Existem diversas maneiras de se conhecer uma
cidade. Possivelmente, a mais sig- nificativa é aquela que se processa através de
seus personagens. E, nesse ponto, CAJAZEIRAS é privilegiada. Padre Rolim,
Cristiano Cartaxo e ANTÔNIO DE SOUSA - só para citar una trilogia - são marcos
ex- plicativos daquela terra e daquela gente.
Hoje, conhecer Cajazeiras, é contatar com
Antônio de Souza. Ele é um acervo vivo, uma memória ambulante, um patrimônio
moral.
"Titonho" (como é familiarmente
identificado) notorializou-se (sic) como PRO- FESSOR. Na verdade, é um professor
de poucos estudos, nas de uma larga expe- riência. Aliás, o conheci
professor, nas nunca o vi dando aulas em sempre - Grupo, Colégio ou Faculdade. É que ele
é professor de uma cidade inteira.
Aqui, prefiro calar-me, pois colhi,
sorrateiramente, frag- mentos de uma sua auto- biografia, Que ele fale, en- tão:
Antônio José de Souza ou Antônio de Souza, como é vulgarmente conhecido, nas- ceu no dia 19 de outubro de 1901, no sítio Cotó, hoje si- tio Fátima, deste Município, filho legítimo de José Rai- mundo de Souza e de Leo- poldina Maria de Jesus. Es- tado civil, solteiro.
Antônio José de Souza ou Antônio de Souza, como é vulgarmente conhecido, nas- ceu no dia 19 de outubro de 1901, no sítio Cotó, hoje si- tio Fátima, deste Município, filho legítimo de José Rai- mundo de Souza e de Leo- poldina Maria de Jesus. Es- tado civil, solteiro.
Seus pais eram camponeses pobres,
descendentes da linhagem dos Gomes Albuquerque. Possuíam uma pe- quena gleba de
terra, da qual tiravam o sustento para manutenção dos seus onze filhos.
Como filho mais velho do casal, Antonio do
Souza passou a infância e a adolescência ajudando o seu pai na luta quotidiana,
no trabalho árduo da a- gricultura, nos serviço de roça, cuidando também da
pequena criação de gado vacum, caprino, ovino e suíno.
As primeiras letras, ler e escrever e a tabuada,
aprendeu com o seu pai. Em outubro de 1912, com 11 anos de idade frequentou,
nela primeira vez, uma escola particular do Mestre (Professor) Samuel
Albuquerque, que funcionava no sítio Cotó, em casa de um padrinho seu.
Frequentou a escola durante um mês. Destacou-se entre os demais alunos pelo
comportamento e pelo adiantamento das lições do Mestre, que o considerou como
um dos mais inteligentes dos seus discípulos.
Desejava estudar no Colégio. Sentia o
chamamento para a vida sacerdotal. Queria ser pa- dre. Seus pais não dispunham de
condições fi- nanceiras para custear as despesas dos estudos para sua formação
sacerdotal. Mas não esmoreceu. Com ingentes sacrifícios conseguiu amealhar
pe- quenas economias, que lhe garantiam o pagamento das despesas de um ano de
estudos no Colégio. Re- solveu abandonar a vivência grosseira da roça, deixar a casa
paterna, trocando o ambiente ma- tuto saturado de monotonia pelo convívio aberto,
agradável e comunicativo da gente da cidade, cu- jo contato transmitia alegria e
um pouco de educação social. E isso já era alguma coisa.
Em fevereiro de 1922 ingressou no Colégio
Padre Rolim como aluno externo, matriculando-se no Curso Primário, que era
feito em três séries, concluindo em 1923. Em 1924 iniciou o Curso Ginasial,
que, naquele tempo, por deficiência pedagógica, o Colégio mantinha apenas as
duas primeiras séries, ou seja, a metade do Curso. Em 1925 concluiu a série ginasial.
Os alunos filhos de pais abastados que tinham condições para concluir o Curso,
deslocavam-se para Recife, Paraíba, capital do Estado ou Fortaleza.
Não dispondo de recursos para con- tinuar seus
estudos, Antonio do Souza resolveu ensinar o que aprendera. Abriu uma escola e
iniciou o exercício do magistério. Fez-se professor.
Além das aulas de sua escola durante o dia, à
noite, dava aulas também à meninada pobre da cidade, na Escola São Vicente de
Paulo, e aos empregados no comércio, na sede da Associação dos Empregados no
Comércio de Cajazeiras (AECC).
Sob os auspícios da mocidade cajazeirense, em
1926 fundou um jor- nal esportivo sob a denominação "0 SPORT", o qual, sob sua
direção, se tornou em órgão político, inde- pendente e noticioso, circunlado aos
domingos. Esse jornal se manteve circulado durante 4 anos.
Cargos que ocupou o desempenhou a partir de 1927 até o
presente ano de 1976. De 1927 a 1928,
balconista das Lojas "A Pernambucana", nesta cidade. De 1928 a 1929 foi
Sacristão, Tesoureiro e Secretário da Paróquia de São João do Rio do Peixe
(hoje Antenor Navarro). De 1929 a 1931, professor do Instituto São Luiz,
dirigido pelo Professor Hildebrando Leal.
A paixão pelos livros é bem ilustrada na imagem acima. Antes de entregar |
Meu tio (que orgulho!) é este homem que ora
publica um livro. Não deixa descendente, dei- xa ideias. Não só descreve o
passado, retra- ta, sobretudo o presente, olhando o futuro. Vê longe, sente as
coisas, penetra o interior das pessoas, pois escreve com o coração na mão.
ANTONIO DE SOUZA é um homem de letras, é historiador, é prin- cipalmente um CRONISTA
nato.
Trata-se, portanto, de um MESTRE-ESCOLA que
escreve sobre Cajazeiras em forma de crônicas.
Para justificar o título do livro, foram
recolhidas, no presente volume, 78 crônicas. Existem ainda mais de uma centena
de ou- tras tantas crônicas que não foram publi- cadas. São crônicas diversas
abordando os mais variados assuntos. Crônicas sugestivas e deliciosas. São
crônicas magistrais que tes- temunham a grandeza (vastidão e profundidade) da
cultura desse Professor que enobrece Cajazeiras.
João Pessoa, 26 de agosto de 1981.
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