sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Chico Rolim e seus 90 anos

 Por Francisco Frassales Cartaxo
No próximo dia 6 Francisco Matias Rolim será alvo de homenagens ao completar 90 anos de idade. Muito justo. Quase um século de calmaria? Que nada. Uma vida cheia de altos e baixos, de idas e vindas, no plano comercial, político, emocional e familiar. Quem o conhece de perto ou acompanha sua trajetória me dará razão. Os que não o conhecem, mas passaram a vista no “Miolo do Sertão: A história de Chico Rolim contada a Sebastião Moreira Duarte” têm uma ideia da sinuosidade dos caminhos percorridos por esse matuto do Olho d’Água do Melão. Embora nesta última hipótese, a biografia assuma forma narrativa impregnada do viés literário do autor. Pouco importa. O matuto foi um vencedor.
É bem verdade que Chico se arrependeu de ter contribuído para algumas lutas vitoriosas. Empolgado com sua estreia na “sociedade” cajazeirense, Chico Rolim engrossou a corrente formada nos meados do século 20 para construir a sede do Cajazeiras Tênis Clube, justo no local da casa onde se originou a cidade. E não era uma casa qualquer. Nela estavam as marcas da mãe do padre Rolim. Para destruí-la inventaram um falso dilema: tradição versus progresso. Quem era contra a derrubada da casa pioneira representava o atraso. Os defensores de sua destruição fizeram-se paladinos do progresso. Afinal, tratava-se de uma casa velha... e pobre. O clube da elite seria novo e moderno e rico.
Puro veneno. A falsa opção serviu para encobrir idiossincrasias e, de certa maneira, fustigar a Igreja. Casa e igreja sendo parte da mesma vertente histórica. Hildebrando Assis, então jovem advogado, deputado estadual foi o mentor do crime. Aliás, de dois crimes contra a história. Primeiro, mudar o nome do Clube Oito de Maio para Cajazeiras Tênis Clube. O 8 de maio lembra o fim da Segunda Guerra Mundial, a vitória da democracia contra o nazismo, portanto, é história da humanidade. E ainda escolheram o nome de um esporte totalmente alheio aos costumes sertanejos. Que alienação! O outro crime, mais modesto, foi a “destruição de uma relíquia”, como a qualificou Chico Rolim, ao anunciar o arrependimento, 40 anos depois de praticá-lo, na condição de cúmplice de Hildebrando Assis.
Por um triz, não ocorreu um crime derivado, a morte por enfarto de Cristiano Cartaxo, que sequer teve a solidariedade de Deusdedit Leitão na tentativa de evitar a “loucura iminente”. Mais tarde, em momento infeliz, Deusdedit justificaria sua posição usando o argumento, sussurrado baixinho, de ser a casa muito modesta para a grandeza de Mãe Aninha... Coube a Chico a dignidade de proclamar bem alto seu próprio erro.
Chico Rolim teve na política uma ascensão meteórica. Vereador pelo Partido Social Democrático (PSD), em 1959, e prefeito quatro anos depois, pela legenda da União Democrática Nacional (UDN), quando venceu três concorrentes: Acácio Braga Rolim, Raimundo Ferreira, e o major Zé Leite, das Areias. Na época, estudante de direito na Bahia, em férias, no dia da chegada a Cajazeiras subi no palanque de Raimundo e lancei um slogan que provocou o maior rebu na família. Mas isso é outra história. Hoje o homenageado é Chico Rolim em seus 90 anos de atribulada vida. Homenagem justa, merecida.
P S – Li e reli esta crônica para um amigo. Ele deu uma gargalhada: bem feito, foi castigo, com menos de 50 anos o Tênis Clube envelheceu... E só resiste graças à tenacidade de Rubismar Galvão, aliás, preocupado em manter a tradição... 




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