Eram tempos de obscuridade. Não havia li- berdade de pensamento. Eu morava no Maranhão, mas todos os anos eu vinha para a Semana Universitária e, invariavelmente trazia al- guns amigos maranhenses. O rancho ou era na casa do Tio Waldemar ou na casa de papai se ele tivesse e- xercendo mandato político e consequentemente com residência na boa terra.
Numa destas, não dar para precisar bem o ano, houve um quiprocó dos diabos na SORVEDRINKS (corrijam-me se não era o nome do Bar da Dorinha Montenegro) na esquina da Rua Tenente Sabino com a Travessa Francisco Bezerra (rua do antigo Hotel Oriente).
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Era a deixa que Bosco Barreto precisava. No outro dia, passou a usar todos os meios disponíveis para desancar o arbitrário chefe de polícia. E o fato tomou dimensões tais que o então Secretário de Segurança do Estado veio a Cajazeiras tentar por panos mornos no episódio.
O Secretário de Segurança decidiu ir atè a casa da Dorinha para ouvi-la sobre o entrevero. Eu e os amigos do Maranhão estávamos na casa do Tio Waldemar quando ouvimos a Rádio Alto Piranhas que que estava cobrindo todo o imbróglio, anuncia (ficava da Sorvdrinks logo depois [já esquina da travessa com a Rua Juvêncio Carneiro). Bosco, matreiro, vai também. E o Secretário começa ao vivo pelas ondas da rádio falar com a Dorinha, à guisa de desculpas, e Bosco se intrometendo com as mais variadas diatribes! Conseguiu o que queria! O secretário cai na esparrela de indagar ao Bosco o que ele tinha feito à Cajazeiras. Não deu outra, Bosco en- diabrado pega o microfone da rádio e inflamado começa o seu discurso dra- mático:
- O que é que fiz, o que é eu que faço, Cajazeiras...?
- Lutar contras as arbitrariedades da truculência...
- O que é que fiz, o que é eu que faço, Cajazeiras...?
- Lutar contra o Decreto 447 que cerceia a liberdade de expressão dos estudantes brasileiros.
E assim continuou com as catilinárias contra o regime, comportamento não usual e nem tolerado pelos militares.
Acostumado eu às obsequiosas abstinências políticas partidárias já que morava no Maranhão, este homogêneo politicamente sob à liderança do eterno José Sarney, fiquei deveras arrepiado com a ousadia do conterrâneo. Impressionou o audaz político.
Era o auge da carreira brilhante, mas efêmera do líder Bosco Barreto.
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