por Francisco
Frassales Cartaxo
|
Serra da Arara |
Há muito tempo se fala na
existência de jazidas ferro em Cajazeiras. Coisa an- tiga. De novidade se tem a
presença entre nós, neste começo de século 21, de pes- quisadores de empre- sas estrangeiras
e a expectativa favorável que gera em parte da população. E também um olhar
descrente de muitos. A especulação vem de longe, de muito longe. Foi até objeto
de anúncio oficial ufanista feito pelo presidente da província da Parahyba do
Norte, Ambrósio Leitão da Cunha, em Relatório ao sucessor, no longínquo ano de
1860. Isso mesmo, 1860, quando Cajazeiras não havia sequer adquirido o status
de vila. Portanto, era apenas um distrito do município de Sousa, embora já fosse
sede de paróquia, a de Nossa Senhora da Piedade, criada por Lei de 29/08/1859,
assinada pelo próprio Leitão da Cunha.
Ambrósio Leitão da Cunha era
paraense. Presidiu também as províncias do Pará, Pernambuco, Bahia e Maranhão. Exerceu
mandatos de deputado geral e senador. E foi ministro no regime parlamentar
imperial. Governou a Paraíba de 4 de junho de 1859 a 13 de abril de 1860. Neste
curto espaço de dez meses, teve o privilégio de recepcionar o imperador Pedro
II, na única visita do monarca à Paraíba. Em seu Relatório de prestação de
contas, datado de 13 de abril de 1860, ele dedica um item à “Comissão
Científica”, para anunciar a boa-nova aos paraibanos:
“O governo imperial, solícito como é pelo desenvolvimento imperial e
engrandecimento futuro do nosso país, mandou uma Comissão Científica, composta
por homens profissionais, estudar e explorar o interior deste vasto e rico
Império, tão pouco conhecido ainda no domínio das ciências.” “O chefe da sessão geológica desta Comissão,
Dr. Guilherme S. de Capanema, seguindo em sua excursão científica da província
do Ceará certas camadas e formações geológicas, atravessou o Termo de Sousa, e
no lugar denominado Patamuté, pouco distante daquela cidade, descobriu uma mina
abundante de ferro magnético, quase puro, e de excelente qualidade, que,
segundo a informação recebida, em nada tem a invejar a melhor qualidade do
ferro d’Alba e da Suíça.” “A comunicação
desta importante descoberta constitui o assunto de ofício que, com data de 26
de fevereiro deste ano, tive a satisfação de receber hoje, e me foi dirigido da
cidade de Sousa pelo chefe da sessão etnográfica, Dr. Antonio Gonçalves Dias.”
E prossegue o então
governante da Paraíba em lamentos pela ausência de pormenores acerca da notável
descoberta, mas, ainda assim, faz a apologia do uso do ferro, aponta
dificuldades de “concorrer nos mercados
da Europa com o ferro estrangeiro; convém, todavia, nacionalizar-se uma
indústria que, em pequena escala pode abastecer nosso mercado de ferro de boa
qualidade” etc.etc.
Como é fácil deduzir, o presidente
Leitão da Cunha queria mesmo era faturar a notícia numa jogada de marketing à
moda antiga, porém, muito próxima das comunicações feitas com estardalhaço, em
nossos dias, por políticos, sempre prontos a enganar a população, com promessas
mirabolantes. Às vezes, fantasiosas, como fez, apressadamente, o presidente Ambrósio
Leitão da Cunha, ao comparar o ferro de Patamuté com o da Europa e considerá-lo
de igual qualidade, muito embora tivesse baseado suas afirmativas em dados
preliminares contidos num simples ofício de um profissional que sequer tivera condições
de analisá-los com cuidado...