Por
Francisco Frassales Cartaxo
O cardeal Arcoverde é nome de praça em
Cajazeiras. Mais do que isso, em Pernambuco é nome de município, que se chamava
Rio Branco, em honra ao Barão do Rio Branco, e virou Arcoverde, homenagem ao filho
ilustre nascido na fazenda Fundão, propriedade de seu pai, Antônio Francisco de
Albuquerque Cavalcanti, conhecido como capitão Budá. Joaquim Arcoverde de
Albuquerque Cavalcanti (1850-1930), ainda menino quase rapaz, veio estudar no
colégio do padre Rolim. Pouco tempo depois de concluir os preparatórios viajou
para a Europa. Por isso, o cardeal Arcoverde ligou-se para sempre a Cajazeiras.
Mas não fica apenas no estudo. Colega de Cícero Romão Batista no famoso colégio
do padre Rolim, os dois tomaram rumos diferentes. Joaquim Arcoverde estudou em
Roma e na França. Voltando ao Brasil, fez-se vigário e professor em Pernambuco.
E bispo em São Paulo e no Rio.
Quando se espalhou a notícia dos
“milagres do Juazeiro”, em 1889, a hóstia banhada em sangue na língua da beata
Maria de Araújo, Arcoverde não gostou nada de saber que padre Cícero estava no caminho
da perdição, como então era considerado pela hierarquia da Igreja o desvio
trilhado pelo também ex-aluno do padre Rolim. Entre outras atitudes e ações
contra padre Cícero, o bispo Arcoverde encaminhou à Congregação do Santo Ofício
(Inquisição) informações críticas a respeito dos “falsos milagres”. Isso é o
que admite o pesquisador americano Ralph Della Cava, especulando ainda que: “É
possível que Arcoverde tenha também solicitado uma ação enérgica por parte de
Roma a fim de destruir Joaseiro, assim como ele havia aconselhado d. Joaquim a
fazer, em dezembro de 1891.” De fato, Joaquim Arcoverde criticou com dureza o
seu xará, dom Joaquim Vieira, bispo do Ceará, por não ter cortado as raízes com
ato enérgico, porque “aí no Joaseiro o ridículo é o caráter predominante. Por
conseguinte, nada há ali de divino,” conforme carta transcrita por Della Cava,
em seu livro Milagre em Joaseiro, o mais completo estudo sobre padre Cícero.
Que interesse tem isso?
Interesse histórico. Este ano a diocese
de Cajazeiras festeja o seu primeiro centenário e, até agora, não encontrei
nenhuma referência explícita ao papel desempenhado pelo cardeal Joaquim Arcoverde
na decisão da Igreja de escolher Cajazeiras para sede da segunda diocese em
território paraibano. Não li nem ouvi citação expressa, porém, ando farejando sua
influência, quando nada, na estratégia traçada para a criação de novas dioceses
no Brasil republicano, após o catolicismo deixou de ser a religião oficial.
Arcoverde conviveu com alguns dos mais
importantes personagens dos “milagres do Juazeiro”. Além de padre Cícero, ele
conheceu o padre Francisco Monteiro, o intelectual José Marrocos, que também foi
seu professor, além de outros participantes ativos nos episódios protagonizados
por padre Cícero e Maria de Araújo. Ora, Arcoverde foi padre, bispo, arcebispo
em São Paulo e no Rio de Janeiro, antes de ser nomeado , em 1905, o primeiro
cardeal da América Latina quando, já estava em plena execução o plano de
reestruturação da Igreja no Brasil. Bem articulado dentro e fora da Igreja, a
voz de Joaquim Arcoverde deve ter-se levantado a favor da criação da diocese de
Cajazeiras.
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