura desse Professor que enobrece Cajazeiras.


ANTONIO DE SOUZA SOBRINHO Professor da UFPb (foto)
João Pessoa, 26 de agosto de 1981.



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