A
minha Cajazeiras das décadas de (60/70) tinha mais ou menos cinco bairros, além
do centro. São eles: Belo Horizonte (Alto Cabelão), Santa Cecília, Capoeiras e
os Remédios. Praticamente quase todas as ruas eram calçadas com paralelepípedos
e isso fazia com que a temperatura média de 35 graus, se tornasse um calor
muito forte. Naquele tempo não existia nenhuma rua asfaltada. Hoje, Cajazeiras
tem 24 bairros.
“cai, cai tanajura, tua mãe tá na gordura” |
Tripes - a Lacerdinha |
Praça do Espinho |
Lembro-me
ainda que eu e meus irmãos pegávamos frutas nos muros das casas vizinhas a
nossa. É claro, com autorização. No muro da casa de seu Esmerindo Cabrinha,
tinha um pé muito grande de cajarana. Na casa de seu Bernardo Batista, tinha
pés de goiabas. Já na casa de seu Zezinho Macedo, tinha pés de siriguela. No
muro da casa de seu Zé Cartaxo tinha cajá. Nos fundos do Colégio Diocesano
Padre Rolim tinha um plantio muito grande de pés de manga, goiaba e pinha.
Tinha um ditado que dizia: “pular o muro e roubar fruta para chupar é mais
gostosa”. Eu já fiz essa traquinagem no muro desse colégio.
Em
Cajazeiras tinha uma lavanderia pública, muito grande, que ficava próxima ao
curtume - (comércio de couros de boi) - de Ulisses Mota, na zona sul da cidade,
onde hoje está localizado o bairro Por do Sol. Esse local era numa estrada
vi- cinal de terra a- vermelhada, próximo ao Colégio Diocesano. Lá tinha muitos pés
de uma frutinha que se chamava canapu. Era uma fruta bem docinha e macia. Essa
planta ficava encravada junto aos pés de carrapicho. Tinha também uma plantação
muito grande de avelóz que ficava nas margens da estrada. Avelóz é um látex
irritante que se não tiver cuidado pode queimar a pele.
Naquela
época, devido a não existência de violência, à vista do que é hoje, muitas
pessoas dormiam com janelas abertas em decorrência do calor e além das
muriçocas, que dominavam o clima quente à noite, tinha também o inseto Paederus
irritans, conhecido como potó. Quem nunca foi mijado pelo potó? Ele sempre
aparecia em períodos finais de chuva. Ele mijava mais nos braços ou no pescoço
deixando nossa pele muito vermelha. Quando isso ocorria, a gente colocava pasta
dental para refrescar a pele.
Nos
anos sessenta, em Caja- zeiras, era comum as pessoas se encontrarem nas ruas,
igrejas, comércios e outros locais públicos. Se eu encontrasse meus tios ou meu
padrinho quantas vezes fosse por dia, eu tomava a bênção. Tio Raimundo Martins
(Titio) era o que mais agradava a mim e meus irmãos sempre com uns trocados, e
aí nossa intenção era aventurar umas moedinhas de centavos de cruzeiro para
gastar nos brinquedos do Parque Lima, e ainda chupar rolêtes, ou comer amendoim
torrado vendido nas banquinhas, que vinha enrolado no papel de embrulho em
forma de funil, e ainda a pipoca do senhor Tinino, um senhor negro, alto, magro
e muito risonho. As crianças passavam dias, semanas ou meses sonhando com
aquelas luzes coloridas da roda gigante
do Parque Lima. O Lima era de Caicó (RN). Lembro-me da chegada em Cajazeiras
dos caminhões do Parque Lima carregados de brinquedos, a exemplo dos
cavalinhos, trenzinho em forma de cobra, carros bate-bate, aviões que faziam
barulho de aviões mesmo, mas sem causar acidente, e ainda a roda gigante. Nós,
a meninada, corríamos para a Praça entre
as ruas Higino Rolim e Souza Assis, para ver o descarregamento e, em seguida,
observar o trabalho dos empregados montando os brinquedos, mas o que mais chamava
atenção era a montagem da roda gigante. A roda gigante com aquela armação de
ferro sustentada por uma centena de parafusos grandes, cabos de aço, e com um
conjunto de doze cadeiras pintadas em cores vivas, uma cor para cada cadeira.
Tinha também as barracas do ‘tiro ao alvo’, onde se ganhava pequenos brindes
para quem derrubasse o patinho que passava bem devagarzinho por cima de um
tablado; o jogo de argolas, entre outros. Para os adolescentes – rapazes e
moças - com hormônios a flor da pele, era a oportunidade da primeira namorada,
que poderia vir através dos recados das difusoras do Parque Lima e às vezes o
anúncio para localizar crianças que se perdiam. Quando a roda gigante parava
para alguém descer ou para alguém embarcar, os casais que estavam nas cadeiras
lá de cima ficavam naquele amasso. As músicas ali tocadas para os casais
apaixonados, eram Nelson Ned, Agnaldo Timóteo, Wanderley Cardoso, Jerry Adriani
e outros mais.
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PEREIRA FILHO
jfilho@ebc.com.br
Radialista
Rádio Nacional AM Brasília
Adorei!Parabens.
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