Sempre
aprendemos em criança que desobedecer não é um bom caminho. Os castigos de Deus
vêm indubitavelmente como um aviso que é preciso obedecer aos meus velhos. Mas
qual criança quer concordar livremente com isto. Acho que o gozo da sensação da
desobediência é maior do que os rigores dos castigos, humanos e divinos.
Eu tive duas
mães. Bom... não sei! Ser vigiado duplamente não é uma coisa tão maravilhosa.
Ambas eu as amei e amo. Ambas distantes por desígnios do nem sempre
compreensível destino. A primeira por não habitar este mundo. A segunda,
antevendo que ela seria a cizânia do meu casamento, abdicou de morar quando
tive a minha primeira comigo. Preferiu, e até hoje, mora com minha irmã caçula.
Mas voltando a
desobediência. A segunda me levou para
tomar banho no açude da Arara. Sítio do meu avô, o meu Éden infantil. Menino
não se cansa e, infelizmente, os mais velhos são danados para se cansar.
Dazima, eis o nome da segunda, já enfastiada do pastoreio, começa a me chamar
para ir embora, ou melhor, voltar para casa do meu avô, a casa-grande do sítio,
como nós lá chamamos fazenda. E cadê eu acatar o pedido. Ralhando ele me diz
que ia me deixar sozinho e me desejando que uma alma me aparecesse. Na verdade,
a beira do açude ficava na parte baixa e ela ficou me espreitando detrás de um
juazeiro próximo ao açude.
O sentimento
da liberdade me deixou feliz como um passarinho que foge da gaiola, mas não
sabe mais enfrentar o mundo livre depois de tanto cativeiro. Nado à vontade,
dando os meus cangapés solitários, quando... sinto o meu pé bater em algo
sólido no meio da grácil água do açude! Quando emergi para ver o que era aquele
sólido, apavorado vi um caixão de defunto correndo e se afastando de mim, não sabia
se foi pelo pontapé que recebeu ou se fugiu para me avisar que, desta vez, não
me faria mal pela minha inobediência...
Faltou
coragem, mas não faltou perna para correr, até o calção ficou lá na beira do
açude...
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