Por Francisco Frassales Cartaxo
No próximo dia 6 Francisco Matias Rolim será alvo de
homenagens ao completar 90 anos de idade. Muito justo. Quase um século de
calmaria? Que nada. Uma vida cheia de altos e baixos, de idas e vindas, no
plano comercial, político, emocional e familiar. Quem o conhece de perto ou
acompanha sua trajetória me dará razão. Os que não o conhecem, mas passaram a
vista no “Miolo do Sertão: A história de Chico Rolim contada a Sebastião
Moreira Duarte” têm uma ideia da sinuosidade dos caminhos percorridos por esse
matuto do Olho d’Água do Melão. Embora nesta última hipótese, a biografia
assuma forma narrativa impregnada do viés literário do autor. Pouco importa. O
matuto foi um vencedor.
É bem verdade que Chico se arrependeu de ter
contribuído para algumas lutas vitoriosas. Empolgado com sua estreia na
“sociedade” cajazeirense, Chico Rolim engrossou a corrente formada nos meados
do século 20 para construir a sede do Cajazeiras Tênis Clube, justo no local da
casa onde se originou a cidade. E não era uma casa qualquer. Nela estavam as
marcas da mãe do padre Rolim. Para destruí-la inventaram um falso dilema:
tradição versus progresso. Quem era contra a derrubada da casa pioneira
representava o atraso. Os defensores de sua destruição fizeram-se paladinos do
progresso. Afinal, tratava-se de uma casa velha... e pobre. O clube da elite seria
novo e moderno e rico.
Puro veneno. A falsa opção serviu para encobrir
idiossincrasias e, de certa maneira, fustigar a Igreja. Casa e igreja sendo parte
da mesma vertente histórica. Hildebrando Assis, então jovem advogado, deputado
estadual foi o mentor do crime. Aliás, de dois crimes contra a história.
Primeiro, mudar o nome do Clube Oito de Maio para Cajazeiras Tênis Clube. O 8
de maio lembra o fim da Segunda Guerra Mundial, a vitória da democracia contra o
nazismo, portanto, é história da humanidade. E ainda escolheram o nome de um
esporte totalmente alheio aos costumes sertanejos. Que alienação! O outro crime,
mais modesto, foi a “destruição de uma relíquia”, como a qualificou Chico
Rolim, ao anunciar o arrependimento, 40 anos depois de praticá-lo, na condição
de cúmplice de Hildebrando Assis.
Por um triz, não ocorreu um crime derivado, a morte
por enfarto de Cristiano Cartaxo, que sequer teve a solidariedade de Deusdedit
Leitão na tentativa de evitar a “loucura iminente”. Mais tarde, em momento infeliz,
Deusdedit justificaria sua posição usando o argumento, sussurrado baixinho, de ser
a casa muito modesta para a grandeza de Mãe Aninha... Coube a Chico a dignidade
de proclamar bem alto seu próprio erro.
Chico Rolim teve na política uma ascensão meteórica.
Vereador pelo Partido Social Democrático (PSD), em 1959, e prefeito quatro anos
depois, pela legenda da União Democrática Nacional (UDN), quando venceu três
concorrentes: Acácio Braga Rolim, Raimundo Ferreira, e o major Zé Leite, das
Areias. Na época, estudante de direito na Bahia, em férias, no dia da chegada a
Cajazeiras subi no palanque de Raimundo e lancei um slogan que provocou o maior
rebu na família. Mas isso é outra história. Hoje o homenageado é Chico Rolim em
seus 90 anos de atribulada vida. Homenagem justa, merecida.
P S – Li e reli esta crônica para um amigo. Ele deu
uma gargalhada: bem feito, foi castigo, com menos de 50 anos o Tênis Clube envelheceu...
E só resiste graças à tenacidade de Rubismar Galvão, aliás, preocupado em
manter a tradição...