Por Lena Guimarães
Permitam-me
deixar a política de lado, para homenagear a “cidade que ensinou a Paraíba a
ler”, titulo conquistado por conta do trabalho de seu mais ilustre filho, o
Padre Rolim, fundador de primeira escola dos sertões, cuja qualidade atraia
alunos de todo o Nordeste. Minha Cajazeiras completa hoje 150 anos.
Sou
da terra que tem orgulho da sua vocação para a educação. Nasci na rua Padre
Rolim, 7, uma casa com paredes de mais de meio metro de largura, construída
pelos descendentes da matriarca ‘Mãe Aninha’, para enfrentar qualquer tipo de
agressor, e que resistiu aos cercos e as balas de Lampião.
Uma
casa de muitas histórias, algumas de muita bravura, outras que expressavam o
espírito generoso e altivo do sertanejo, que meu avô, Leonardo Rolim de
Albuquerque contava com muito orgulho dos seus ancestrais. Um lar cristão, que
hospedava anualmente Frei Damião durante suas célebres missões, para alegria de
minha avó, Júlia, que ‘bebia’ seus ensinamentos. Um refúgio, em cuja ampla mesa
sempre cabia mais um. E ninguém precisava de convite para sentar e
compartilhar.
Fisicamente
estou em João Pessoa, mas hoje a memória transporta-me a Cajazeiras do rio do
Peixe, do açude grande, da barragem de Engenheiro Ávidos, do Cristo Redentor
(tão significativo quanto o do Rio), da catedral imponente, da bela igreja de
Nossa Senhora de Fátima. A cidade dos grandes carnavais, dos memoráveis
festejos de São João, das quermesses e procissões que testemunham a importância
da fé, do teatro Íracles Pires e da efervescência cultural.
Terra
de fortes opiniões, formadora de grandes profissionais da comunicação,
especialmente do rádio e da televisão, muitos dos quais mudaram para João
Pessoa trazendo o estilo ágil e ousado para enriquecer seu jornalismo.
Cajazeiras
que já governou a Paraíba com Ivan Bichara Sobreira e que elegeu o corajoso
deputado João Bosco Braga Barreto, que enfrentou a ditadura militar e seus
apoiadores com discursos contundentes, destemidos e verdadeiros, que estão nos
anais da Assembleia.
No
ciclo do algodão, Cajazeiras foi muito próspera, mas o bicudo destruiu tudo. A
agricultura irrigada é um sonho, a educação projeta seu futuro, mas é o seu
povo, indomável e criativo, sua grande riqueza. Os 150 de história provam isso.
E dão um orgulho danado.
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