domingo, 21 de abril de 2013

Netos do major Higino Rolim

Por Francisco Frassales Cartaxo
Higino Rolim é nome de rua em Cajazeiras. Paralela à Rua Epifânio Sobreira é uma ruela que vai do balde do Açude Grande à Praça Nossa Senhora de Fátima. Higino Gonçalves Sobreira Rolim e Epifânio Gonçalves Sobreira Rolim eram irmãos. Filhos do mestre-escola Francisco Gonçalves Sobreira e Josefa Maria da Conceição, so- brinha do padre Rolim. Higino estudou com seu tio padre. Mais tarde deu aulas de Latim no colégio famoso do seu tio avô, que fez seu casamento com a viúva Ana Antônia do Couto Cartaxo no sítio Prensa em 1886. Tiveram apenas dois filhos: Cristiano e Crisantina (Cartuxinha). Os netos foram 20, somados os 14 filhos dos dois casamentos de Cristiano e os 6 de Cartuxinha com Galdino Pires Ferreira. Dois dos netos do major Higino herdaram seu nome. O de apelido Gineto, o mais conhecido, está na fachada do Estádio Higino Pires Ferreira. E seria muito mais famoso se Bosco Barreto não tivesse melado judicialmente sua candidatura a prefeito de Cajazeiras, ensejando a eleição de Antônio Quirino em 1972. Não fora isso, Gineto teria sido o cara, muito embora o neto querido sempre foi o mais velho, médico Waldemar Pires Ferreira.
E o outro neto de nome Higino? O outro é o sexto dos 12 filhos do poeta Cristiano Cartaxo e Isabel Sales de Brito. Viúvo, Cristiano enamorou-se de uma linda menina de 16 anos. Amor roxo. Um poema impregnado de paixão todo santo dia... No final de 1921 casaram-se, ele com o dobro da idade da noiva. A cada ano faziam um filho. Higino, o sexto, nasceu em 1929, dois anos antes de morrer o avô.
Cristiano recebeu herança vultosa, mas era mão aberta. Formado em Farmácia, no Rio, em 1913, o pai, dono de imóveis urbanos e rurais, e de uma botica desde 1875, queria o filho à frente do negócio. Por isso, interrompeu o curso de medicina na Bahia. Errou. Erraram os dois. Cristiano era mais chegado a versos, a longos papos na farmácia. Ajudava os pobres. Em época de seca, de epidemias, de calamidade pública, trabalhava de graça. Na seca de 1942 já eram dez os filhos de Isabel, menores de 20 anos! Muita boca para alimentar. Receitas minguantes. Ativos fixos herdados sem a valorização e a liquidez de hoje. Cumpri-se então o ritual seguido por famílias católicas numerosas daquele tempo: um filho padre. Higino, coroinha dos padres salesianos, foi escalado, justo na penugem dos pentelhos...
Poucos anos depois, caminho quase igual percorreria a irmã Isabel. Ela foi até o fim da linha, fez-se freira salesiana, hoje aposentada. E feliz.
Higino, o neto, após 10 anos de estudo e tirocínio com os salesianos tomou a decisão traumática, acossado pela sua consciência: saiu do refúgio onde se abrigara dos pecados do mundo e das nefastas consequências da seca. Este mundo cá fora, no entanto, era cruel. Livre, mas perverso. Cheio de maldades, de trilhas sombrias, falsas veredas, emboscadas e bacamartes. E Higino, coitado, de baladeira na mão! Só. Sozinho no Recife de rios fétidos e lamacentos. A força moral e muita coragem o salvaram. Os sonhos adolescentes submersos no estudo, em rezas, mortificações no seminário afloraram de novo. Já homem feito, desajeitado em trajes civis, visitou Cajazeiras. Cadê a paixão cajazeirense dos doze anos? Sumiu. Cadê a prima por quem tanto suspirara? Casou. E as fantasias acasaladas pelo calor do sertão? O vento levou. Higino só redescobriu Cajazeiras, muito tempo depois, pelas mãos da filha Gardênia, casada com John Kennedy. Aí, já é outra história.

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